Por Osmar
Dias (*)
Nas últimas
semanas, o País convive com uma escalada de atitudes que infringem
a lei, a ética, ou, no mínimo, atentam contra o bom senso.
Mas, se a crise ética cresce de forma avassaladora e existem remédios
para combatê-la ou exterminá-la, temos, paralelamente, uma
outra que se instalou e faz estragos irremediáveis e com reflexos
em todos os setores da sociedade. Refiro-me ao abandono da agricultura
e a falta de interesse, capacidade e adoção de medidas salvadoras.
A insensibilidade governamental para um setor responsável por mais
de 33% do PIB nacional nos faz pensar que existem interesses realmente
voltados para o seu aniquilamento e, ao mesmo tempo, ampliar a crise social.
Ninguém menos do que o presidente da FAEP (Federação
da Agricultura do Paraná), Ágide Meneguette, é quem
reitera: “é preciso solucionar urgentemente o problema do
profundo nível de endividamento do setor rural. Sem resolver esse
impasse, será muito difícil a manutenção do
nível de produção e de renda dos produtores rurais”,
adverte o dirigente.
Onde está o governo (por acaso, há governo)?
Segundo dados da CNA (Confederação Nacional da Agricultura)
o ano de 2005 apresentou os piores resultados para o agronegócio
brasileiro nos últimos seis anos. O Produto Interno Bruto (PIB)
do agronegócio brasileiro do ano passado foi de R$ 537,63 bilhões,
queda de 4,66% na comparação com os R$ 563,89 bilhões
relativos ao total de 2004. Em valores nominais, a perda foi de R$ 26,26
bilhões. O PIB do agronegócio considera os dados agregados
de vários segmentos, incluindo a produção primária
da agricultura e da pecuária, além dos segmentos de insumos
e distribuição. Pois os 4,66% de queda no conjunto do PIB
do agronegócio não foi o pior dos resultados apurado no
estudo realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). A análise
comprova que foram os produtores rurais os que mais perderam no ano passado.
Sem renda, deixaram de comprar insumos, em investir na produção,
e com isso geraram um ciclo de perda para todo o agronegócio.
A agricultura, isoladamente, foi o segmento que registrou as maiores perdas
em 2005, com redução no PIB de R$ 100,78 bilhões,
em 2004; para R$ 85,20 bilhões, em 2005. É uma queda de
15,46%, ou seja, perda de R$ 15,58 bilhões.
Onde está o governo (por acaso, há governo)?
A base rural está em desespero e pede socorro, mas ninguém
ouve. Outro dia, fui abordado por uma produtora de Castro. Sua família
está em atividade há quatro gerações nos Campos
Gerais e, portanto, tem tradição naquilo que faz. Venceu
uma prestação da compra de um trator correspondente a R$
16.611,00 (mais juros de R$ 1.949,00). Sem recursos, foi ao banco (15
dias antes do vencimento) tentar renegociar. A resposta foi muito simples
e cretina: assine três cheques e calcule juros de “apenas”
4% ao mês. Simplesmente, isso não existe.
Onde está o governo (por acaso, há governo)?
Longe de políticas públicas indispensáveis e desejáveis,
o governo assiste a tudo sem agir. Com a proximidade da Copa do Mundo
e a campanha da reeleição nas ruas, o governo está
paralisado. Sem ação. Porém, se observam alguns movimentos
que deixam claro que o governo incentiva a crise no campo, principalmente
por não estabelecer preço mínimo para os produtos
e, embora tenha prometido, até hoje não criou seguros agrícolas
para garantir a plantação.
É inaceitável produzir o trigo, o milho, a soja, entre outros,
a um custo e receber valores inferiores a ele, como tenho sistematicamente
denunciado.
O tempo é de desesperança nos meios produtivos de todo o
País. Já se ouve fortemente no campo que “Lula é
a nova praga da agricultura”. Talvez por essa razão existem
rumores da saída de Roberto Rodrigues do Ministério da Agricultura.
Houve desmentidos, o que é bom. Fala-se em apressamento da liberação
de recursos para a comercialização da safra. Mas, não
é tudo. Onde estão as promessas feitas durante o tratoraço?
Onde está o governo (por acaso, há governo)?
Todos aqueles que são responsáveis por esta situação
esquecem que “o proveito da terra é para todos; até
o rei se serve do campo”. Ninguém, por mais que queira ou
esteja a serviço de interesses alienígenas, poderá
destruir a máxima de que “o campo é do mundo”.
(*) Osmar
Dias é senador pelo Paraná, líder do PDT
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