SUÍNOS: R$ 9 milhões para carne cair no gosto do freguês
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Obeso ou não, o brasileiro vai consumir dois quilos a mais de carne suína por ano, com aumento de 15% do produto em sua dieta - chegando a 15 quilos anuais. A aposta é dos criadores de suíno, que executam um plano orçado em R$ 9 milhões para provar, sem fazer propaganda na televisão, que o alimento é saudável. Enquanto arregaça as mangas e começa a trabalhar com o mercado, o setor tenta decifrar os segredos do consumidor, principal foco da PorkExpo 2010 e do V Fórum Internacional de Suinocultura, que reúnem 20 mil pessoas nesta semana em Curitiba.
Vilã - Será preciso convencer a sociedade de que a carne suína não é a vilã do sobrepeso, mostrou o palestrante Andzrej Sosnicki, chamado para apresentar cases de sucesso do setor nos Estados Unidos. Entre os norte-americanos, 63% das pessoas apresentam sobrepeso, citou. No Brasil, o problema atinge 50% dos homes e 48% das mulheres, informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nessas condições, dois em cada três consumidores evitam comer gordura em qualquer alimento, disse Sosnicki, citando pesquisas feitas na Europa. Por lá, o consumo chega a 45 kg ao ano por pessoa.
Ações - O Plano Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS) começou com cursos para açougueiros, esclarecimentos para médicos e nutricionistas e muita divulgação fora da grande mídia, conta a coordenadora, Lívia Machado. Neste primeiro ano do projeto, 2.091 pessoas foram qualificadas. Houve divulgação direta sobre a carne suína para 622 mil pessoas em feiras agropecuárias, relata. "Outras ações localizadas estão elevando as vendas em até 60%", sustenta. Um supermercado de Curitiba está vendendo 10% mais depois de mudar a apresentação do produto e uma churrascaria teve aumento de 26% com um cardápio adaptado, cita a executiva.
Recursos - Perto de 10% dos recursos já foram aplicados, segundo Livia. Do total de R$ 9 milhões, 42% são recursos públicos repassados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O PNDS deverá passar por auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). O fato de o orçamento incluir dinheiro público é um dos motivos pelos quais o plano ainda não chegou à televisão. "Não podemos pagar propaganda", diz a coordenadora.
Campanha nacional - No entanto, o lançamento de uma campanha na mídia nacional é o próximo passo a ser dado pelo setor, conforme o conselheiro de Mercado da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Rubens Valentin. Segundo ele, o setor está se dando conta de que a propaganda é necessária para mudar o cardápio do brasileiro. As primeiras estimativas são de que essa campanha possa custar R$ 10 milhões. "Temos que fazer uma vaquinha" para aumentar o consumo de carne suína, afirma Valentin.
Atração - Os especialistas em marketing viraram atração na PorkExpo. Washington Olivetto afirmou que uma vantagem do setor é ter o que dizer. Ele se refere às propriedades da carne e ao mito de que todos os cortes têm excesso de gordura. Em sua avaliação, a carne suína não compete necessariamente com a de boi (34,5 kg/pessoa/ano) ou a de frango (39,5 kg/pessoa/ano), mas com os alimentos que são anunciados. Ou seja, o consumidor pode mudar seus hábitos e, numa época de renda em crescimento, comprar mais carne e derivados. A PorkExpo 2010 começou terça (14/09) e termina nesta quinta (16/09) no Estação Convention Center.
Oferta - Dois quilos não é muito, mas como 80% da carne suína brasileira atendem ao mercado interno, o setor produtivo terá de investir perto de R$ 1 bilhão se essa previsão de aumento no consumo se confirmar em três anos. Seriam necessárias mais 200 mil matrizes. Os números partem da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS). Por que o setor não deixa simplesmente a demanda pressionar o mercado e elevar os preços para ampliar seus lucros? Porque reajustes afastariam o consumidor. O objetivo é elevar o consumo de forma contínua e sem solavancos, conforme o diretor de Mercado da entidade, Rubens Valentin. Conforme o diretor executivo da ABCS, Fabiano Coser, o mercado está equilibrado atualmente. "Há 18 semanas o preço (ao produtor) está acima de R$ 2,8", justifica, citando cotações de Minas Gerais e São Paulo.
Estados - O Plano de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS) começou por seis estados: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo. Acabam de ser firmadas parcerias também na Bahia e no Ceará. Os maiores mercados consumidores, São Paulo e Rio de Janeiro, ainda não foram trabalhados. (Gazeta do Povo)