TRIGO III: Produtor da Argentina cobra medidas de apoio
- Artigos em destaque na home: Nenhum
Com a menor produção em 32 anos, o trigo se transformou no maior ponto de discórdia entre o campo e o governo argentino. A safra de 2009/10 deverá recuar 17% sobre a anterior, alcançando 7,5 milhões de toneladas, e não chegará a metade da colheita de 2007/08. De histórica fornecedora mundial do grão, a Argentina produzirá menos do que a Ucrânia e somente um terço do Paquistão.
Comercialização - "Depois de todos os problemas de seca e de rentabilidade, agora os produtores não conseguem comercializar a safra", diz o ex-presidente da Sociedade Rural Argentina (SRA) Luciano Miguens. Ele e lideranças das outras três grandes entidades do agronegócio se reuniram nesta terça-feira (12/01) para cobrar medidas urgentes do governo. Não estava descartada a decretação de um locaute no campo. O tom das queixas aumentou com a ausência do ministro da Agricultura, Julián Domínguez, que ignorou o convite para participar da reunião. Até o fechamento desta edição, o encontro ainda não havia terminado.
Círculo vicioso - Segundo o economista Alejandro Ovando, diretor da consultoria Investigações Econômicas Setoriais (IES), a produção de trigo entrou em um círculo vicioso. Preocupado com a inflação, cuja taxa superará dois dígitos pelo quarto ano seguido em 2010, o governo impôs cotas de exportação para "desviar" a produção ao mercado doméstico. As cotas foram atingidas rapidamente e não houve desabastecimento interno. O problema é que a restrição assustou muitos produtores, que migraram para outros cultivos, principalmente o de soja. Com isso, a área da safra atual de trigo é menor do que a de 1903.
Controles - O setor pede a remoção dos controles à exportação. "Temos que normalizar o mercado trigueiro", afirma Miguens. Para o diretor da IES, o governo também errou ao fazer acordos de preços para conter a alta da farinha de trigo e do pão. "Os preços continuaram subindo", diz Ovando. Segundo o economista, a restrição às vendas para o exterior perderam completamente o sentido e são pré-condição para recuperar a produção. "Não é preciso ser nenhum grande profissional para entender isso". Os efeitos sobre as exportações são visíveis. De 7,9 milhões de toneladas exportadas nos 11 primeiros meses de 2008, o volume caiu para 4,5 milhões de toneladas em 2009 - mais de 85% dos embarques foram destinados ao Brasil. O preço médio também despencou. De US$ 301 em 2008, caiu para US$ 197.
Linha de crédito - Na tentativa de acalmar os ânimos, o governo argentino anunciou a abertura de uma linha de crédito do Banco de la Nación, a taxas subsidiadas e prazo de até 270 dias, para o armazenamento dos grãos. Com isso, a ideia é permitir aos produtores que esperem o momento de melhor cotação do trigo, em vez de vender a preços baixos a atual colheita. A Sociedade Rural classificou a medida como "insuficiente". Com relação aos controles de preços e às cotas de exportação, o governo não sinalizou qualquer novidade. (Valor Econômico)