Agronegócio não acompanha bons resultados deste ano

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Poderia ter sido melhor. Esta foi a sensação do setor cooperativista em relação a 2005. A falta de ações do governo federal, aliado ao baixo preço do dólar — que afetaram as exportações do setor — e à crise no setor agropecuário. Para compensar, houve um bom ano para as cooperativas de crédito e de trabalho. Em números gerais, o número de cooperativas no País deverá fechar o ano com crescimento de 3%. O ano deve fechar com 7.363 cooperativas, contra 7.136 de 2004. Segundo a direção da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o crescimento só não foi maior porque há um grande número de cooperativas que buscaram fazer fusões ou parcerias para se tornarem mais competitivas. “Nas regiões Sul e Sudeste, onde o cooperativismo é mais forte, estão acontecendo fusões, o que é uma tendência natural”, lembrou o presidente da entidade, Márcio Lopes de Freitas.

Vilões - Segundo Freitas, o governo federal — incluindo aí o Congresso Nacional — pode entrar na lista dos maiores vilões do cooperativismo em 2005. “O governo federal não cumpriu as promessas de apoio ao desenvolvimento do cooperativismo. O balanço é de decepção com as políticas públicas”, disse. Um dos pontos que não tiveram avanço foi a Lei Cooperativista, que tramita no Congresso Nacional há seis anos. Atualmente ela está emperrada no Senado, que não chega a um acordo para votá-la. Esta lei, por exemplo, cria uma figura tributária própria para as cooperativas, entendendo que elas têm um tipo de pessoa que é um misto de física e jurídica, e abre a possibilidade da cooperativa abrir seu capital, remunerando o futuro acionista com parte dos lucros dela.

Agronegócio - O principal fator da estagnação cooperativista, porém, foi o setor agrícola. Segundo Freitas, as cooperativas agrícolas tiveram prejuízo de cerca de R$ 6,8 bilhões. Por conta disso, elas só exportaram US$ 2 bilhões neste ano, o mesmo do que no ano passado, quebrando uma série de anos com crescimento. Três fatores em conjunto causaram este problema. O principal deles é a quebra da safra — que trará um prejuízo que ficará entre R$ 17 bilhões e R$ 24 bilhões. Também houve a queda dos preços das commodities agrícolas no mercado externo e a redução do preço do dólar. O câmbio atual é desfavorável à exportação de diversos setores, principalmente para aqueles que não conseguem atingir a compensação nos preços e perdem espaço no mercado internacional — que é o caso do setor agropecuário. Dentro do ramo, o destaque neste ano com a continuação do ritmo de fusões de cooperativas, movimento este que é apoiado pela OCB. Com as fusões, as cooperativas ganham poder de negociação tanto com fornecedores como com clientes. Elas também ganham eficiência econômica e social, já que o rendimento por associado também cresce. Outro destaque foi o aumento das exportações de produtos com maior valor agregado, como açúcar e carnes — especialmente frango e suínos.

Perspectiva - Para 2006, o foco será atrair mais mercados em áreas diferentes do planeta, o que eliminaria a sazonalidade e reduziria o impacto de entressafras. Se as cooperativas agrícolas não têm muitos motivos para comemorar o ano que passa, o mesmo não se diz das cooperativas de crédito. Elas foram as que mais cresceram neste ano, impulsionadas pela expansão do crédito para pessoa física. A participação do setor no total movimentado pelo sistema financeiro do País deve bater 2,5% em 2005, contra 2,25% do ano anterior. Hoje há 1,4 mil cooperativas de crédito no País, com crescimento médio de 10% nos últimos anos. Porém, avalia-se que o setor ainda tem muito espaço para crescer. Outros países possuem de 15% a 20% dos ativos bancários na mão de cooperativas. Na França, por exemplo, o maior banco, o Crédit Agricole , hoje fundido com o Crédit Lyonnais , tem origens no cooperativismo. Assim como no ramo agrícola, as centrais cooperativas vêm estimulando o processo de fusão e profissionalização das cooperativas de crédito para melhorar o desempenho.

Cooperativas de crédito - Apesar da ampliação da possibilidade de criação das cooperativas de crédito de livre admissão — ou seja, que aceitam cooperados que não estão unidos em empresas ou categorias de trabalhadores —, este tipo de cooperativa ainda cresce lentamente. As exigências Banco Central e a prudência das centrais de crédito na sua constituição causam este “freio”. Existem 145 pedidos no Banco Central para que cooperativas já existentes sejam transformadas no tipo de livre admissão. O próximo passo é liberar este tipo de cooperativa de crédito em cidades de até 7500 mil habitantes. Desde setembro, este limite é para cidades de até 300 mil habitantes. O Banco Central só permitiu que as cooperativas operassem nesse segmento em 1996. As cooperativas de crédito contam com oito mil postos de atendimento em todo o País. “60% desses postos estão instalados em municípios onde não há bancos”, disse Freitas. (DCI)

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