BRASIL II: Quadro sinaliza inflação baixa para início de mandato
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- Criado em Quinta, 27 Dezembro 2018 08:27
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, terá a inflação como outro indicador favorável no primeiro ano de seu governo. Segundo economistas, uma série de fatores vai garantir mais um ano de preços controlados, considerando o histórico brasileiro, ainda que um pouco mais altos do que os de 2018. O quadro formado por retomada lenta da atividade, melhora do cenário hidrológico, pressão menor do câmbio e baixa inércia do ano anterior deve levar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a encerrar 2019 com aumento próximo de 4,2%. O índice oficial de inflação tende a ficar, portanto, ligeiramente abaixo da meta definida para o período, de 4,25%.
Menor alta - Se confirmadas as projeções dos analistas consultados pelo Valor - que vão de avanço de 3,5% a 4,5% -, esta será a menor alta do indicador para primeiros anos de mandatos presidenciais desde 1994, início da vigência do Plano Real. Mesmo assim, o IPCA terá alguma aceleração em relação a este ano, quando deve fechar em 3,7%, de acordo com a estimativa mediana do boletim Focus, do Banco Central.
Cálculos - Nos cálculos de Fabio Romão, da LCA Consultores, o indicador oficial de inflação vai passar de 3,7% para 4,2% entre 2018 e 2019, puxado por preços um pouco maiores de alimentos e serviços. Com peso de quase 25% no IPCA, o grupo alimentação e bebidas deve subir 5,2% no próximo ano, 1,4 ponto percentual acima do esperado para este ano, afirma Romão.
El Niño - Meteorologistas preveem que o fenômeno climático El Niño deve se formar em 2019, mas em intensidade moderada. Por isso, a expectativa é de alta modesta para as cotações de alimentos. "O grupo alimentação vinha em ritmo médio de 9% ao ano de 2011 até 2016", observa Romão, para quem estes preços ainda devem ficar comportados em 2019. O mesmo raciocínio vale para os serviços, que representam pouco mais de 35% do IPCA e, em 2018, devem aumentar apenas 3,4%, resultado mais baixo desde 2000 (3,1%).
Aceleração - Para o ano seguinte, a expectativa é que o conjunto que reúne preços como aluguel, cabeleireiro e empregada doméstica acelere para 4,4%. O mercado de trabalho está em reação, mas em ritmo muito lento, e a trajetória da atividade também não chancela grandes reajustes no setor, diz. O salário mínimo, um farol importante para itens como empregado doméstico e mão de obra para reparos, teve aumento real de apenas 1,81%, percentual que deve ser de 5,4% em 2019 considerando a regra atual, outro vetor de alta sobre os serviços, disse.
Bens comerciáveis - Além desses preços, os bens comercializáveis devem exercer maior pressão sobre o IPCA, influenciados pela atividade um pouco mais aquecida e, também, por repasses da variação do dólar, segundo Márcio Milan, da Tendências Consultoria. No cenário da Tendências, a taxa de câmbio vai recuar para R$ 3,75 ao fim de 2019, após encerrar 2018 em R$ 3,90. "O câmbio se aprecia um pouco, mas para uma taxa maior do que considerávamos anteriormente", explicou.
Vestuário - Por isso, Milan estima que os artigos de vestuário vão aumentar 3,7% no próximo ano, depois de terem subido 2,5% em 2018. Na mesma comparação, os artigos de residência - grupo que contém itens com componentes importados, como eletroeletrônicos e eletrodomésticos - devem avançar de 2,9% para 3,7%. Já o IPCA deve ficar em 4,1%.
Capacidade ociosa - Perto do piso das projeções, Lucas Nóbrega, do Santander, trabalha com alta de 3,8% para o indicador em 2019. Uma das razões para o número mais otimista é o elevado grau de capacidade ociosa ainda existente na economia. A equipe econômica do banco estima que, sem ociosidade, uma desvalorização de 10% do câmbio adiciona cerca de 0,7 ponto ao IPCA. No quadro atual de pouco uso dos fatores de produção, esse "pass through" cairia para 0,45 ponto.
Atividade retraída - "Num contexto de atividade retraída, os produtores têm dificuldade de repassar aumentos de preços para o consumidor final", diz Nóbrega. O maior ponto de alívio inflacionário para o próximo ano, no entanto, virá das tarifas administradas, que, pelas contas do economista, vão desacelerar de 6,4% para 3,9% na passagem anual, com descompressão nos preços de energia elétrica e combustíveis.
Pressão - Segundo os economistas do Credit Suisse, 2018 foi um ano de pressão dos itens monitorados, devido ao aumento dos custos de energia e à redução da oferta mundial de petróleo. Por isso, esse conjunto de preços deve avançar 6,2% neste ano.
Mais fraca - Em 2019, o banco suíço estima alta mais fraca para os administrados, de 5,2%. "A inflação menor de eletricidade e gasolina devem ser os vetores deste movimento." "Sem pressão forte do câmbio não tem por que os administrados acelerarem", comenta Fabio Ramos, economista do UBS Brasil, para quem o IPCA vai subir 4,5% em 2019, maior previsão entre as instituições ouvidas.
Responsável - O maior responsável pela aceleração serão os serviços, que vão aumentar 5% no ano, diz Ramos, variação que classifica como comportada. "Não é nada demais. Se a economia se recupera, é normal que a inflação não seja mais tão baixa como em 2017 e 2018." (Valor Econômico)
Foto: Pixabay