FÓRUM FINANCEIRO: Brasil continua sem política agrícola
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"No Brasil ainda não temos uma política agrícola. Temos um emaranhado de normas que regulam a concessão de crédito", afirmou, na manhã de hoje (29/08) o assessor técnico da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ademiro Vian, na abertura do II Fórum Financeiro 2008, promovido pelo Sistema Ocepar e Sescoop PR, e que teve a participação de diretores, gerente e analistas da área financeira das cooperativas. O fórum foi aberto pelo superintendente José Roberto Ricken, que discorreu sobre a importância dos vários fóruns técnicos realizados pelo Sistema Ocepar, que orientam as decisões tomadas pela organização.
Crescimento - Ricken disse que o sistema cooperativista vive um momento importante e de grande crescimento, o que demanda a necessidade do sistema ter profissionais bem preparados. Frisou que a realização de fóruns para discutir assuntos de interesse "é fundamental para a política da casa". Lembrou que as cooperativas agropecuárias já processam 35% dos alimentos que produzem, havendo portanto um potencial de 65% por fazer. Neste ano, o faturamento total de todos os ramos de cooperativas deve alcançar R$ 20 bilhões. Na esteira desse crescimento necessita-se de crédito, recursos para investimentos e profissionais capacitados na gestão. "Profissionalismo!", exclamou. Em seguida, o gerente de Desenvolvimento e Autogestão do Sescoop Paraná, Gerson Lauermann, fez a apresentação do conferencista, afirmando que os temas desse fórum foram definidos pelas cooperativas, de acordo com as necessidades sentidas pelos seus profissionais.
Transformação do sistema financeiro - Ao iniciar sua palestra, o assessor técnico da Febraban, Ademiro Vian, disse que "as notícias não são muito boas". Ele se referia à "transformação exemplar pela qual passa o sistema financeiro, o que está exigindo da Febraban a elaboração de um plano estratégico para os anos 2015 a 2017. O sistema financeiro se internacionalizou e para não pagar um preço alto por essa decisão terá fazer ajustes, inclusive provisão de recursos para riscos operacionais. "O sistema está (andando) numa velocidade de 120 km/hora. E o produtor, o empresário vai ter que estar acelerando. E quem não fizer isso vai ficar na poeira", enfatizou.
Sem política agrícola - Discorrendo sobre a concessão de crédito rural, área que conhece bem por experiência própria no início de sua carreira, Ademiro Vian afirmou que ainda falta ao Brasil o estabelecimento de uma política de crédito rural. "Temos um emaranhado de normas que regulam a concessão de crédito", explicou. Defendeu políticas de crédito rural específicas para cada cadeia produtiva e o ajuste da concessão do crédito para o mercado. Citou que são os processadores de alimentos que se apropriam da redução das taxas de juros ao crédito rural e não os consumidores finais, como se deseja.
Os últimos 77 anos - Vian mostrou as 20 principais medidas (leis, decretos, etc) tomadas pelos governos para apoiar a agricultura, afirmando que a maioria delas se refere a renegociação de dívidas agrícolas e ampliação do prazo de pagamento. Também as 26 câmaras setoriais da agricultura pouco têm contribuído para resolver as questões do setor, pois as cerca de 5 mil proposições apresentadas no ano de 1977 pedem, de forma geral, apenas quatro medidas: mais recursos, menos juros, mais prazo e redução de garantias. Nem as cinco câmaras temáticas do agronegócio têm conseguido resolver as grandes pendências do setor. Citou a não implantação do seguro agrícola, que exigiria no mínimo quatro estações meteorológicas por município agrícola, enquanto o Brasil não tem nem uma por município em média.
Mercado financeiro - O fórum prossegue nesta tarde com duas palestras. A primeira é do economista do Unibanco, Adriano Pires Lopes, que falará sobre a crise econômico-financeira nos EUA, seu impacto no Brasil e o cenário doméstico de juros, inflação, contas públicas e balanço de pagamentos. Em seguida, Eleandro Marques, da Bom Fundamento Escola de Investidores, fará uma análise técnica aplicada aos mercados futuros e commodities.