AÇÚCAR: Índia ajusta oferta e dita os rumos do mercado

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A companhia Bajaj Hindusthan, maior produtora de açúcar e álcool da Índia, desembarcou há alguns meses no Brasil para olhar oportunidades de investimentos no setor sucroalcooleiro do país. A empresa gostou do que viu, mas desistiu de fazer negócios. Pelo menos, por enquanto. "Tínhamos muito interesse em investir no Brasil, mas decidimos apostar em nosso próprio mercado", afirmou Rakesh Bhartia, CEO do grupo.  

Crise - Essa decisão reflete em parte a crise financeira global, mas Bhartia afirmou que o mercado indiano estava mais atraente para os investimentos. Com quase 10% de participação no mercado de açúcar da Índia, a Bajaj Hindusthan, fundada em 1931 e 16 usinas em operação, também tem interesse no álcool, mas o combustível ainda não decolou como deveria.

Força motriz - O açúcar é e ainda será por algum tempo a força motriz da agricultura daquele país. São cerca de 5 milhões de produtores de cana, com plantio em pequenas áreas. O setor açucareiro responde por 12% dos empregos diretos e indiretos daquele país - envolvendo cerca de 50 milhões de agricultores. O país é o maior consumidor global do produto, embora o consumo per capita seja um dos menores do mundo.

Vice-liderança - Segundo maior país produtor de açúcar do mundo, a Índia chegou a ameaçar o reinado brasileiro nas safras 2006/07 e 2007/08, quando quase tirou o país do topo do ranking de maior produtor global do produto. O forte aumento da produção na Índia nessas duas safras, por conta dos preços atraentes da commodity àquela época, mudou o mercado global de açúcar, que viu seus preços caírem na bolsa de Nova York dos 19,26 centavos de dólar por libra-peso, no dia 3 fevereiro de 2006, para 8,81 centavos em 13 junho de 2007, queda de 47% no período. Ontem, os contratos de maio fecharam a 13,01 centavos de dólar em Nova York.

Influência no mercado - Passadas duas safras de oferta abundante, a Índia volta influenciar o mercado novamente. Desta vez, por conta da forte queda da oferta de açúcar em seu país. Esse efeito, como não podia deixar de ser, tem provocado reações positivas no mercado, uma vez que a commodity sinaliza recuperação de preços, com a menor produção indiana e possibilidade de importação. "A Índia pode influenciar o mercado para o bem ou para mal, dependendo de qual perspectiva que você vê as coisas", afirmou Bhartia.

Produção - O país deverá produzir 18 milhões de toneladas na safra 2008/09 (de outubro a setembro), uma queda de 31,5% sobre o ciclo passado. Como o açúcar deixou de ser uma cultura atraente, por conta do recuo dos preços, os produtores migraram para outras culturas, sobretudo grãos. Também nesta safra, a Índia deverá importar até 1,6 milhão de toneladas de açúcar, observou Bhartia. O país conta com 500 usinas de açúcar, das quais 120 operam também com destilarias.

Normas - O governo da Índia baixou na terça-feira normas que permitem importações isentas de tarifa de açúcar demerara até 30 de setembro, quando a safra se encerra, para estimular a importação de açúcar demerara para industrialização das usinas locais. Em contrapartida, os importadores precisam exportar um volume semelhante de açúcar refinado, dentro de dois anos, segundo informou o Ministério do Comércio daquele país à Bloomberg.

Importação - Até o momento, as usinas indianas fecharam a importação de 700 mil toneladas de açúcar demerara.. Exportadores do Brasil e da América Central serão os mais beneficiados com essa medida, acreditam analistas de mercado. Segundo Andy Duff, analista do Rabobank, com a mudança da Índia de exportador para importador, o mundo deverá precisar de 3 milhões a 4 milhões de toneladas adicionais de açúcar do Brasil em 2009. Duff não acredita em uma disparada dos preços do açúcar como ocorreu há quase três anos. Mas observou que as cotações devem ficar nesses atuais patamares, em torno de 13 centavos de dólar no mercado internacional. A crise financeira pela qual as usinas passam também deve influenciar o comportamento dos preços. Para fazer caixa, as usinas poderão pressionar o mercado com a maior venda da commodity. (Valor Econômico)

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