SAFRA 2023/2024: Em evento da Ocepar, técnicos estimam quebra significativa nas lavouras de soja, milho e feijão

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Perspectivas da Safra 2023/2024 foi tema do evento online realizado na manhã desta quinta-feira (18/01), por iniciativa do Sistema Ocepar. Com as condições climáticas adversas, agravadas a partir de meados de dezembro, a previsão é de uma quebra maior do que havia sido prevista especialmente nas lavouras de soja, milho e feijão no Paraná.

Avaliação - A programação foi aberta pelo presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, que destacou a importância de, nesse momento, trazer as avaliações da safra. “É uma oportunidade para analisarmos as projeções da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] e do Deral [Departamento de Economia Rural, da Secretaria da Agricultura do Paraná] sobre o desempenho das lavouras e os impactos no mercado”, disse Ricken, que, na quarta-feira (17/01), participou de reunião da OCB [Organização das Cooperativas Brasileiras], com o propósito de avaliar as condições da safra nacional.  

Política Agrícola - A live contou com a participação do secretário nacional de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, que assumiu o cargo no final de dezembro. Ele disse que inicia o trabalho com o desafio de promover o diálogo com o setor produtivo. “Vamos trazer de volta o setor para dentro do ministério e dar a estatura política que esta secretaria merece”, declarou. O antecessor de Geller na pasta, Wilson Vaz de Araújo, que continua atuando na secretaria, também participou do evento, que teve ainda a presença do deputado federal Sergio Souza e do secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara.

Alto risco - “Estamos em alto risco. O desenvolvimento das lavouras vinha bem até 15 de dezembro. A partir daí desandou, com estiagem e altas temperaturas. Na próxima quinta-feira (25/01), vamos divulgar uma nova redução consistente da safra, especialmente da soja”, disse Ortigara. Segundo ele, o quadro no campo é de “absoluto estresse das plantas, com folhas esturricadas que vão trazer pouca carga”, apontou.

Mercado - O secretário alertou que é necessária “uma posição absolutamente clara do tamanho do estrago” que está acontecendo na nossa produção para que o mercado se ajuste. “O último relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) ainda não mostrou esse impacto”, observou o secretário. Ortigara fez referência à última previsão da Conab, divulgada em 10 de janeiro que indica uma produção de 155,3 milhões de toneladas, já com redução de 4,2% em relação à primeira estimativa, que previa 162 milhões de toneladas. Com a situação nas lavouras do Mato Grosso e Paraná, principais estados produtores, o secretário acredita que a produção nacional fique abaixo de 150 milhões de toneladas, mais próximo de 145 milhões de toneladas.

Liderança - Como maior produtor de soja do mundo, é o Brasil que tem peso relevante na definição dos preços mundiais da commodity. “A safra brasileira é a mais importante do mundo não apenas em volume, mas em impacto no mercado”, disse Étore Baroni, consultor da Stonex Brasil, que participou da webinar falando sobre Tendências de preços e mercado para a Safra 2023/2024. “O mundo produz 399 milhões de toneladas de soja, 54% desse volume é da América do Sul [especialmente Brasil e Argentina]. Os Estados Unidos produzem 113 milhões de toneladas, ou cerca de 28,5%. Além de produzir menos, os Estados Unidos têm direcionado um volume muito grande para o esmagamento, consumindo o produto mais internamente e reduzindo as exportações. E o Brasil está inundando o mundo com soja e milho nesse momento”, pontuou. Isso porque 2023 foi um ano excepcional, com safra recorde. Não acredito que isso se repita”, declarou o consultor.

Preço - Segundo o consultor, “a expectativa para 2024 é que a receita não seja ruim [para o produtor de soja]”. “Se o Brasil colhesse 160 milhões de toneladas, como previsto inicialmente, o preço já estaria abaixo de R$ 100 a saca em todas as regiões do Paraná”, acredita. Hoje os preços variam entre R$ 106 e 120. “O preço nasce da oferta. A demanda é contínua e constante”, acrescentou Baroni.

10% menor - O diretor do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura, Marcelo Garrido, apresentou os dados do último relatório relativo à colheita da safra, divulgado na última terça-feira (16/01). A soja estava com 7% da área colhida, o milho com 5% e o feijão da primeira safra, com 70% já colhidos. “De toda a soja que está a campo para ser colhida, cerca de 36% apresentam desenvolvimento ruim, com quebras já consolidadas. Dia 25 teremos uma reavaliação com números menores na maior parte das lavouras”, disse. Segundo ele, a nova previsão de safra deve confirmar uma quebra de 10% na produção de soja, reduzindo de 22 milhões de toneladas (previsão inicial) para 20 milhões de toneladas. De acordo com o técnico, haverá quebras também nas lavouras de milho e feijão.

Clima - O meteorologista Luiz Renato Lazinski, que atuou por 30 anos no Instituto Nacional de Meteorologista (Inmet) e hoje presta consultoria na área, participou da webinar falando sobre as tendências climáticas. Ele lembrou que desde o início da safra o clima foi desfavorável. “O fenômeno El Nino provocou chuvas intensas. Em outubro chegou a chover entre 600 e 700 milímetros em algumas regiões, cerca de quatro vezes mais que o normal para essa época do ano. Isso atrapalhou o início do plantio da safra de verão e a colheita do trigo, que perdeu qualidade”, relatou. A partir de meados de dezembro foi a falta de chuva que atrapalhou o desenvolvimento das plantas”, informou.

La Niña - Segundo o meteorologista, de acordo com as previsões do Inmet, deve chover bem em fevereiro e março. Em abril, as chuvas serão mais distribuídas, chovendo dentro do esperado, com condições adequadas para o início do plantio do milho safrinha. A partir de maio, as chuvas diminuem devido ao fenômeno La Niña. E a chance de ter geada cedo no PR é pouca este ano.

Baixa umidade - Outra preocupação, segundo Lazinski, é a baixa umidade do solo na região Sul do país. “Deveríamos estar com 100% de umidade porque janeiro tradicionalmente é um mês que chove muito, mas estamos com cerca de 60% a 70%. Na região Centro-Sul está um pouco melhor, com 80%. Teria que chover bem mais em janeiro para repor a umidade do solo”, disse o meteorologista, explicando que esta situação pode prejudicar o plantio da próxima safra.

250 participantes - “O evento foi acessado por cerca de 180 links, mas considerando que alguns reuniram grupos de participantes, foram no total cerca de 250 pessoas acompanhando a live”, destacou o superintendente da Ocepar, Robson Mafioletti. O evento teve como público-alvo dirigentes, executivos e profissionais de assistência técnica e crédito rural das cooperativas do Paraná.

 

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