Avicultores fecham Estados para prevenir gripe
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Desde novembro passado, os grandes produtores de frango do país estão segregando a produção e o abate de aves dentro de um mesmo Estado, como forma de prevenção à gripe aviária. As empresas decidiram agir diante da demora do governo em implementar um plano de prevenção à doença que só hoje -com quase um mês de atraso- deverá ser aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Sadia e Perdigão, as maiores do setor, suspenderam o trânsito de aves criadas pelos produtores integrados (terceirizados) em um Estado e que eram abatidos nas suas unidades industriais em outro. Agora, o alojamento de pintinhos, a criação e o abate só ocorrem num mesmo Estado. Dessa forma elas já estão pondo em prática a regionalização da avicultura, cuja espinha dorsal é limitar o trânsito de aves, proposta pelo setor ao Mapa, e que encontrou resistências do quarto escalão do ministério.
Preocupação - Os produtores e exportadores de frango estão preocupados com a disseminação da gripe aviária na Ásia, nos EUA e sua chegada na Europa. Na semana passada, cinco pessoas de uma mesma família da Turquia foram contaminadas pela gripe aviária e três crianças morreram. Ontem, a OMS (Organização Mundial de Saúde) registrou mais duas mortes na China. "A ocorrência de novos casos sempre gera insegurança nos compradores. Quanto mais surtos de gripe aviária ocorrem, mais afeta o nosso risco", diz Ariel Mendes, vice-presidente técnico da UBA (União Brasileira de Avicultores). Dos grandes produtores mundiais, apenas o Brasil ainda não registrou nenhum surto da doença. O país é o maior exportador de carne de frango, com 2,762 milhões de toneladas em 2005, seguido pelos EUA -que registrou surtos da gripe aviária nos dois últimos anos. As exportações de frango renderam à balança comercial brasileira US$ 3,5 bilhões no ano passado..
Vulnerabilidade - Mas, segundo Mendes, o Brasil tem uma grande vulnerabilidade, que é o fato de exportar apenas frango cru - só 1% dos embarques são de carne processada. "Se ocorrer um surto, nossas exportações serão suspensas", diz. Embora a doença não seja transmitida pela ingestão da ave contaminada, os compradores rejeitariam o produto temendo a introdução da doença nos seus países. Mendes lembra que, quando ocorreu a crise aviária na Tailândia, em 2003, aquele país seguiu exportando carne de frango processada, pois o vírus não sobrevive ao cozimento da carne. Mas no caso brasileiro tal opção não existe. "As grandes empresas do setor estão entrando no mercado de carne processada, mas essa é uma solução de médio prazo para o setor. Nosso grande mercado é o de frango "in natura'", observa.
Temor de endemia- Também ontem, a FAO, agência para agricultura e alimentação da Organização das Nações Unidas alertou que o vírus H5N1 da gripe aviária pode se tornar endêmico na Turquia e coloca em risco os países vizinhos. "O vírus pode estar se espalhando apesar das medidas de controle já tomadas", disse Juan Lubroth, da área de saúde animal da FAO. O órgão exortou vizinhos, como Armênia, Azerbaijão, Geórgia, Iraque e Irã e Síria, a ficarem em alerta elevado, aplicando medidas de vigilância e controle contra a influenza aviária. (Folha Online)
Gripe pressiona ações de frigoríficos - O avanço da gripe aviária na Turquia e o temor de que a doença se alastre pela Europa intensificaram um movimento de realização de lucros com as ações do setor de frigoríficos na Bovespa. Ontem, as ações PN da Sadia recuaram 1,7% na bolsa e as PN da Perdigão registraram queda de 2,35%, apurou o Valor Data. As ações já vinham em queda nos últimos dias em função da realização de lucros, segundo analistas, mas as notícias sobre a enfermidade na Turquia reforçaram o movimento. "As ações dessas empresas tinham subido muito no fim do ano, com o otimismo em relação ao consumo no mercado interno, por isso houve realização de lucros", observou Luís Antônio Vaz das Neves, diretor de pesquisa da Planner. Mas o noticiário sobre a gripe aviária na Turquia influenciou as vendas ontem, acrescentou Neves. (Valor Econômico).