ECONOMIA: Retomada será mais lenta do que esperam os otimistas, afirma Mendonça de Barros
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- Criado em Quarta, 28 Novembro 2018 08:31
A retomada do crescimento sustentado da economia "vai demorar mais do que os otimistas estão imaginando, mas é possível". A avaliação é do economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados. Ele falou nesta terça-feira (27/11) sobre cenário político e econômico e perspectivas para o Brasil na abertura do Encontro das Indústrias de Café (Encafé), em Punta del Este.
Reformas - Para Mendonça de Barros, além do desafio de enfrentar a desaceleração da economia global, o governo eleito terá de avançar nas reformas, como a da Previdência, já no primeiro semestre, para reduzir a dívida pública. "O período-chave é o primeiro semestre de 2019. Se no primeiro semestre estiver aprovada ou muita avançada a reforma, o cenário será muito favorável. O mercado ficará otimista, algum investimento voltará. Se chegar derrapando, ou se chegar sem conseguir avançar, certamente vai ser desfavorável."
Inexperiência - Avançar com as reformas, porém, não será tarefa fácil diante da inexperiência dos membros do novo governo, avaliou. "O que chama atenção é que o novo presidente, o superministro e o chefe da Casa Civil não têm nenhuma experiência de governo", disse. Essa inexperiência vai cobrar "certo preço", acrescentou. "Já tivemos alguns exemplos, de trombadas com Eunício [Oliveira] no Senado", observou em referência à aprovação do ajuste para o Judiciário, que deve ter impacto fiscal.
Agenda econômica - Mendonça de Barros elogiou a agenda econômica do novo governo, mas disse que é "uma pauta difícil de fazer", uma vez que necessita de consenso. Assim, avaliou, a retomada "vai depender da capacidade desse grupo de conseguir levar adiante essa pauta". Para ele, "nos cabe é torcer para que isso avance".
Dólar - Para ele, uma "derrapada" das reformas também terá efeito sobre o comportamento do dólar. "Grosseiramente, podemos dizer que, se governo novo conseguir aprovar a Previdência, o dólar deve ficar entre R$ 3,60 e R$ 3,70. Se não conseguir, pode voltar a superar R$ 4,00."
PIB - Diante do que ele chama de "cenário mais realista", sua consultoria prevê crescimento de 2,2% para o PIB em 2019, não muito acima do 1,6% estimado para o ano. "Não dará tempo para o novo governo aprovar coisas o suficiente pra fazer com que o PIB no ano que vem seja muito maior do que isso."
Avanço mais sustentado - E um avanço mais sustentado a partir de 2020, com crescimentos de 2,5% a 3% para o PIB, vai depender do que ocorrer no primeiro semestre do próximo ano, reiterou.
Medidas - Para melhorar a situação fiscal do Brasil, que tinha em setembro uma dívida bruta equivalente a 77,2% do PIB, permitindo a recuperação sustentável da economia, Mendonça de Barros defendeu medidas "que ataquem as despesas, de tal forma que o crescimento da dívida pública deixe de ser flecha em direção ao infinito".
Investimentos - Além do ajuste fiscal, defendeu a retomada do investimento no país e lembrou que o investimento público em infraestrutura é o menor desde 1950, devido à situação fiscal do governo federal e dos Estados. "Só pode crescer por meio de investimento em infraestrutura hoje em energia e logística, e só pode ser por meio de concessões e privatizações."
Horizonte positivo - Ainda que haja incertezas no exterior, o economista considera que o horizonte é positivo no Brasil graças ao cenário de inflação baixa, projetada em 4% para este ano, e de um setor externo robusto, com o saldo comercial na casa dos US$ 60 bilhões e reservas de US$ 380 bilhões.
Global players - "Nosso horizonte é positivo. É verdade que vamos nos debater com cenário internacional um pouco pior. Mas é possível navegar desde que na política externa não prevaleça a ideologia", disse. Ele classificou como "infelizes" a ideia de mudar a embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e o movimento de "afrontar" a China. "Somos global players. Nos relacionamos como o mundo inteiro, e isso não pode se perder. (Valor Econômico)