SAFRA 2008/09 I: Armazéns no limite

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

A Coamo Agroindustrial, com sede em Campo Mourão (Noroeste), possui uma capacidade instalada própria para armazenar 3,66 milhões de toneladas de grãos. Com o aumento da produção e também da sua área de ação, nos últimos anos a cooperativa passou a buscar espaço em armazéns de terceiros, como da Conab. Hoje, para acomodar a produção dos cooperados, ela precisa contratar, em média, 500 mil toneladas. Para o próximo ano, no entanto, a Coamo se prepara para alugar silos que comportem perto de 1 milhão de toneladas, extra capacidade. Ao contrário do que se possa imaginar, o motivo não está no tamanho da safra, que deve ser normal em volume de produção. A preocupação é com os estoques em alta e os preços em baixa, equação que trava o mercado e compromete a liquidez dos grãos.

Volume supera média histórica - E o aperto não é exclusividade da cooperativa. Os números revelam que o volume estocado é 25% superior à média histórica para está época do ano no Paraná. Somando o que restou do ciclo de verão, com o excelente resultado do trigo e do milho safrinha, estima-se que 10 das 24,64 milhões de toneladas da capacidade do estado estejam ocupadas - nesta época a ocupação sempre girou de 7 e 8 milhões de toneladas.

Capacidade de estocagem - O Paraná responde por 20% da capacidade de armazenamento do país. A explicação para aparecer no topo do ranking está no cooperativismo. As cooperativas do estado detém 54% das 24,64 milhões de toneladas disponíveis. Essa estrutura poderia ser ainda maior, não fosse a crise econômica, que obrigou a revisão dos investimentos. O sistema havia programa aplicar neste ano R$ 355 milhões na ampliação e modernização dos silos. Até agosto foram realizados 60% dessa verba. O restante dos recursos deverão ser aplicados até o final do ano, explica Fávlio Turra, gerente técnico econômico da Organização das Cooperativas (Ocepar).

Excedente no milho é igual ao dobro do ano passado - Os estoques de milho estão no seu maior patamar dos últimos anos, situação que preocupa o produtor brasileiro, que corre para finalizar o plantio da safra 2008/09. A colheita de uma safrinha recorde, aliada à queda nas exportações, vai deixar no mercado brasileiro um excedente de quase 14 milhões de toneladas do cereal, mais que o dobro do registrado no ano passado. O volume é suficiente para quase quatro meses de consumo, contra pouco mais de 50 dias no ciclo anterior. O maior estoque de passagem já registrado até então foi em 2004, quando o país acumulou 7,8 milhões de toneladas do grão, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No ano passado, o excedente foi de 6,6 milhões de toneladas.

Safra histórica - A superoferta de produto no mercado interno acontece porque o Brasil colheu na temporada 2007/08 a sua maior safra de milho da história, justamente num ano em que as safras mundiais também foram cheias. Somando a primeira e a segunda safra, a produção no país vai a 58,6 milhões de toneladas, 14% a mais que no ciclo anterior, ainda de acordo com a Conab. O consumo interno cresceu cerca de 10%, mas não foi suficiente para compensar a queda de 31% nas exportações brasileiras do cereal. A expectativa inicial de embarcar em 2008 as mesmas 11 milhões de toneladas de 2007 não vai se concretizar.

Exportação - Na melhor das hipóteses, acreditam os analistas, o Brasil vai exportar cerca de seis milhões de toneladas. A estimativa da Conab é um pouco mais otimista, mas confirma o cenário baixista para a comercialização da nova safra do cereal. Segundo a estatal, o país vai embarcar até o final do ano 7,5 milhões de toneladas. Até agosto, foram 3,9 milhões, acumulado 30% menor que o do mesmo período do ano anterior. Ou seja, para alcançar a meta da companhia, o Brasil teria de exportar, em apenas quatro meses praticamente o mesmo volume que embarcou em oito meses, o equivalente a 900 mil toneladas mensais entre setembro e dezembro.

Comercialização - Com os preços em queda no mercado aqui dentro e lá fora, a comercialização está travada, o que agrava ainda mais a situação. Ao menos por enquanto, ainda não se fala em redução da demanda doméstica - a Conab estima para 2008/09 uma elevação de 4% no consumo interno de milho -, mas no campo o clima já é de apreensão. "Se não houver incentivo, vou reduzir em 80% a área de safrinha", afirma o produtor Ilsioni Francisco Cherubini, de Medianeira (Região Oeste). Ele cultivou no último ano 250 hectares do cereal de inverno e afirma que a produção foi boa, mas se diz desanimado com as condições atuais de mercado. Neste verão, manteve os 30 hectares de milho porque comprou os insumos antecipadamente, mas está disposto a fazer apenas cobertura verde no inverno se os preços não estiverem atrativos na hora do plantio da segunda safra. O produtor Paulo Greggio, de Campo Mourão, no Noroeste do estado, também não alterou a área de plantio de milho de verão, que ocupa 288 hectares. Mas ele já decidiu que vai reduzir quase pela metade a extensão destinada à safrinha, no próximo ano. "Pelo custo, o preço do milho está muito ruim", lamenta o produtor.  (Gazeta do Povo)

Conteúdos Relacionados