OMC: Ação europeia contra Azevedo ameaça parcerias estratégicas com Brasil
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- Criado em Terça, 30 Abril 2013 08:53
A forte campanha movida pelos governos do Reino Unido e da França contra o candidato brasileiro à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, revelada nesta segunda-feira (29/04) pelo Valor, leva autoridades em Brasília a falar em revisão da "aliança estratégica" com esses dois países. Com informações de que, já na primeira rodada de votações em Genebra, o governo britânico teria tentado vetar a permanência de Azevedo na disputa, os ministros de Relações Exteriores, Antonio Patriota, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, falaram do desconforto brasileiro ao ministro do Comércio britânico, Vince Cable, que, na semana passada, chefiou uma delegação empresarial ao Brasil.
Ato hostil - O governo brasileiro admite que os países com quem tem alianças votem em outros candidatos, mas fazer campanha contra e tentar bloquear a candidatura de Azevedo foi visto como um ato hostil ao Brasil, segundo comunicaram as autoridades de Brasília diretamente ao alto escalão do governo do Reino Unido.
Negação - No encontro com Patriota e Pimentel, Vince negou que tenha havido um esforço contra o brasileiro. Informações de Genebra dão conta, porém, de que a diplomacia britânica trabalhou para que, em lugar de Azevedo, segundo nas preferências, fosse levada à fase seguinte de votações a candidata da Indonésia Mari Pangestu, terceira mais votada pelos governos da OMC.
Intenção - A intenção dos britânicos era fazer com que o único latino-americano a seguir na disputa fosse o mexicano Hermínio Blanco, preferido de uma parte dos países europeus por seu histórico de defesa do livre comércio.
Amigos - "Sabemos agora quem são nossos amigos na Europa", comentou, reservadamente, um integrante do governo que acompanha de perto as negociações para a sucessão do francês Pascal Lamy, cujo mandato acaba em agosto. Uma autoridade brasileira chegou a lembrar, ao Valor, que os países europeus com maior resistência à candidatura brasileira são, exatamente, os três com interesses em negócios na área de defesa com o Brasil: França, Inglaterra e Suécia.
Caças - Os suecos e franceses disputam o fornecimento de caças para a Força Aérea Brasileira, e os britânicos negociam o fornecimento de fragatas para a patrulha do litoral brasileiro, negócio calculado em US$ 4,5 bilhões. O maior programa na área de defesa, atualmente, é o da construção de submarinos, com a França.
Reflexos - Oficialmente, o governo nega qualquer intenção de responder bilateralmente ao veto a Azevedo. Mas uma prova de a disputa na OMC já começa a ter reflexos sobre as relações comerciais é o fato de o tema ter sido levado à reunião com o secretário de Comércio britânico, que foi a São Paulo e Recife com uma delegação de empresários das áreas de portos e construção naval. (Valor Econômico)