MEDIDAS ANTICRISE III: Governo já mobilizou R$ 250 bilhões para diminuir efeitos da crise

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A equipe econômica anunciou na quinta-feira (12/12) uma série de medidas de combate à crise que vão afetar diretamente o caixa do governo brasileiro. A estimativa é de que o país deixe de arrecadar R$ 9 bilhões.  Com isso, o volume de recursos mobilizados no combate à crise no Brasil já ultrapassa R$ 250 bilhões. O montante foi colocado à disposição do mercado por meio de linhas de crédito, liberação do compulsório e incentivos fiscais. Nem todo esse dinheiro, porém, foi efetivamente utilizado.  A maior parte desse valor - cerca de R$ 135 bilhões - foi colocada à disposição por meio da liberação do compulsório (dinheiro dos bancos que fica retido pelo Banco Central). Outra medida que envolveu uma soma significativa foi a regra que possibilitou a troca de moedas entre o Banco Central brasileiro e o americano (FED), em um valor equivalente a R$ 72 bilhões. As linhas de crédito liberadas pelo BNDES e pelo Banco do Brasil para empresas exportadoras e para produtores agrícolas somaram R$ 30 bilhões. Outras medidas perfazem mais R$ 15,8 bilhões.

Mundo - As principais economias do mundo vêm adotando pacotes para amenizar os impactos da crise. Nos países ricos, o foco tem sido a ajuda direta a instituições financeiras e o estímulo ao consumo. Nos Estados Unidos, epicentro da crise, a estimativa é de que já tenham sido colocados à disposição do mercado cerca de US$ 7,3 trilhões. O cálculo é da rede de TV americana, CNBC. A Grã-Bretanha anunciou um plano de resgate a instituições financeiras no valor de US$ 75 bilhões, além de outros US$ 300 bilhões em linhas de crédito para empresas. Mais recentemente, o país concedeu descontos em impostos no valor de US$ 30 bilhões. No Japão, estima-se que as medidas anticrise já tenham mobilizado US$ 275 bilhões. Entre elas está a concessão de "mesadas" a famílias com no mínimo quatro pessoas, somando US$ 2 bilhões.

Conta-gotas - No Brasil, o governo não precisou ajudar ou recuperar instituições financeiras à beira da falência. No país, as conseqüências da crise ficaram mais evidentes na falta de recursos para financiamentos às empresas e no encarecimento do crédito. Por isso as medidas tinham como foco a injeção de liquidez no sistema financeiro. O economista da PUC-SP, Antônio Correa de Lacerda, diz que as medidas anunciadas nesta quinta-feira pelo governo brasileiro "chegam atrasadas". "O grande desafio dos governos nesse momento é agir antecipadamente, ajustando a embarcação aos novos mares", diz. Segundo ele, enquanto a maioria dos países demonstra um esforço em estimular o consumo, no Brasil a política macroeconômica "não foi ajustada para lidar com a crise". 

Renúncia mais agressiva - "As medidas têm sido tímidas. A política monetária, por exemplo, com juros altos, não colabora". De acordo com Lacerda, o governo tem margem para fazer uma renúncia fiscal mais agressiva. "É melhor abrir mão de alguma receita agora do que perder tudo lá na frente", diz. Já o economista do Corecon, Cláudio Gonçalves, diz que o governo brasileiro vem adotando as medidas no tempo certo. "O governo tem demonstrado prudência ao tomar iniciativas de acordo com cada estágio da crise", diz. De acordo com Gonçalves, a carga tributária brasileira é muito complexa, o que dificulta a decisão por uma renúncia fiscal. "Até temos certa gordura para gastar, mas isso tem que ser muito bem costurado", diz. Além disso, diz, o Brasil tem um histórico "ruim" de mudanças nas regras do jogo e só recentemente conquistou a confiança do mercado. "No nosso caso, é melhor uma política mais conservadora, a conta-gotas", diz. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.  (Estadão)

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