CARNES II: No Brasil, gripe suína já adia exportações e derruba preços

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

O aumento no número de casos de gripe suína ao redor do mundo já afeta a indústria de carne suína nacional e pode atrapalhar as negociações dos exportadores brasileiros para ampliar seus mercados no curto prazo. Em Santa Catarina, maior produtor e exportador de carne suína do Brasil, os preços dos animais vivos já recuam, refletindo o temor de menor demanda.

Adiando negócios - O clima de instabilidade por conta da doença leva importadores a adiarem o fechamento de negócios, segundo apurou o Valor. Mas não existem cancelamentos de exportações. As empresas ainda não admitem o novo quadro, mas Ricardo Gouvêa, diretor do Sindicarnes-SC, reconheceu que adiamento de embarques de carne suína deve ocorrer "porque a demanda no mundo todo deve se retrair". Valdemar Bordignon, presidente da Copérdia, que produz suínos para a catarinense Aurora, disse que ainda não há adiamentos nas encomendas, mas não descartou que isso ocorra na próxima semana.

 

Ampliação das vendas -  Bastante dependente do mercado da Rússia, o Brasil busca ampliar suas vendas de carne suína e um dos alvos é a China, que enviou missão veterinária ao país em outubro passado para inspecionar estabelecimentos exportadores. A expectativa do setor era de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se posicionasse sobre o tema em viagem à China no próximo mês. Mas a gripe suína pode dificultar a discussão do tema com o país asiático, que costuma ser duro nas negociações comerciais.

 

Novos mercados - Gouvêa, do Sindicarnes, acredita, porém, que se não houver casos de gripe suína no Brasil, o país pode ter mais facilidade em abrir novos mercados e também substituir um espaço deixado no mercado pelos EUA, que já sofre embargo a seu produto por parte da China, Rússia, Tailândia, Indonésia, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Equador. Esses países também embargaram as compras de produtos do México, onde surgiram os primeiros casos de gripe suína.

Suspensão - Nesta terça-feira (28/04), a Rússia ampliou a suspensão das importações. Além de ter proibido as compras de carne suína do México e dos Estados americanos da Califórnia, Kansas, New York, Ohio e Texas, o país também suspendeu as importações de carnes de frango e bovinas desses mesmos Estados.

No Brasil, que não sofreu nenhuma restrição de importadores a seu produto, as indústrias já tentam derrubar os preços pagos aos suinocultores temendo queda na demanda.

Impacto - Em Xavantina (SC), o produtor independente de suínos Euclécio Pelizza, disse que já começou a sentir o impacto da gripe suína no mercado. "Não está nada fácil. Ninguém está querendo comprar porque as vendas pararam. Estou tentando segurar o preço [do suíno], mas estou tendo que brigar muito para isso", disse ele. Ontem, Pelizza fechou negócio a R$ 1,90 o quilo do suíno vivo. Antes da crise, obtinha R$ 2,10 pelo mesmo produto. Segundo ele, já ocorreram "alguns" cancelamentos de compras por parte de indústrias.

Tendência - Para Ricardo Gouvêa, diretor do Sindicarnes, "a tendência é o preço cair pela falta de segurança das pessoas, ainda que não haja contaminação pelo consumo de carne suína". Apesar de já haver pressão no preço do produtor independente de suínos, o valor pago para os produtores integrados às agroindústrias em Santa Catarina por enquanto não sofreu impacto da gripe suína. Na segunda-feira, o preço do animal chegou a subir R$ 0,05 para R$ 1,65 o quilo vivo, ainda sob efeitos de uma melhora no mercado nos dias anteriores. (Valor Econômico)

Conteúdos Relacionados