RELAÇÕES EXTERNAS III: Amorim vê criação de novo espaço econômico do Sul

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A movimentação dos países pobres e em desenvolvimento em Genebra, nas reuniões da Organização Mundial do Comércio (OMC) de ontem abrem caminho para a criação de um novo "espaço econômico do Sul", previu o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, em conversa com o Valor. "As placas tectônicas do comércio internacional estão se movendo", comentou. "A era do livre comércio como pensada na década de 90 acabou, é coisa do Consenso de Washington, temos de fazer outros acordos comerciais", analisou Amorim. "Podemos até incluir a discussão sobre livre comércio, mas não posso partir para um acordo econômico dizendo que é o livre comércio ou nada." Amorim comemorou a reunião realizada com os ministros da Índia e da Sacu, a união alfandegária liderada pela África do Sul, que, segundo acredita, permitirá acelerar a ampliação dos acordos de livre comércio com o Mercosul e explorar novas modalidades de aproximação econômica e comercial.

Ele rejeita a avaliação de que a política comercial brasileira não teve êxito porque foi incapaz de firmar acordos comerciais de peso. Lembra que, além do acordo com Israel, do acordo automotivo com o México e do acordo de liberalização progressiva com os países sul-americanos, o país foi capaz de aumentar em mais de trinta vezes as exportações com a América Latina, em relação aos níveis de comércio do início da década.

Amorim reconhece que a aproximação entre Índia, Sacu e Mercosul não deve gerar, no curto prazo, a liberalização total das transações comerciais, mas acredita ser possível aumentar a interdependência econômica entre esses países, ao mesmo tempo em que ganham maior influência nas discussões mundiais sobre o tema.

Para o ministro, um novo impulso à vagarosa negociação conhecida como rodada Doha foi conseguido ontem, com uma "excepcional" reunião dos países do G-20 (grupo na OMC que se opõe às políticas agrícolas dos países ricos). "O G-20 foi copiado pelo G-10", ironizou, comparando, no jargão da OMC, os resultados da reunião do grupo de países em desenvolvimento com a do grupo menor de países mais ricos. Partiu do G-20 a ideia de realizar, ainda no primeiro trimestre, um encontro destinado a computar os avanços das negociações, e a decisão política de insistir com a conclusão da rodada Doha em 2010, comenta ele.

Reunião - Nesta terça-feira, os ministros se reúnem para discutir o que vem sendo chamado de "Rodada São Paulo", de negociações para redução de tarifas de comércio entre os países os países pobres e em desenvolvimento da Unctad, o braço das Nações Unidas para comércio. Amorim aponta a reunião como um dos movimentos da "placas tectônicas do comércio internacional". Ele garante que os esforços do Brasil com os chamados países do Sul não são um confronto com os Estados Unidos, com quem o Brasil negocia um acordo-quadro, mais genérico. (Valor Econômico)

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