CRISE NO CAMPO II: Crise no campo chega ao comércio

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A crise do campo já bateu às portas do comércio, e os Estados líderes do agronegócio brasileiro amargam os piores resultados nas vendas do varejo neste ano. Em Mato Grosso, o volume de vendas do setor caiu 8,62% de janeiro a abril. No Rio Grande do Sul, a retração ficou em 2,20%. No Paraná, houve crescimento de apenas 0,36%. Os três Estados têm os piores desempenhos da PMC (Pesquisa Mensal de Comércio) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e um nível bem inferior à média nacional neste ano -5,64%. Em São Paulo, por exemplo, o volume de vendas do comércio subiu 6,14% no período.Federações de comércio estaduais e empresários apontam sempre a mesma explicação para o fraco desempenho do varejo: a crise da agricultura, que derrubou a rentabilidade de produtores com a desvalorização do dólar e a queda dos preços agrícolas. Afirmam ainda que a redução das exportações de carnes por conta dos focos de aftosa e de frango, em razão do menor consumo por causa da gripe aviária, também prejudicou o comércio.

Radiografia - Em Mato Grosso, o faturamento do comércio caiu 9,5% de janeiro a maio, segundo a Fecomércio-MT. "A base da economia do Estado é o agronegócio. Se ele vai mal, há menos dinheiro em circulação para irrigar o comércio. A queda atinge todos os setores com a redução do poder de compra de agricultores e trabalhadores rurais", afirma Pedro Nadaf, presidente da Fecomércio. Neste ano, a safra de soja, o carro-chefe do agronegócio do Estado, deve cair 10,49% -diferentemente do total da colheita de grãos do país, cuja estimativa é de expansão de 5,3%. Os preços da soja chegaram a cair 19% nesta safra em Mato Grosso. Os efeitos da crise, diz Nadaf, foram sentidos até mesmo na capital Cuiabá (ainda que com menos intensidade), pois boa parte dos produtos é comercializada na cidade. No Paraná, a Fecomércio-PR estimou uma queda de 1,63% no faturamento do comércio de janeiro a abril. No interior do Estado, onde o peso da agropecuária é maior, a retração chegou a 3,63%. No Estado, o custo da saca da soja caiu 15,9% nesta safra. Vamberto Santana, economista da entidade, afirma que, com a menor receita do agronegócio, houve retração da renda dos trabalhadores e do emprego, o que prejudicou o comércio.

Veículos - Setores que fornecem diretamente à agropecuária sentiram ainda mais. É o caso das revendas de veículos (que também comercializam tratores e colheitadeiras), cujas vendas caíram 27% em Londrina, segundo a Fecomércio-PR. Apesar da expansão das lavouras de soja e milho no Paraná, a estimativa indica uma quebra de 35% na safra de trigo. A redução das exportações de frango, diz Santana, também afetou em cheio o Estado, maior produtor nacional. "Muitas granjas demitiram, e isso rebateu no comércio." No Rio Grande do Sul, a Fecomércio-RS apurou um crescimento de 0,8% no faturamento do varejo de janeiro a abril. De acordo com Marcelo Portugal, economista da entidade, o resultado, no entanto, é "muito ruim", a julgar "pelo péssimo desempenho de 2005", quando o Estado foi castigado por uma prolongada estiagem que derrubou a produção agrícola. "O Rio Grande do Sul vive há dois anos um problema econômico seriíssimo provocado pelo setor agrícola", afirma. No Estado, o preço da soja baixou 15,93%. Portugal diz ainda que o embargo à carne brasileira também prejudicou o comércio indiretamente.

Dólar - Para os três representantes do comércio, a desvalorização do dólar está por trás do fraco desempenho da agricultura. Especialista em agropecuária, José Carlos Hausnecht, da MB Associados, afirma que a agricultura vive mais uma crise de rentabilidade do que de redução de volumes produzidos. Os preços dos principais produtos agrícolas, que estavam muito altos, caíram e voltaram a valores "normais", o que, ao lado do câmbio, reduziu os ganhos de agricultores. (Folha de S. Paulo)

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