MEIO AMBIENTE IV: Corre risco o acordo de Copenhague
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Chamado de "a conferência do século", o mega encontro internacional que deve resultar em um acordo para combater as mudanças climáticas, marcado para Copenhague, na Dinamarca, em menos de 60 dias, corre sérios riscos de fracassar. "A confiança que foi quebrada em Bancoc tem que ser restaurada e rápido", disse Jairam Ramesh, o ministro do Meio Ambiente da Índia. "Se isto não acontecer, podemos dizer tchau a um acordo em Copenhague." Ele repetiu a mensagem três vezes a 400 jornalistas, cientistas e intelectuais reunidos neste final de semana em Copenhague. Foi o mesmo recado do chefe da delegação chinesa, na semana passada, em Bancoc, na penúltima rodada de negociação, que terminou em impasse. O G-77, das nações em desenvolvimento, reagiu mal ao que seria um movimento dos europeus de afastar-se da negociação da segunda fase do Protocolo de Kyoto.Metas - Kyoto definiu metas de corte de emissão para os países ricos, de 2008 a 2012, em relação aos níveis de 1990. O que se negocia agora é a segunda fase destes cortes, que deverão ser muito mais arrojados segundo dizem os cientistas, para que o mundo não tenha que enfrentar catástrofes ainda piores. Metas mais contundentes de corte de emissão têm pingado devagar - duas notas fora da curva são a Noruega, que na semana passada se comprometeu com 40%, e o Japão, há um mês, com 25%. Dinheiro na mesa começa a surgir, mas não na proporção do que se imagina necessário. As economias emergentes, por seu turno, têm que apresentar planos e ações que afastem sua curva de emissões da rota ascendente - Índia, China, Brasil e México vêm andado neste rumo. Este é o quadro acertado há dois anos em Báli e que deveria desembocar em um acordo em Copenhague, em dezembro. Mas houve um desvio de rota.
UE e EUA - "Se a União Europeia abandonar Kyoto, não haverá acordo em Copenhague", deixou claro o ministro indiano. "É preciso trazer os EUA para o jogo, prosseguiu. Os EUA nunca assinaram Kyoto. À época, a gestão Clinton-Al Gore entendeu que o Congresso não ratificaria o tratado e o mundo ficou sem que o maior emissor do planeta aceitasse suas responsabilidades. A administração Barack Obama tem outra postura, colocou o tema no topo da agenda e comprometeu-se com uma meta. O problema é que ela é tímida em relação ao que é necessário e bem inferior ao que a Europa propôs.
Legislação - Para piorar o imbróglio, a legislação climática dos EUA está no Senado, para ser votada. Ninguém sabe o que sairá de lá. Obama prefere ter algo em casa para não dar outro passo internacional em falso. E sem os EUA, qualquer acordo é fraco. Acontece que há um novo risco: sem o maior poluidor do presente (a China) e do futuro (as outras economias emergentes), também não.
Doha - "Não podemos repetir o erro de Doha, o tudo ou nada", prosseguiu o ministro indiano. Ele sugeriu que o acordo em Copenhague se concentrasse em pelo menos sobre três pontos, os mais encaminhados e com mais consenso: recursos para a adaptação aos impactos da mudança do clima aos países mais vulneráveis, acordo no quesito desmatamento (que incluiria mecanismos de incentivo à redução de emissões por corte e queima de floresta) e uma forma de viabilizar a transferência de tecnologia. "Poderíamos acertar esses pontos, dar um início ao processo e, em alguns meses, voltar a Copenhague e decidir sobre o resto", disse Ramesh.
Falta de consenso - Mas não há consenso nem sobre isso. "Temos que fazer um acordo político robusto agora", dizia Connie Hedegaard, a ministra dinamarquesa do Clima e Energia. "Muitos detalhes ficarão para depois, como aconteceu com Kyoto, mas não se enganem: será um erro se tirarmos a pressão que existe agora no processo." (Valor Econômico)