ALGODÃO: Brasil pode rever decisão de não retaliar EUA por subsídios
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O Brasil pode suspender o acordo que tinha de não retaliar os Estados Unidos no caso dos subsídios concedidos aos produtores de algodão. Na quarta-feira (19/07), diplomatas dos dois países se reuniram em Genebra, e o Brasil cobrou de Washington que cumpra a determinação da Organização Mundial do Comércio (OMC) de efetuar cortes nos subsídios ao algodão. A pressão brasileira ocorre no mesmo momento em que os Estados Unidos são cobrados a efetuar cortes de subsídios agrícolas nas negociações da Rodada Doha, em sua fase decisiva. No ano passado, o Brasil venceu uma das maiores disputas agrícolas já levadas à OMC. O Itamaraty alegava que, ao dar subsídios, os americanos afetavam a competitividade do produto nacional e pressionavam para baixo os preços internacionais do algodão.
Busca de entendimentos - A OMC ordenou que Washington retire os subsídios, o que não foi feito por mais de seis meses. O Brasil, como a lei permite, já poderia ter aplicado retaliações contra os americanos para puni-los. Mas o governo optou por fechar um entendimento com Washington para evitar as sanções. Os americanos se comprometiam a implementar a retirada dos subsídios. "O problema é que, até agora, não vimos medidas que visem a reformar o sistema de subsídios nem a ajuda doméstica nem os subsídios à exportação. Sempre deixamos claro que o entendimento poderia ser revisto. Os americanos sabem disso", afirmou Clodoaldo Hugueney, embaixador do Brasil na OMC.
Explicações - Na reunião de quarta-feira, os diplomatas brasileiros pediram explicações sobre como os Estados Unidos farão para cortar os subsídios e acabar com os programas ilegais. "Deixamos claro que, o que estava sobre a mesa, era insuficiente", disse um diplomata brasileiro. Algumas informações foram dadas pelos americanos, mas muitos programas de subsídios, como o crédito à exportação, precisam primeiro passar por uma mudança de lei no Congresso dos Estados Unidos. Segundo os negociadores de Washington, não há como prever quando essa mudança legislativa ocorreria.
EUA não cortarão subsídios - Os EUA deram um recado curto e direito, ontem (19/07) ao Brasil: não têm nenhuma intenção de tomar uma nova iniciativa para reduzir subsídios a seus produtores de algodão, como Brasília vem cobrando. A posição americana abre nova frente de atrito entre os dois países. O governo Luiz Inácio Lula da Silva, inevitavelmente, deverá reativar a demanda de retaliações de bilhões de dólares contra os americanos, nessa disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC). Técnicos dos dois países se reuniram ontem, em Genebra, a pedido do Brasil, para esclarecer quando Washington pensa em implementar as decisões da OMC. O órgão determinou que o país retire subsídios a produtores que causam "sérios prejuízos", sobretudo aos cotonicultores brasileiros. A delegação americana, entretanto, respondeu que Washington não pretende fazer mais nada em relação aos subsídios domésticos, por entender que já cumpriu com as decisões judiciais ao revogar o chamado "Step 2". Esse programa pagava ao produtor a diferença entre o preço doméstico e o preço internacional do algodão. (Valor Econômico)