FÓRUM DOS PRESIDENTES I: Momento exige cautela nos investimentos, aconselha Nathan Blanche
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"As empresas e cooperativas que já possuem de 15% a 20% dos investimentos planejados já comprometidos devem continuar com seus planos, mas antes de retomar ou iniciar um novo investimento, pense duas vezes, deixe a crise atual acalmar, pois há ainda muita volatilidade". O conselho é do consultor Nathan Blanche, diretor da Tendências Consultoria que, na manhã desta terça-feira (14/10), falou sobre economia mundial e os reflexos para a economia brasileira, durante o Fórum dos Presidentes promovido pelo Sistema Ocepar. O evento reuniu cerca de 60 dirigentes de cooperativas agropecuárias e de crédito do Paraná no auditório da Ocepar, em Curitiba.
Otimismo - Apesar da cautela, Nathan Blanche disse que o recado que trouxe aos cooperativistas do Paraná em relação aos efeitos e continuidade da atual crise financeira mundial é bastante otimista. "Este momento de volatilidade é passageiro e está ocorrendo um ajuste sério e severo no mundo. Além disso, o Brasil fez a lição de casa e, diferente do que aconteceu em crises anteriores, o país está mais aberto e saneado, e suas instituições financeiras estão mais fortes", diz. Além disso, completa o consultor, também diferente de turbulências passadas, a exemplo da que ocorreu em 1995, o mundo hoje está mais integrado, em função da globalização dos mercados, e também mais alavancado financeiramente. "Houve um aumento de renda, prova disso é que os países emergentes que formam o G20 vão crescer este ano de 7% a 8%, enquanto os países desenvolvidos que compõem o G7 irão crescer de 1,5% a 2%", exemplifica.
Agronegócio - O consultor comenta ainda que o setor de agronegócio foi menos afetado pela crise em comparação a outros setores, como o imobiliário e o automobilístico. "O setor produz e comercializa produtos de primeira necessidade que, independente de crise, continuarão a ser consumidos. Outro fator que precisa ser considerado é que a China é o mercado mais promissor para o agronegócio brasileiro. Junto com a Índia, a China responde por 50¨% da importação de cereal do mundo", conta. Na sua opinião, o setor de agronegócio deve trabalhar em 2009 com um cenário mais calmo, com o dólar se estabilizando em torno de R$ 1,95, enquanto as commodites agrícolas, com exceção da soja, devem se manter nos patamares atuais ou até apresentar uma ligeira elevação.
Dever de casa - As projeções e análises em relação aos reflexos da crise no Brasil são otimistas, no entanto, somente irão se confirmar se o Brasil fizer alguns ajustes. "O Brasil precisa, por exemplo, poupar 25% do seu PIB. No entanto, atualmente, a poupança feita não chega a 18 % do PIB. É preciso aumentar o volume de poupança ou então diminuir o tamanho do Estado", diz. Na sua avaliação, o PIB brasileiro deve crescer em 2009 3,8%, entretanto, há algumas situações que deixam os analistas mais confiantes, entre as quais, o câmbio mais flutuantes e o Banco Central, na prática, independente. "Isto dá confiança de que as decisões não vão ser políticas e sim institucionais, com mais responsabilidade", afirma.
Retomada e produtividade - "Nossa retomada será mais forte que o ajuste. O cenário de perda de dinamismo na economia mundial deve ser revertido em três anos. Vai ocorrer uma desaceleração, mas o Brasil é um dos países mais produtivos do mundo e seu crescimento acontecerá principalmente nos setores da agricultura, construção civil e comércio exterior". A opinião é do economista-chefe do Banco do Brasil, Uilson Melo Araújo, que nesta manhã (14/10) fez uma palestra sobre os impactos da crise durante o Fórum dos Presidentes. Mesmo recomendando cautela, Araújo se mostra otimista com respeito aos "mecanismos preventivos" tomados pelo Banco Central. "Estamos tendo problemas de liquidez, mas em nenhum momento falamos de insolvência", lembra. Segundo ele, o país deu passos fundamentais na condução das políticas macroeconômicas. "Nossas instituições estão fortes e não há espaço no Brasil para medidas populistas", afirma. Araújo projeta um câmbio mais estável nos próximos meses. "Quando a turbulência amenizar, teremos uma taxa na casa de R$ 1,90", estima.