CLIMA: De Boer diz não acreditar em corte de emissões suficiente nesta década

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A poucos dias de deixar o cargo, o secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU, Yvo de Boer, surpreendeu ao fazer uma avaliação pessimista do futuro das negociações climáticas. Questionado nesta segunda-feira (07/06) por um jornalista britânico se estava "confiante de que o processo de negociação conseguirá um corte de gases-estufa suficiente nesta década", De Boer respondeu: "Não, eu não acho que estes cortes irão acontecer na próxima década."

Nações ricas - Para o homem que há anos assiste de perto a costura de um acordo climático de 192 países, as nações ricas não vão reduzir a emissão de gases-estufa na proporção recomendada pelo painel científico para que haja 50% de chances de a temperatura do planeta subir só 2°C no fim do século. De Boer está saindo do cargo em 1º de julho, como já havia anunciado. Talvez por isto tenha sido tão franco.

Tranquilidade - Mas nem essa declaração bombástica não foi capaz de quebrar o clima tranquilo em Bonn (Alemanha), onde acorre a primeira reunião de conteúdo de um acordo climático após a frustrante conferência de Copenhague. Nada aqui lembra a tensão da CoP-15. Não há chefes de Estado, hordas de jornalistas, ambientalistas em profusão nem curiosos. Também não há pressa em decidir pontos delicados. Todos os nós de Copenhague estão aqui, mas a negociação avança pelas bordas rumo à CoP-16, em Cancún, no fim do ano.

Paradigma - Thais Linhares Juvenal, diretora do departamento de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente lembra um estudo recente que aponta que, mesmo usando-se todo o potencial de energia renovável possível no mundo, não se chegará à descarbonização necessária para garantir níveis mais seguros de vida. "Vai ter que ter outro paradigma."

Dinheiro - Enquanto isso, falta dinheiro. Um negociador brasileiro reconhece que a menção à crise econômica é mais presente nas discussões sobre o financiamento de todas essas mudanças. A crise na Europa é muito mais forte hoje do que há seis meses, quando ocorreu a conferência de Copenhague. Lá os países ricos prometeram US$ 30 bilhões, de 2010 a 2012, em recursos chamados "fast track", para resolver problemas imediatos do impacto climático em países mais vulneráveis, mas este dinheiro ainda não chegou ao destino. E prometeram também US$ 100 bilhões ao ano em 2020. "Em Copenhague foram feitas muitas promessas", lembrou De Boer. "Mas, na vida real, há uma diferença entre fazer promessas e cumpri-las."

Painel - Na semana passada, um painel de países da União Europeia, que falam em participar no "fast track" com € 7,2 bilhões, mostrou que eles não se entendem sobre se esses recursos são "novos e adicionais", como ficou definido em Copenhague ,ou seja, se não fazem parte de somas já prometidas em termos de ajuda internacional ou até empréstimos. (Valor Econômico)

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