SUCROALCOOLEIRO: Excesso de cana leva Centro-Sul a \"emendar\" safra

Pela primeira vez na história do setor sucroalcooleiro do país, parte das usinas do Centro-Sul do país vai "emendar" uma safra na outra. A decisão de manter uma moagem ininterrupta reflete o excesso de matéria-prima disponível nos canaviais e também a necessidade das indústrias de fazer caixa. Nessas unidades produtoras, a colheita da safra 2008/09 termina no dia 31 de março e o novo ciclo, 2009/10, começa já no dia seguinte.

Sem parar - Com duas usinas de açúcar e álcool, o grupo Equipav não parou para o tradicional período de manutenção, que ocorre durante a entressafra - de janeiro a marco. A unidade Biopav, de Brejo Alegre (SP), inaugurada em outubro passado, não desligou as máquinas da nova planta, uma vez que tinha uma grande disponibilidade de cana para moer. Apesar do ineditismo da medida, os custos para se manter uma safra contínua são enormes, e em alguns casos até não compensam o esforço.

Rendimento baixo - "O rendimento da cana é muito baixo nesta época", afirmou Jose Carlos Moraes Toledo, um dos acionistas do grupo Equipav. "Nesse período a cana encontra-se em estágio vegetativo e não é muito propícia para o corte."  Na usina Agrest, em Espírito Santo do Turvo (SP), a decisão de emendar uma safra na outra estava prevista para 2010, mas foi antecipada em um ano. "O sonho de todo usineiro é ter uma safra que não para", afirmou Francisco Júnior Bibiano, diretor-administrativo da usina. A unidade foi inaugurada em 2003, e a intenção é manter a safra por 12 meses consecutivos. "A moagem é uma forma de financiar a produção", disse. Nesta safra, a moagem está estimada em 1,8 milhão de toneladas e a próxima deverá manter os mesmos volumes. Duas das seis usinas do grupo J. Pessoa também está em plena moagem, segundo José Pessoa de Queiroz Bisneto, presidente da companhia sucroalcooleira. As duas unidades do grupo em Mato Grosso do Sul não devem parar antes da nova safra.

Fluxo de caixa - Por conta da escassez de crédito no mercado, aliada à crise financeira pela qual as usinas do setor sucroalcooleiro passam, a decisão de esticar a moagem foi tomada por algumas usinas como garantia de manter o fluxo de caixa.

Moagem - Nesta safra, o Centro-Sul deverá processar cerca de 500 milhões de toneladas, segundo estimativas do mercado. A expectativa é de que cerca de 30 milhões de toneladas de cana fiquem nos canaviais. A perspectiva é de que a colheita da nova safra cresça entre 5% e 10%. Entre 15 e 20 novas usinas devem entrar em operação a partir deste ano. A maior disponibilidade de matéria-prima durante a entressafra tem ajudado a pressionar as cotações do álcool. Em fevereiro, as cotações do etanol hidratado recuaram cerca de 12%, enquanto os preços do açúcar registram aumento de 13,3%. (Valor Econômico)