RODADA DOHA: EUA, Índia e China derrubam Doha
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Foram sete anos de negociações, inúmeros encontros, protestos no mundo todo e centenas de ligações entre presidentes. Mas a Organização Mundial do Comércio (OMC) fracassou em chegar a um acordo na Rodada Doha. O processo, que tinha como objetivo corrigir as regras do comércio e dar novo impulso à economia global, desabou ante os conflitos entre Índia e Estados Unidos, que não aceitaram um pacote de liberalização.
Brasil - O Brasil tentou até o último minuto mediar uma solução, mas não conseguiu convencer os parceiros a aderir ao pacote e um acordo agora poderá ser retomado, na melhor das hipóteses, em 2010. Os americanos recusaram-se a fazer concessões para tentar acomodar os interesses dos emergentes e o presidente George W. Bush concluirá o mandato sem o acordo comercial. Para os demais ministros, faltou vontade política, sobretudo de Washington, Nova Délhi e, de certa forma, de Pequim.
Fracasso coletivo - "Vai levar anos para que as pessoas voltem a negociar", afirmou o chanceler Celso Amorim, visivelmente chateado diante do resultado. "É um fracasso coletivo", definiu o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson. Países ricos e pobres apostavam na Rodada Doha como forma de mandar um sinal positivo à economia mundial, em plena crise. Para ministros e para a própria OMC, a idéia era de que a conclusão do processo abriria novos mercados e reduziria as distorções. Agora, o fiasco é considerado um sinal negativo para a economia mundial. "Esse fracasso é doloroso e terá um impacto negativo para a economia global", afirmou Mandelson.
"A vida continua" - A rigor, a Rodada Doha não acabou definitivamente e outras rodadas também acabaram adiadas no passado. Mas, desta vez, a crise pode ser bem mais profunda, já que o acordo redesenharia a estrutura do comércio diante das novas potências emergentes. A Rodada Doha poderia ser retomada pelos governos e mesmo o conteúdo que se negociou poderia ser preservado. Mas poucos acreditam que isso possa ocorrer no curto ou médio prazo. "A vida continua. Não está sob nossas capacidades manter o que conseguimos até agora intacto. Não vamos nos iludir. Crises ocorrerão no mundo e os interesses protecionistas vão aumentar", alertou Amorim.
O que estava em jogo - Em jogo, porém, não estavam apenas as tarifas de frango ou têxteis, mas uma nova fase da globalização, baseada não apenas em duas potências, mas em uma constelação. Não por acaso, o grupo formado para tentar um acordo incluía tradicionais potências, como EUA, UE e Japão, mas também Brasil, China e Índia. "Perdemos a possibilidade de fechar o primeiro pacto de uma ordem global redesenhada", lamentou Mandelson. (Estadão)