SOJA: Safras recordes aumentarão disputas para ocupar mercado

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Com a produção de soja global crescendo 20% na safra 2009/10 e a demanda estimada para aumentar bem menos, algo em torno de 6 por cento em relação a 2008/09, a disputa para ocupar o mercado mundial deve ser acirrada neste ano, disseram analistas e corretores. Esse acirramento na competição, que pode resultar em preços mais frouxos, será intensificado após a confirmação de grandes safras do Brasil e Argentina, segundo e terceiro produtores globais, que serão somadas a uma colheita também recorde dos Estados Unidos, o principal player mundial. Enquanto a safra norte-americana já está colhida, resultando em mais de 90 milhões de toneladas, o Brasil apenas começou os trabalhos de colheita no Centro-Oeste, e a safra da Argentina deverá chegar ao mercado apenas ao final de março.

Estoques - "Isso fará com que os estoques mundiais voltem aos níveis de anos anteriores... deverá segurar reações de preços", afirmou o analista Lucílio Alves, do Cepea, referindo-se às previsões para a oferta e demanda global em 09/10. Os preços em Chicago já refletem a expectativa de uma oferta maior, com queda de cerca de 10 por cento no acumulado do mês. "Nesta situação (de oferta), sem dúvida, a concorrência aumentará", acrescentou o analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

Argentina - O analista de soja da corretora Cerealpar, Steve Cachia, com escritório em Malta, disse que a força da Argentina não pode "ser subestimada", embora o clima ainda precise continuar favorável para a confirmação da safra, recém-semeada. "A disputa tende a ser bastante acirrada", ressaltou Cachia, lembrando que a Argentina deve retomar boa parte do mercado de soja em grão perdido para Brasil e EUA em 08/09. Na temporada passada, uma severa seca no país vizinho resultou em uma safra argentina 20 milhões de toneladas menor em relação às estimativas iniciais. Mas agora, com a Argentina exportando em 09/10 cerca de 10 milhões de toneladas, quase o dobro da temporada passada, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), as vendas do Brasil tendem a recuar do recorde de 2009.

Exportações - Em 2009, as exportações brasileiras do complexo soja, o principal produto do agronegócio do Brasil, atingiram 17 bilhões de dólares. E só ficaram estáveis ante 2008, em meio a preços mais baixos, porque o volume exportado de grãos foi recorde, alcançando 28,5 milhões de toneladas, segundo o Ministério da Agricultura. O USDA prevê redução de 5 milhões de toneladas nas exportações do Brasil em 09/10, volume semelhante ao aumento esperado para as exportações da Argentina, que é o maior exportador global de farelo e óleo de soja. Para este ano, com uma safra estimada para crescer 8 milhões de toneladas, a 65 milhões de toneladas, os brasileiros também enfrentarão uma concorrência maior dos Estados Unidos, que já firmaram contratos para vendas à China, o maior importador global, em volume 70 por cento maior ante a mesma época do ano passado.

Competitividade - Os especialistas são unânimes em afirmar que o real forte frente ao dólar é o principal problema para a competitividade da soja brasileira, reduzindo a rentabilidade do produtor. "Se considerar a exportação, o que mais pesa é a taxa de câmbio, não só para a soja, mas também para as demais commodities exportadas", afirmou o analista da Céleres Leonardo Menezes. Do lado da Argentina, o câmbio não é tão desfavorável para a formação dos preços locais, mas o governo argentino taxa em 35 por cento as exportações da oleaginosa, lembrou Menezes. Esse sistema tarifário frequentemente gera protestos da parte de produtores.

Escala - Sem prever grandes mudanças no câmbio e antevendo a grande safra global, os produtores já se preparam para ganhar mais na escala vendida do que com preços. "O produtor está vendo é que o preço vai ser menor, mas a safra vai ser maior. Aqui no Paraná vão ser até 4,5 milhões de toneladas a mais de soja no mercado. Não vamos vender a 42 (reais por saca), mas vamos vender a 35, 37, 38, e o valor (bruto) da produção total vai ser melhor do que o ano passado", afirmou Robson Mafioletti, assessor técnico e econômico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), lembrando que os custos de produção foram mais baixos em 09/10. As menores exportações esperadas para o Brasil também permitirão que o país recupere estoques e aumente o processamento interno, acrescentaram os analistas. (Reuters)

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