Competitividade da agricultura brasileira preocupa franceses
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"Há dez anos, a agricultura brasileira não preocupava os europeus. Hoje, os brasileiros são fortes concorrentes, impõem respeito e preocupam". A avaliação é de Marie-Luce Spanjers, presidente do Centro de Economia Rural da França (CER), organismo privado de apoio e consultoria aos proprietários rurais, que conta com 11,5 mil funcionários e 90 unidades de atendimento aos agricultores franceses. Marie-Luce acompanhou um grupo de 60 dirigentes da CER e produtores rurais franceses em visita ao centro de pesquisas da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola – Coodetec -, em Cascavel, na última quinta-feira (9/03). A comitiva foi recebida pelo pesquisador e coordenador do projeto Algodão, Jean-Louis Belot, pelo pesquisador Ivan Schuster, da área de Biotecnologia e pela pesquisadora do projeto Soja, Marisa Delagostin, além de Dulce Garbin, responsável pela área de Difusão de Tecnologias.
Área de interesse - Em sua visita à Coodetec, os franceses conheceram detalhes dos programas de pesquisa de novas variedades desenvolvidos pelas cooperativas brasileiras através da Coodetec e manifestaram especial interesse pela área de biotecnologia e variedades transgênicas. Segundo Mari-Luce, os produtores franceses, em sua maioria, são favoráveis ao plantio de transgênicos. Mas a resistência do consumidor europeu, a legislação e a postura das próprias entidades sindicais ligadas ao setor produtivo vêm contendo a disseminação da transgenia.
Saldo francês - O saldo do comércio exterior agroalimentar da França situa-se na faixa dos 9 bilhões de euros. Esse saldo resulta de 35 bilhões de euros em exportações e cerca de 26 bilhões de euros de importações. Essas trocas ocorrem sobretudo no contexto europeu: cerca de 70% das exportações e importações de produtos agroalimentares, e 75% do saldo, dizem respeito a trocas com os demais países da União Européia. Por ordem decrescente de importância, os principais itens excedentes são: vinhos e bebidas; cereais; laticínios, animais vivos, açúcar e derivados do açúcar.
Concorrência em carnes - A presidente do CER é também produtora. Em sua propriedade, no Sudoeste da França, ela mantém 50 vacas leiteiras, com produção anual de 400 mil litros. Ela diz que ainda não vê o Brasil como competidor no segmento de laticínios. Mas isto pode mudar. "O Brasil tem grandes extensões de terra fértil, clima e força de trabalho", diz, lembrando que a principal concorrência brasileira hoje está no setor de carnes, suínos e rações, onde o Brasil compete em qualidade e com preços menores. Segundo ela, um dos grandes diferenciais entre a agricultura do Brasil e da França está também nas pessoas. "O agricultor francês é maduro, mas demora a se decidir e agir", diz, lembrando o caso do álcool, como alternativa energética. "Na França ainda estamos pensando se vale a pena. Aqui no Brasil, vocês são uma população jovem, que decide e vai à prática".