Painel discute sanidade de bovinos com representantes da Adapar e APCBRH

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O chefe do Departamento de Saúde Animal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Rafael Gonçalves, o superintendente técnico da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), Altair Valloto, e a responsável técnico do laboratório de Diagnóstico e Sanidade da APCBRH, Juliana Moraes de Paula, foram os palestrantes do Painel Suinocultura, realizado na tarde dessa quarta-feira (24/09), na 2ª Semana da Produção e Sanidade Animal das Cooperativas do Paraná, promovida pelo Sistema Ocepar, em formato 100% online. A programação teve início na terça-feira (23/09) e encerra na manhã desta quinta-feira (25/09).

Convidado a falar sobre os desafios para a sanidade de bovinos, com enfoque em brucelose e tuberculose, Gonçalves iniciou sua participação no evento chamando a atenção para outra enfermidade, cuja incidência tem aumentado no Paraná: a raiva. Em 2024, foram contabilizados 227 focos (258 casos), em 51 municípios paranaenses. E, somente neste ano, já foram registrados mais de 195 casos, sendo que a maioria, ou seja, 166 focos, ocorreram na regional de Cascavel, no Oeste do Paraná. Diante dessa situação epidemiológica, a Adapar deverá publicar uma portaria, nesta quinta-feira (25/09), para tornar obrigatória a vacinação de herbívoros em 30 municípios do Paraná. “A norma vai vigorar enquanto houver casos”, informou Gonçalves. Paralelamente será realizada uma campanha educativa para difundir a importância da vacina para o controle da doença. “Vamos aproveitar a oportunidade para divulgar a portaria entre os produtores rurais”, acrescentou.

A raiva é uma doença aguda causada por um vírus que pode infectar todos os mamíferos, inclusive humanos, e animais de produção comercial, como bovinos, bubalinos, equídeos, ovinos, caprinos e suínos. O principal transmissor é o morcego hematófago da espécie Desmodus rotundus. A vacina é o único meio eficaz na prevenção e controle da doença. Outra forma de evitar a sua disseminação é o controle dos morcegos, que só pode ser feito pela Adapar. Segundo levantamento da Agência, até o dia 23 de setembro, havia 948 abrigos de morcegos hematófagos cadastrados no Estado.

Em sua apresentação, Gonçalves mostrou como é possível reconhecer as marcas do ataque dos morcegos nos animais, o período de incubação e os sinais clínicos provocados pelas doenças. De acordo com ele, a raiva possui sintomas como movimentos descoordenados e perda de sentidos, por exemplo, provocados  também por outras enfermidades. “Mesmo havendo sinais semelhantes, é importante fazer a notificação para que a Adapar possa acompanhar”, frisou.

Na sequência, o chefe do Departamento de Saúde Animal da Adapar disse que há mais de 20 anos o Paraná tem atuado para reduzir a prevalência e a incidência da tuberculose e da brucelose por meio do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT) e do Programa Estadual de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PECEBT). Segundo Gonçalves, nesse período, houve uma pequena melhoria, mas o esforço continua para acabar com as duas doenças, que são endêmicas e provocam prejuízos aos produtores.

A brucelose é uma doença bacteriana contagiosa que afeta diferentes espécies animais e a população humana. O agente causador da brucelose bovina é a bactéria Brucella abortus. Além de problemas reprodutivos, os prejuízos decorrentes da ocorrência de brucelose no rebanho estão relacionados a diminuição da produção de leite e carne. No Paraná, a vacinação das bezerras de 3 a 8 meses de idade é obrigatória e as propriedades com casos diagnosticados devem ser saneadas. Porém, a cobertura vacinal ainda está abaixo do ideal. “Precisamos alcançar uma cobertura acima de 80% para erradicar a doença por, pelo menos, 10 anos. As médias brasileira e paranaense têm se mantido em 70%”, informou Gonçalves. 

A tuberculose bovina é uma doença bacteriana crônica, que pode afetar ruminantes, suínos, aves, animais silvestres e humanos. É causada pelo Mycobacterium bovis, acarretando perdas econômicas significativas, além de ser uma das mais importantes zoonoses para a saúde pública. Não existe vacina, portanto o controle da doença é baseado na detecção e eliminação dos animais positivos, o que torna importante a aquisição de animais com exames negativos. Os testes reagentes devem ser imediatamente comunicados à Adapar.

A prevalência das duas doenças vem se mantendo estável ao longo dos anos, de acordo com os inquéritos soroepidemiológicos realizados pela Adapar no Paraná. Em relação à tuberculose, foi detectada em 2,15% das propriedades, em 2005, e em 2,50%, em 2018. Já em relação à brucelose, ficou em 4,13% das propriedades, em 2022, e em 4,78%, em 2018.

Quanto aos desafios a serem enfrentados, Gonçalves apontou algumas questões, como a oscilação na oferta de insumos e vacinas, os erros na execução dos testes, a falta de novos métodos, as crises na cadeia leiteira e o desinteresse dos produtores, com muitos desistindo da pecuária de leite. Mas, para o futuro, ele vê com otimismo a utilização do teste Elisa como método complementar ao saneamento da tuberculose. “É mais uma opção. O Elisa não veio para validar os casos da doença. É um exame complementar que deve ser usado apenas em animais negativos para a tuberculinização, que continua sendo a prova ouro do programa”, explicou.

Ele afirmou ainda que há a proposta de criação de um sistema que irá cruzar a informação dos diferentes elos que compõem a cadeia produtiva para formar um banco de dados único, o que deverá contribuir com todo o trabalho que já vem sendo realizado no controle das duas doenças. Por fim, destacou que o Programa de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose funciona como uma grande engrenagem onde estão inseridos os produtores, a Adapar e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), os médicos veterinários habilitados, as indústrias, laticínios e laboratórios.

“Esse evento está promovendo essa aproximação entre os entes públicos e privados. Isso é importante. Precisamos do apoio de todos para ter um serviço de defesa sanitária cada vez mais forte”, disse, ao encerrar a sua apresentação.

Saúde do Rebanho Leiteiro

Na sequência, o superintendente técnico da APCBRH, Altair Valloto, e a responsável técnico do laboratório de Diagnóstico e Sanidade da APCBRH, Juliana Moraes de Paula, discorreram sobre o tema “Saúde do Rebanho Leiteiro no Paraná”. Valloto lembrou que a Associação existe há 72 anos e que há 30 anos possui o Laboratório de Análise de Leite (Parleite), que atende às demandas dos programas oficiais para monitoramento da qualidade e melhoria da qualidade do leite, serviços de inspeção de produtos de origem animal, além de realizar análises de Controle Leiteiro e Gestão de Controle de Qualidade (GCQ). “Analisamos todos os meses 55 mil tanques de leite. São mais de 12 milhões de análises por ano”, enfatizou.

Há cerca de sete anos, a associação criou o Laboratório de Sanidade e Diagnóstico, que possui a certificação ISO 17025, é credenciado pelo Mapa e realiza levantamento epidemiológico das principais doenças que impactam na rentabilidade da atividade leiteira. É habilitado no Paraná para fazer o teste Elisa para brucelose e tuberculose. Está disponível para atender produtores de leite de todo o país.

Ao tratar de sanidade no contexto da APCBRH, Valloto destacou o resultado de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), em 2022, sobre os objetivos do produtor paranaense. A resposta que ficou em primeiro lugar foi “aumentar a produção diária das vacas”. “Esse aumento de produtividade está diretamente ligado à sanidade, que, por outro lado, é vinculada à qualidade do leite e ao bem-estar animal”, afirmou.

Ele lembrou que a cadeia produtiva do leite é importante no Paraná, segundo maior produtor do Brasil, com 50 mil famílias vivendo diretamente da atividade, que proporciona uma renda de R$ 12 bilhões no Estado. Destacou ainda que 20% dos produtores paranaenses respondem por 80% da produção de leite no Estado, concentração que é uma tendência verificada em outros lugares, como nos Estados Unidos, por exemplo, com 20 mil pecuaristas que produzem 100 bilhões de litros de leite por ano.

Ainda sobre sanidade, Valloto reforçou que ela é baseada em três pilares: produtividade, qualidade e rentabilidade. “Além disso, temos uma vaca feliz”, acrescentou. “Para evoluir na pecuária leiteira é preciso investir em qualidade. É onde há uma grande oportunidade para avançarmos”, pontuou.

Ele discorreu também sobre alguns indicadores que demonstram a qualidade do leite, como a   Contagem de Células Somáticas (CCS) e os percentuais de lactose, gordura e proteínas. O laboratório Parleite faz o controle regular de 70 mil animais por mês. “Além disso, atendemos outros 60 mil por mês, somando aproximadamente 120 animais mensalmente”, disse.

Na sequência, Juliana apresentou as especificidades de várias doenças que atingem o gado leiteiro, como mastite, tuberculose, brucelose, neospora, Diarreia Viral Bovina (BVD) Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) e leucose. Ela lembrou que o diagnóstico precoce e o tratamento rápido das enfermidades são essenciais. “É mais barato prevenir do que tratar as doenças”, sublinhou.

A responsável técnico do laboratório de Diagnóstico e Sanidade da APCBRH afirmou que o acometimento das doenças tem grande repercussão na produção e bem-estar do rebanho, representando um dos desafios a serem enfrentados. “É um tema muito relevante. Os produtores não podem negligenciá-lo pois isso afetará diretamente nos animais, que geram a renda na propriedade. São vários os impactos econômicos, como as perdas de produção, custos com medicamentos, descartes de vacas e de leite, infertilidade, entre outros”, disse Juliana.

Ao final, os representantes da APCBRH agradeceram a oportunidade de compartilhar as informações sobre a associação com os participantes do evento. “Nós vamos trabalhar cada vez mais com a biossegurança nas propriedades. Esse é um dos nossos pilares. Também queremos continuar repassando conhecimento aos colegas. Outro ponto importante é mostrar que os nossos laboratórios estão disponíveis para os produtores. Estamos à disposição de todos”, afirmou Valloto.

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