CENÁRIOS: Crise financeira fará PIB do campo diminuir 7,2%
- Artigos em destaque na home: Nenhum
A conta da crise financeira global iniciada nos Estados Unidos no fim de 2008, enfim, chegou ao campo. O Produto Interno Bruto do agronegócio deve recuar 7,2% neste ano, estimou ontem a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) a partir de dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).A soma de todas as riquezas geradas pelo setor rural, projetada em R$ 709,3 bilhões, sofrerá uma redução de R$ 55,3 bilhões em apenas um ano - R$ 16 bilhões na pecuária e R$ 39,4 bilhões na agricultura. Desidratado pelos maus resultados do setor primário e agroindústria de insumos, o PIB poderia ter recuado ainda mais. "Foi uma surpresa não ter sido tão ruim quanto se esperava no início do ano. E 2008 tinha sido muito bom para o setor", resumiu a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO).
Commodities - A manutenção da demanda interna atenuou o impacto da quebra de 6,4% na safra nacional de grãos e o recuo dos preços internacionais das commodities. Mas a aversão dos bancos ao risco, traduzida pelo enxugamento do crédito rural, e a forte elevação dos custos de produção minaram a rentabilidade dos produtores rurais neste ano.
Otimismo - Para 2010, ano de eleições presidenciais e parlamentares, os produtores estão bastante otimistas. Preveem uma "recuperação dos resultados" por meio do aumento da oferta com a safra maior, faturamento em alta e crescimento da receita do setor. O PIB deve voltar aos níveis de 2007, quando chegou a R$ 715 bilhões. "A recuperação dos países ricos ainda é pouco convincente e os preços das commodities não decolaram. Mas há previsão de boas safras, aqui e no mundo", disse Kátia Abreu.
Faturamento - A CNA prevê uma elevação no faturamento das principais atividades agropecuárias em 2010. O Valor Bruto da Produção (VBP) deve saltar de R$ 233,2 bilhões para R$ 245,2 bilhões, um crescimento de 5%. "Teremos preços melhores, aumento da área plantada e recuperação da pecuária", estimou a economista Rosemeire dos Santos. Mas há incertezas no horizonte. As principais interrogações são o impacto do clima sobre as lavouras, o ritmo de recuperação da economia mundial, a manutenção do consumo interno, a demanda nos países asiáticos (sobretudo a China) e a taxa de câmbio, além do descasamento entre custos e receitas.
Mesmo com o otimismo para 2010, os produtores mantêm algumas demandas históricas em relevo. E devem entrar o último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva cobrando uma nova política agrícola. "O modelo do crédito rural apodreceu. Queremos 100% de seguro para os produtores, como se faz nos Estados Unidos", disse a senadora Kátia Abreu.
Questão tributária - Ela também informou que "estão avançadas" no governo as negociações para um novo desenho tributário para o setor. "Estamos tentando encontrar uma fôrma para cada tamanho de produtor. Do minifúndio à agricultura empresarial.", disse. Abreu criticou, ainda, a recomposição florestal em estudo no governo. "Os produtores são conscientes, mas não queremos achismos nem radicalização do Ministério do Meio Ambiente", acrescentou.
Dívidas - Ainda na "agenda antiga", os produtores insistem em uma solução para o endividamento do setor e as graves deficiências logísticas do Brasil Central. "O produtor não pode pagar pela ineficiência do Estado", disse Kátia Abreu. E defendeu a concessão de subsídios ao setor. "Não podemos bancar o jogo da comida barata sempre. Precisamos de mecanismos que ajudem o produtor antes do fundo do poço, algo que evite um apagão da agricultura, como as termelétricas fazem na energia", pregou. (Valor Econômico)