CRESCIMENTO I: Investimento prepara volta em 2010

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Após a freada abrupta de 2009, quando voltou ao nível de 2006, o investimento deve voltar com força em 2010. O avanço do mercado imobiliário, as obras de infraestrutura impulsionadas pelas eleições e a retomada dos projetos de ampliação de capacidade das indústrias previstos para o ano que vem fazem com que alguns analistas apostem em um crescimento de até 20% no investimento para o próximo ano. Se o desempenho se confirmar, há chances desse índice retornar aos patamares de antes da crise econômica e puxar uma alta mais forte, de até 6%, do Produto Interno Bruto (PIB). No Paraná, os setores de agronegócio, petróleo e construção civil devem liderar a retomada.

Projeções - Na semana passada, dois bancos - o Bradesco e o Credit Suisse - divulgaram projeções de um crescimento de até 20% no investimento para 2010 na comparação com este ano. Outras instituições, como o banco BNP Paribas, preveem uma taxa próxima de 12%. Vale lembrar que se trata de uma recuperação, já que a base de comparação é baixa por causa da crise. "A construção, a indústria de máquinas e equipamentos, o agronegócio e os setores de petróleo e de mineração estão entre os que mais vão investir", afirma o economista André Paes, diretor da consultoria Infinity Asset Management, que prevê um avanço de 15% a 20%.

Sinduscom - O setor da construção pode superar em 2010 o resultado de 2008, na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) no Paraná, Hamilton Franck. De acordo com ele, 2009 deve fechar com queda de até 5% no número de alvarás de construção. "Mas em 2010 esse volume deve voltar ao patamar de antes da crise", diz. Uma estimativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) prevê que o PIB da construção vai crescer 8,8% em 2010, depois de evoluir apenas 1% em 2009.

Agronegócio - O setor do agronegócio também deve investir forte em 2010. Depois de um ano considerado difícil, com quebra de safra e recuo nas exportações, 2010 desponta com perspectiva de boa produção e retomada da demanda em alguns mercados no exterior. As cooperativas agropecuárias do Paraná preveem aplicar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão em 2010, principalmente em projetos de infraestrutura, na industrialização da produção, e nos setores de frangos e suínos. Se­­gundo o presidente da Or­­ga­ni­zação das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, o volume praticamente repete o montante aplicado neste ano, mas poderá ser elevado se a safra for boa. Ele afirma que se a crise não tivesse ocorrido as cooperativas teriam investido R$ 1,3 bilhão em 2009 e elevariam os aportes para R$ 1,5 bilhão em 2010. "Na prática deixamos de investir R$ 800 milhões em dois anos."

Petróleo - O setor de petróleo deve receber R$ 2 bilhões no Paraná no próximo ano nas obras de ampliação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. De acordo com João Adolfo Oderich, gerente geral da refinaria, a obra, iniciada no fim de 2007, deve atingir seu pico em 2010 - o número de operários deve chegar 17 mil. Outros 5 mil vão trabalhar na parada de manutenção programada para o meio do ano. "Em 2010 vamos atingir o auge do projeto, quando superaremos mais da metade dos investimentos, que somam R$ 9 bilhões até 2012", afirma.

Estudo afirma que bastam 20% do PIB - Apresentado na semana passada, um estudo feito por economistas do BNDES argumenta que o crescimento econômico de 5% ao ano seria sustentável no longo prazo com uma taxa de investimento próxima de 20% do PIB. A conclusão contrasta com a visão de que o país precisaria ter de 22% a 25% do PIB em investimentos para crescer com força por um período longo, comum à maioria dos economistas especializados em desenvolvimento. A tese defendida no estudo é a de que houve na última década um aumento de investimentos em máquinas, o que eleva a produtividade do capital. O resultado seria uma capacidade de crescimento maior do que a estimada em pesquisas anteriores. Os autores destacam que, no Brasil, são as baixas aplicações em construção civil e infraestrutura que derrubam a participação do investimento no PIB - o que tem menos influência sobre o potencial de expansão da economia.

Governo gasta pouco com investimentos - O investimento público no Brasil aumentou 22% no período de janeiro a outubro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2008. Segundo a ONG Contas Abertas, foram aplicados R$ 22,7 bilhões em 2009, contra pouco mais de R$ 19 bilhões no ano passado. A expansão é menor do que a verificada em 2008, de 50% sobre os gastos de 2007. Apesar do porcentual ser alto para um ano de crise, a aplicação direta de recursos públicos na ampliação do capital produtivo do país é muito baixa, pouco superior a 1% do PIB. Enquanto isso, os gastos com pessoal tiveram elevação de quase 20%, ou R$ 21 bilhões no mesmo período.

Possibilidade -  "O governo arrecada quase 37% do PIB e investe só 1%. Com um pouco de esforço, que inclui pagar menos juros e reduzir o peso do custeio da máquina, ele poderia elevar esse gasto para 3% ou 4% do PIB sem fazer muitas alterações além de controlar alguns gastos, como com pessoal. Seria um movimento importante para chegarmos a um investimento total de 25% do PIB em alguns anos e termos um crescimento sustentável da economia", comenta o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios.

PAC - Segundo especialistas, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda não fazem muita diferença quando se olham os números agregados do investimento. "Há muita coisa ali que é investimento de empresas estatais ou que estão com a iniciativa privada. O PAC funciona mais para agregar esses projetos", diz Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria. (Gazeta do Povo)

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