OMC: Rodada de Doha fracassa por culpa dos EUA

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

A suspensão das negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio) pode assinar o atestado de óbito da Rodada de Doha sobre a nova ordem comercial mundial, por falta de um consenso político nos Estados Unidos a respeito da agricultura, afirmaram analistas consultados nesta terça-feira pela AFP. "A suspensão da rodada arrisca levá-la à morte? A resposta é sim", reconheceu o diretor da OMC, Pascal Lamy, depois de descartar a possibilidade de obter um acordo até o fim do ano. No melhor dos casos, os cinco anos de negociações lançadas em Doha, capital do Qatar, em 2001, podem ficar no congelador por muito tempo, com o fim das reuniões entre os diferentes comitês de negociações temáticas (agricultura, produtos industrializados, serviços...). Lamy se recusou a marcar uma nova data para a retomada dos trabalhos, deixando a decisão por conta dos 149 Estados membros. "Isto não quer dizer que não é possível recomeçar futuramente. Mas para ser franca, eu penso que não tem mais jeito. Somente o tempo dirá se a pausa é definitiva", observou por sua vez a comissária européia para a Agricultura, Mariann Fischer Boel.

Impasse americano - Os seis grandes atores da OMC (Austrália, Brasil, Estados Unidos, Índia, Japão, União Européia) não conseguiram um consenso segunda-feira, após uma reunião de última chance. Brasil, Índia e UE acusaram publicamente os americanos de serem os responsáveis pelo impasse ao recusarem a redução dos subsídios agrícolas. O fracasso enterrou qualquer esperança de chegar a um acordo antes da expiração dos poderes especiais de negociação comercial da administração americana, dia 30 de junho de 2007. Com estes poderes, garantidos pela lei chamada de "fast track" ou Autoridade para Promoção Comercial (TPA, da sigla em inglês), a Casa Branca pode negociar acordos comerciais e submetê-los ao Congresso para aprovação, sem que os parlamentares possam modificá-los. A administração Bush pode hesitar em se empenhar numa batalha política e o próximo presidente só assumirá suas funções em 2009.

Esperança em mudanças - "Podemos, talvez, esperar uma retomada das negociações em 2009 ou em 2010 com uma nova administração americana", diz Jean-Pierre Lehmann, diretor do Grupo de Evian, centro de reflexão favorável ao livre comércio. "O problema é que ninguém quer reduzir as barreiras alfandegárias", diz Alan Oxley, um ex-dirigente do Gatt, que deu origem à OMC. A única solução, segundo ele, é esperar três anos por novas equipes em ação tanto nos EUA como na Europa. "Se daqui a três anos não houver vontade verdadeira de redução de barreiras alfandegárias, será hora de decidir o que deve ser feito da Rodada de Doha". Na maioria dos países membros, a classe política acredita que há mais perdas do que ganhos com a liberalização do comércio, diante do peso dos grupos de pressão (agrícolas nos países ricos e industriais nos países do Sul). "Nenhum homem político quis perder o apoio que pode não ser compensando depois", comenta Jean-Pierre Lehmann. "As forças que querem o fracasso da rodada foram muito mais fortes, muito mais coerentes do que as que queriam seu sucesso". Além disso, para Lehmann, o crescimento da China torna inúmeros países em desenvolvimento menos inclinados a abrirem seus mercados.

 

Conteúdos Relacionados