BIODIVERSIDADE II: Pesquisadores discutem rotulagem de transgênicos
- Artigos em destaque na home: Nenhum
A decisão do governo brasileiro de defender a rotulagem explícita dos produtos exportados que tenham alguma porcentagem de material modificado geneticamente, anunciada na segunda-feira à noite, tem provocado polêmicas acirradas. Se de um lado a decisão foi comemorada por ambientalistas e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o outro lado, representado por empresários e produtores agrícolas, atacou duramente a posição – que mesmo dentro do próprio governo tem seus críticos, como o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. A posição do governo federal pela rotulagem está sendo defendida durante a 3ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP 3), que termina na sexta-feira, dia 17, em Curitiba.
Contra a rotulagem - Os contrários à rotulagem alegam que a medida será economicamente desfavorável ao país, por encarecer o custo dos produtos agrícolas. Um estudo recém-concluído sobre o assunto reforça o peso da rotulagem para a economia. “A expressão ‘contém’ naturalmente trará custos elevados e que não são necessários para que o Brasil cumpra com os objetivos do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança” disse José Maria da Silveira, coordenador do Núcleo de Economia Agrícola e Ambiental e professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo o pesquisador, o cálculo dos custos adicionais varia regionalmente. “É preciso considerar todo o processo de produção e exportação, do local de origem até o porto – explica Silveira, também consultor do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB)”.
Prejuízos - Segundo o professor da Unicamp, uma das regiões mais afetadas será uma das mais dinâmicas dentro do cenário nacional do agronegócio. “Em Mato Grosso e em Goiás, os custos poderão subir até 7%. Em outros locais, mesmo o acréscimo de 0,5% não deve ser ignorado. Trata-se de muito dinheiro”, afirma. No caso de Goiás, segundo o estudo Impactos da Implementação do Protocolo de Cartagena sobre o Comércio de Commodities Agrícolas, assinado por Silveira e outros quatros pesquisadores da Unicamp, o aumento por tonelada de soja produzida seria de R$ 36,60 – o valor foi obtido com dados de 2004, quando o preço médio da tonelada foi de R$ 548. O menor impacto ocorreria no Rio Grande do Sul, que é o maior produtor de grãos transgênicos.
Em busca
do equilíbrio - O estudo sugere a adoção do termo
“pode conter”. Para os autores, essa medida, aliada à obrigação
de enviar ao Comitê do Protocolo de Cartagena informações
sobre organismos previamente aprovados pelo país, mediante análise
de risco, seria suficiente para evitar riscos ao meio ambiente que poderiam
ser causados pelos organismos vivos modificados destinados à alimentação.
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI),
a rotulagem implicaria num custo extra de US$ 50 milhões por ano para
o setor industrial. As conseqüências serão as seguintes, segundo
Maurício Mendonça, gerente-executivo da Unidade de Competitividade
Industrial da CNI, em comunicado da instituição :
- Tiraria a competitividade do país em relação a grandes
exportadores de commodities, como os Estados Unidos e a Argentina, que não
são signatários do documento.
- A manutenção da expressão “pode conter transgênicos”
dá a mesma liberdade para o importador recusar o produto ou até
custear os testes para verificar se contém ou não organismos vivos
geneticamente modificados.
- Esse custo não deveria ir para o exportador para não comprometer
a competitividade da indústria brasileira. (Agência Fapesp)