CONJUNTURA I: G-20 cria plano para evitar desequilíbrios econômicos
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As economias desenvolvidas e emergentes reunidas no G-20 concordaram em criar um plano para corrigir os desequilíbrios macroeconômicos que levaram à crise econômica recente, durante encontros realizados nos últimos dias em Washington. Mas ainda há muitas dúvidas sobre a eficácia desse entendimento, pois faltam mecanismos para obrigar os países a seguir as recomendações que serão feitas até outubro.
Desequilíbrios em conta corrente - A maior preocupação do G-20 são os fortes desequilíbrios em conta corrente, considerados a principal causa macroeconômica da crise recente, com altos superávits em países como China e Alemanha espelhados por déficits excessivos nos EUA. Para os americanos, a valorização da moeda chinesa é parte obrigatória de um ajuste, enquanto a China sustenta que os juros extremamente baixos nos EUA são o centro do problema.
Subvalorização cambial - Em reunião dos ministros da fazenda do G-20 na sexta (15/04), foi definido um plano que não toca nesses dois problemas diretamente, mas poderá levar à correção pelo menos da subvalorização cambial chinesa. O Fundo Monetário Internacional (FMI) analisará desequilíbrios fundamentais das principais economias do mundo, como baixa taxa de consumo e alta poupança na China e excesso de consumo e baixa poupança nos EUA. "Completamos o primeiro passo", disse a ministra da economia da França, Christine Lagarde. "Agora vamos mover para o passo dois, que vai nos ajudar a fazer recomendações para os chefes de Estado em nossa reunião de outubro."
Indicadores - Em fevereiro, numa reunião em Paris, o G-20 já havia concordado em selecionar três grupos de indicadores para determinar se as economias estavam em desequilíbrio: 1) déficit e dívida e pública; 2) poupança e divida privada; 3) externos, incluindo balança comercial e fluxos de investimentos. Dessa vez, em Washington, foi definido quais são os parâmetros usados para julgar se as economias estão em equilíbrio dentro desses parâmetros.
Metodologias - Foram adotados quatro conjuntos de metodologias, incluindo modelos econométricos que vão projetar a evolução das economias dentro desses indicadores, além de três parâmetros puramente estatísticos que basicamente servem para verificar como as economias estão evoluindo em comparação aos seus padrões históricos.
Avaliação - Todos os países do G-20, incluindo Brasil, vão ser avaliados de acordo com essa metodologia. Mas foi selecionado um grupo de sete economias que representam pelo menos 5% do PIB do conjunto das economias do G-20 para receber uma análise mais aprofundada. Os nomes dessas economias e os critérios de sua seleção não foram divulgados. Mas, de forma reservada, autoridades no encontro revelaram que o grupo é formado por EUA, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Índia.
Passo seguinte - De agora em diante, o G-20 avança para o segundo passo, que consiste basicamente em avaliar as economias com base nesses indicadores, num trabalho a ser feito pelo FMI. Em outubro, os chefes de Estado receberão as recomendações de como corrigir os desequilíbrios. Mas estão livres para não segui-las, pois não há nenhum mecanismo que os obrigue a fazê-lo. O G-20, porém, aposta no poder de pressão dos demais países para avança nessa agenda.
Versão - No fim, o mecanismo adotado é uma versão muito mais complicada, penosa e obscura do que o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, havia proposto em fins do ano passado. Ele queria apenas um indicador, o resultado de conta corrente, para apontar mecanicamente os países que precisam reequilibrar sua economia. O Brasil também tem interesse na flexibilidade da moeda chinesa, para evitar efeitos colaterais como a aguda valorização do real, por isso está se alinhando com os EUA nesse debate.
Solução - O caminho cheio de curvas adotado pelo G-20 foi a única solução aceita pelos chineses, que fizeram tudo ao seu alcance para selecionar indicadores que estivessem o mais longe possível de sua taxa de câmbio. Nos últimos dias em Washington, a China também exigiu que fossem mantidos em segredo os nomes dos países que vão receber analise mais rigorosa do G-20. A China já vem valorizando sua taxa, mas num ritmo muito lento, e o país anunciou um plano em fins do ano passado para corrigir os problemas do baixo consumo doméstico, alta poupança e excessiva dependência de exportações para puxar o seu crescimento. (Valor Econôico)