CONJUNTURA: Rabobank confirma bom cenário para o campo

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Demandas firmes nos mercados internacional e doméstico e ofertas em geral ainda com restrições devem sustentar cotações e proporcionar boas margens operacionais para as principais cadeias produtivas do campo nacional em 2011. Esse horizonte, cujos contornos ganharam força no segundo semestre do ano passado, é confirmado pelo estudo "Perspectivas para o Agronegócio Brasileiro", concluído recentemente pelo departamento de Pesquisa e Análise Setorial do Rabobank Brasil. O trabalho contempla tendências para cana, açúcar e etanol, café, algodão, soja, milho, carne bovina, carne de frango, carne suína, leite e fertilizantes, e para todos eles a expectativa é de incremento do consumo, puxado por países emergentes, e preços firmes.

Cenário diferente - "É um cenário diferente daquele de 2007 e 2008, quando os grãos subiram muito mas produtos como o açúcar, por exemplo, não acompanharam a alta. Hoje praticamente todas as commodities agropecuárias estão com preços elevados. O crescimento econômico dos emergentes continua puxando a demanda e em vários mercados o clima, por causa do La Niña, teve impactos impressionantes nas previsões de oferta. Assim, a relação entre estoques e consumo está muito baixa em muitas commodities", afirma Andy Duff, analista responsável pelos capítulos macroeconômico e sucroalcooleiro do estudo. Com matriz na Holanda, o Rabobank, criado em 1972 e presente no Brasil desde 1989, é uma das instituições financeiras globais com maior foco no campo.

Países desenvolvidos - Para Duff, está claro que o ritmo de crescimento econômicos nos países desenvolvidos continuará lento neste ano, daí o peso dos emergentes na análise. E o Brasil, a partir do aumento do poder aquisitivo de sua própria população, colabora para elevar esse peso inclusive oferecendo novas alternativas de demanda por alimentos básicos, agrocombustíveis e produtos de maior valor agregado, muitas vezes capazes de compensar eventuais turbulências nas exportações. Foi assim em 2010 na área de etanol, por exemplo.

Açúcar e álcool - Como as sondagens do Rabobank com agentes do mercado brasileiro indicaram que a próxima safra de cana do país no máximo repetirá o volume de 2010/11 e o açúcar continua oferecendo boa remuneração, a análise do banco prevê a possibilidade de o governo reduzir a mistura de etanol anidro na gasolina (atualmente em 25%) para garantir maior oferta ao hidratado diante da gasolina em caso de novos aumentos de preços do biocombustível.

Bons preços - Mas os holofotes nessa cadeia deverão ficar no açúcar, que poderá seguir com bons preços - ainda que novas máximas pareçam, hoje, distantes. Ocorre que estimativas apontam que o mundo deverá voltar a apresentar um excedente mínimo no fim da temporada 2010/11, depois de problemas climáticos em fronteiras como Rússia, União Europeia, Paquistão, Indonésia e Austrália no ano passado, e uma retomada tende a tirar um pouco do suporte dos preços no segundo semestre. Mas há incertezas quanto ao futuro das exportações da Índia, o que abre espaço para repiques altistas.

Café - No mercado de café as perspectivas para a oferta global são piores, ao mesmo tempo em que a demanda vem surpreendendo positivamente. "O cenário é apertado. Chuvas na Colômbia, América Central e Vietnã geraram problemas e a oferta brasileira será baixa. O Brasil deverá ter a menor disponibilidade para exportações em sete anos", disse Guilherme Bellotti de Melo, analista responsável pelo respectivo capítulo do estudo. "O momento é de bonança, mas o produtor não pode se esquecer que isso é cíclico e que é preciso investir em qualidade, tratos culturais e comercialização", afirma.

Algodão - No caso do algodão, diz Luciano van den Broek, o analista que escreveu esse capítulo, "ninguém mais sabe qual o limite" para a alta de preços, sobretudo após as recentes inundações na Austrália, e os patamares seguirão bem acima da média histórica. Mas a produção global deverá aumentar e exercer alguma pressão. No Brasil, a área plantada nesta safra 2010/11 é a maior em 19 anos e já há grande comprometimento da colheita para exportações. "Os preços no Brasil estão até mais elevados do que na bolsa de Nova York", diz.

Clima - Van den Broek também confirma que as adversidades climáticas no sul do Hemisfério Sul, notadamente na Argentina podem dar ainda mais fôlego às cotações internacionais de soja e milho, que já rondam o maior nível em 30 meses, abaixo apenas das máximas de junho de 2008. A disparada ganhou força a partir de julho, com as adversidades climáticas na Rússia e arredores, e manteve-se firme com os problemas argentinos, já que no Brasil o La Niña até agora se mostrou ameno para a agricultura. Na soja, prevê o estudo do Rabobank com base em dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a relação entre os estoques e o consumo globais deve cair de 25,3% (2009/10) para 24,3% (2010/11); no milho, pode recuar de 18,3% para 15,5%.

Carne bovina - Para a carne bovina, diz Bellotti de Melo, o cenário internacional para a demanda tende a continuar melhorando depois da crise de 2009 e problemas na oferta de EUA, Austrália e Argentina podem levar o Brasil a recuperar os volumes que perdeu na exportação. Aliada ao consumo interno firme, também o boi gordo deve seguir sustentado. Nesta frente, altas expressivas das cotações se refletem em buscas por alternativas mais baratas, e normalmente o movimento beneficia o consumo e os preços das carnes de frango e suína. O problema, nos dois casos, é que os preços dos insumos que compõem as rações - sobretudo os grãos - pressionem demais as margens.

Fertilizantes - Se as perspectivas de demanda e preços elevados em tantas cadeias se confirmarem, não restará outro caminho para o segmento de fertilizantes a não ser o do crescimento. Andy Duff observa que as antecipações de compras de adubo por parte de produtores brasileiros de soja já de olho na próxima safra (2011/12), que começará a ser plantadas em setembro, já começaram. A expectativa é que os preços subam no mercado internacional e levem junto os do Brasil, que depende de importações. (Valor Econômico)

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