CENÁRIOS: Recuperação global impulsiona alta generalizada de commodities
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Os preços das commodities, do milho ao petróleo, estão em alta, uma tendência que ressalta - mas também pode atrapalhar - uma recuperação econômica que está ganhando força. Nos últimos meses, os preços internacionais de alimentos subiram a um ritmo que rivaliza o de alguns dos meses mais aquecidos de 2008, quando irromperam revoltas por causa da comida em vários países em desenvolvimento. Os preços mais altos podem ser um sinal positivo de que as empresas estão se preparando para uma retomada no consumo - ou um prenúncio de retorno da espiral de alta que alguns economistas dizem ter ajudado a levar a economia mundial à recessão.
Reflexo - O avanço das commodities "é um reflexo da demanda extremamente forte no mundo emergente e de crescentes expectativas de maior demanda no mundo desenvolvido", diz Jim O'Neill, diretor de análise econômica global do Goldman Sachs. É "encorajador, desde que não seja persistente demais". Mas Hugh Grant, presidente da Monsanto Co., gigante americana da biotecnologia que vende produtos como sementes e herbicidas, diz que a recessão apenas "mascarou" a crise dos alimentos. O preço de um bushel (ou 25,4 kg) de milho subiu 24% desde 1º de setembro. Um índice de preços mundiais de alimentos compilado pela Organização das Nações Unidas saltou 6,9% só em novembro.
Outros - Outras commodities também estão em alta. O barril de petróleo rompeu na semana passada a faixa de US$ 60 a US$ 80 que manteve durante o segundo semestre do ano passado, sendo negociado a US$ 81,37 na Intercontinental Exchange ontem, ou 18% mais que em 1º de setembro. Em Londres, o ouro ficou a US$ 1.137, alta de 18%. A maioria das commodities, exceto ouro, ainda está abaixo de seu pico de 2008. O índice de preços da ONU está 21% mais baixo do que em junho de 2008, seu pico. O preço do petróleo chegou a pouco mais de US$ 146 em julho de 2008.
Fundamentos - Além disso, os fundamentos de oferta e demanda dos mercados mundiais de grãos são muito diferentes hoje do que na crise dos alimentos de 2008, quando milho, trigo, soja e arroz mais que dobraram. Aquela alta foi em grande parte resultado de o mundo ter consumido mais cereais do que havia produzido em boa parte da década, o que reduziu as reservas mundiais a níveis bastante baixos.
Temores - Mas a alta das commodities reflete, em parte, temores de que as políticas de dinheiro barato dos bancos centrais, que tinha o propósito de socorrer a economia, alimentem a inflação. "As expectativas de inflação estão aumentando", diz Spyros Andreopoulos, economista mundial do Morgan Stanley em Londres. Altas de preço, assim como temores de inflação, podem forçar os bancos centrais a elevar os juros - medida que pode pisar nos freios da recuperação. A situação é particularmente grave em países em desenvolvimento como China e Índia, onde a comida corresponde a uma porção maior das compras das pessoas. Na quinta-feira, o banco central da China aumentou uma taxa de juros importante, mudando sua política para controlar a inflação. Economistas dizem que a velocidade dos aumentos de preço pode forçar o BC da Índia a elevar os juros já este mês.
Espiral inflacionária - Nos EUA, com a taxa de desemprego a 10% e as empresas operando bem abaixo da capacidade, economistas duvidam que o boom das commodities possa provocar uma espiral inflacionária tradicional, na qual as altas de preços e salários reforçam umas às outras. Na reunião de dezembro do Federal Reserve, o banco central americano, alguns diretores argumentaram que "a alta dos preços do petróleo e de outras commodities, junto com aumentos nos preços de importações, podem aumentar as pressões inflacionárias futuras", mas na maior parte as autoridades do Fed acreditam que o alto desemprego será um contrapeso considerável, segundo minutas da reunião.
Recuperação - Ainda assim, à medida que as commodities mais caras tenham efeito na cadeia de produção, podem coibir qualquer recuperação ao forçar os consumidores a gastar mais de seus orçamentos limitados em itens essenciais, como comida e gasolina. Isso também é uma preocupação para as empresas, sejam companhias aéreas ou processadores de alimentos, para as quais o aumento dos preços das commodities pode reduzir os lucros. "Todo mundo está nervoso", diz Ronald Lucchesi, diretor-geral da divisão de produtos congelados da Gonnela Baking Co., uma empresa de capital fechado de Chicago que foi prejudicada pelo aumento dos custos do trigo em 2008.
Impacto - A alta das commodities está tendo um impacto ao redor do mundo. Entre os países em desenvolvimento, a Índia é talvez o mais exposto, por causa de sua fraca temporada de chuvas e em consequência baixa safra de arroz. Os rápidos aumentos no custo do arroz, chá, açúcar e leite levaram os preços de alimentos a registrar uma alta de 17% nos 12 meses até novembro, colaborando para uma inflação geral de cerca de 5%. Outra commodity que disparou este ano é a mandioca. Na China, a raiz é um insumo importante para a crescente área de álcoois industriais e combustível. A mandioca também é usada para alimentar patos e porcos e num tipo de chá bastante popular. Uma infestação de praga atrapalhou a safra na Tailândia, um importante produtor. Os preços da mandioca subiram 59% no ano passado, segundo a ONU. (Valor Econômico)