COEP/PR: Audi-União ganha centro comunitário
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Há um ano a secretária executiva do Comitê de Combate à Fome e pela Vida (Coep) no Paraná, Conceição Contin, procurava um local na Vila Jardim União, no bolsão Audi-União, para construir um centro comunitário, com o objetivo de mobilizar a população em prol dos objetivos do milênio, da Organização das Nações Unidas (ONU). Depois de muito rodar, Conceição se perdeu e acabou parando em frente à Igreja Santo Aníbal. Lá, os padres João Ademir Vilela e Valmir de Costa desenvolvem um trabalho com 120 crianças. Bastaram poucas reuniões para traçar um caminho: precisariam de R$ 360 mil para a construção. Nove meses se passaram e o centro foi inaugurado neste domingo (22/11), a 150 metros do local onde uma chacina deixou oito mortos no dia 4 de outubro.
Correria - Depois do dia em que Conceição se perdeu, a vida dos três se transformou em uma correria em busca de patrocínios, já que não há dinheiro do poder público na obra. Os padres tinham R$ 160 mil, arrecadados por integrantes da Congregação Rogacionista. Poderiam pagar apenas a mão de obra. O projeto de engenharia e arquitetura foi feito voluntariamente por dois funcionários de uma entidade ligada ao Coep. Como o Comitê não pode receber doações em dinheiro, os articuladores distribuíram ofícios em estabelecimentos comerciais.
Cansaço - Os três venciam pelo cansaço. Para alguns, chegavam a ligar todos os dias. Fizeram rifas, vaquinhas, festa julina e venderam produtos apreendidos pela Receita Federal. "Eles foram anjos que bateram em nossa porta. Tínhamos vontade de ampliar nosso trabalho e eles mostraram o caminho", diz o padre João. O número de crianças atendidas vai dobrar a partir do ano que vem. A meta é oferecer almoço para as crianças.
Festa - Na festa, foi celebrada uma missa e uma maquete do centro acompanhou a entrada na igreja. Depois de nove meses de curiosidade, as crianças finalmente podem percorrer salas, banheiros, biblioteca, cozinha e refeitórios. Quando o projeto ficou pronto, o sonho passou a ser uma cancha esportiva. Foi o padre João Ademir que bateu o pé para a construção do espaço. O Coep é uma rede de mobilizadores em prol do combate à fome, iniciativa do sociólogo Betinho, autor da campanha Natal sem Fome. Há redes em todos os estados brasileiros e mais de 5 mil participantes. O Sistema Ocepar é uma das entidades parceiras do Coep/PR e também esteve mobilizada para arrecadar fundos destinados à construção do Centro Comunitário na Vila Jardim União.
Ação começou nas ruas - Os Rogacionistas estão há nove anos na Vila Icaraí. Quando chegaram, havia só lama e casas de palafita. "Acho que com a nossa vinda e das irmãs ursulinas, o poder público passou a olhar mais para cá. Mas ainda tem muito o que melhorar. Não temos escolas estaduais". No início, os seminaristas faziam trabalhos com os pais das crianças. Há uma cooperativa de catadores de papel, uma padaria comunitária e um telecentro com acesso à internet. A ação com as crianças começou nas ruas porque não havia um espaço adequado. Em 2007, a Obra Social Santo Aníbal (Ossa) construiu um local ao lado da igreja para atender os meninos e meninas. Eles têm atividades de caratê, teatro, reforço escolar e informática. Como a região tem forte influência do tráfico de drogas, a ação social é fundamental para garantir oportunidades. É o caso de Giovana Renata de Souza, 11 anos, há três no projeto. Não fossem os padres, ela teria de ficar sozinha em casa, já que os pais trabalham o dia todo.
Uma nova Vila - Na noite de 4 de outubro, quando oito pessoas foram mortas no bolsão Audi-União, o padre Valmir foi chamado pelas famílias de três vítimas para fazer as últimas homenagens aos mortos. "A maioria das pessoas aqui são trabalhadoras e em função da falta de segurança e estrutura básica ocorre isso", diz. "A única diferença entre os jovens daqui e os de bairros mais ricos é a oportunidade", afirma o padre Valmir.
Mudanças - Quase dois meses depois da chacina, a segurança no local já diminuiu, segundo os padres. Apesar disso, ponderam que não é com policiais que o problema será resolvido. "É preciso investir em geração de renda, habitação, saúde. A segurança é só paliativa", argumenta o padre Valmir. Eles pretendem mostrar que na região há muitos fatores positivos. "Quando se fala nessas comunidades, as pessoas sentem medo. Mas na nossa obra deixamos vários materiais expostos, temos computadores e nunca nada foi roubado", diz padre João. (Com informações da Gazeta do Povo)