MERCADO FUTURO I: China aumenta compra de soja e preço dispara em plena colheita
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A apetite da China por importação de soja surpreendeu o mercado e elevou as cotações do grão na Bolsa de Chicago (CBOT) e também no Brasil, em plena época de colheita. Em média, os preços internos estão 10% mais altos que em igual período do ano passado. O incremento das cotações - que vem sendo mais intenso desde o final de março - também estimulou os produtores brasileiros a venderem mais o grão. A estimativa é de que a comercialização, que representava 46% da safra brasileira até março, tenha avançado de 10 a 12 pontos percentuais somente em abril.
Evolução - "Está havendo grande evolução da venda de soja neste mês, pois os preços estão muito altos de Norte a Sul do País.", diz Eduardo Godoi, da AgRural. Na próxima semana, a consultoria deve divulgar o balanço da comercialização neste mês, mas Godoi estima que de 46% da safra, a venda deve atingir em torno de 58%, ou seja, avançar 12 pontos percentuais.
Cocamar - Na Cooperativa Agroindustrial Cocamar, de Maringá (PR), a comercialização aumentou significamente desde o final de março, segundo José Cícero Aderaldo, gerente comercial da cooperativa. Até 20 de março, 11% da produção dos cooperados deste safra estava vendida, percentual que deve ir para 35% até o dia 20 de abril. "No dia 20 de março, os preços da saca giravam em torno de R$ 44. Atualmente está em R$ 46,50", justifica Aderaldo.
Mais valorizada - De forma geral, mesmo com crise, a soja está mais valorizada nas principais regiões. Em Sorriso (MT), a saca de 60 quilos está valendo R$ 40,50, quase 11% mais que os R$ 36,50 de mesmo período de 2008, segundo dados da AgRural. Em Primavera do Leste (MT), essa vantagem é de 7%, em São Gabriel do Oeste (MS) é de 8,5%, no porto de Rio Grande (RS) é de 8,2%, e em Paranaguá (PR) de 7,2%. "É importante que os produtores do Sul do País consigam aproveitar esses preços para minimizar parte das perdas que tiveram em produtividade", acrescenta Godoi. Segundo AgRural, até o final de março, a região Sul tinha comercializado apenas 29% de sua safra de soja, ante a média nacional de 46%.
Apetite chinês - A decisão do governo da China de dobrar os estoques internos da oleaginosa é que está sendo determinante neste aumento de demanda além do esperado, segundo Sérgio Mendes, diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Com isso, as indústrias esmagadoras chinesas estão tendo de ir mais agressivamente ao mercado externo para adquirir o grão, o que está sendo potencializado com o receio de escassez de soja com a quebra da safra Argentina.
Conter preços - Glauco Monte, consultor de gerenciamento de risco da FCStone, acrescenta que a decisão do governo chinês de comprar soja doméstica também ocorreu para conter a queda nos preços da oleaginosa, até então acentuada no final do ano passado. "Com a queda na Argentina, os chineses ficaram muito mais ativos em comprar dos Estados Unidos e do Brasil", afirma.
Secex - Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a China comprou no primeiro trimestre quase o dobro de soja brasileira do que em igual período de 2008. Foram 1,5 milhão de toneladas (complexo soja), 88% a mais. Essa demanda forte transformou deságios em ágios nos portos brasileiros. O contrato maio está sendo negociado com ágio superior a 40 centavos de dólar por bushel (27,215 quilos) (o maior para esta época dos últimos cinco anos), quando o normal para período de colheita é existência de deságios.
Estoques americanos - A apetência chinesa por soja também deve reduzir os estoques americanos do grão a níveis bem menores do que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) projeta. "Para atingir os estoques estimados pelo órgão americano (165 milhões de bushels ou 4,5 milhões de toneladas), os Estados Unidos têm de exportar por semana 3,8 milhões de bushels (103,4 mil toneladas). Mas, esse volume vem sendo muito maior, em torno de 20 milhões de bushels (544,3 mil toneladas)", compara Monte. De forma geral, segundo o consultor, o mercado espera que a China importe 40 milhões de toneladas nesta safra, o que significa um volume 4 milhões de toneladas acima do que o estimado pelo Usda. "Somente no mês de março, a China importou dos Estados Unidos 3,2 milhões de toneladas, contra 1,86 milhões de março de 2008", acrescenta Monte. (Gazeta Mercantil)