AGRICULTURA FAMILIAR: Irrigação no escuro fica mais barata
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Quatro anos depois de lançado, o Programa de Irrigação Noturna (PIN) do governo do Paraná ganha a adesão dos produtores rurais. A definição mais clara das exigências para o licenciamento ambiental elevou a procura. Pelo menos 1,7 mil agricultores já usufruem do desconto de 60% a 70% na energia elétrica, oferecido para o consumo entre 9 horas e 6 da manhã. Existem mais 800 pedidos em trâmite, conta o coordenador de Meio Ambiente do Instituto Emater, Benno Henrique Weigert Doetzer. Ele afirma que, depois que o produtor faz a solicitação, a instalação ocorre num prazo de 90 dias.
Licenciamento - "As solicitações aumentaram nos últimos dois meses, pela regulamentação do licenciamento ambiental. Os equipamentos podem ser financiados pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o que também facilita a adesão", explica. Isto porque o programa oferece juros de 1% ao ano, dependendo do tamanho da área e da renda do produtor. A discussão sobre o impacto do uso da água levava meses. O licenciamento obrigatório envolve o processo de outorga de uso da água e o licenciamento ambiental propriamente dito. Agora, quando se inscreve, o produtor tem seu caso pré-avaliado tecnicamente de acordo com as exigências legais. Fica sabendo logo se terá ou não licença.
Mito - A maior parcela dos produtores que acessam o programa produz verduras. Esse grupo representa cerca de 50% do total de 1,7 mil, afirma Doetzer. Ficam atrás o cultivo de frutas (20%), pastagens (20%) e outras áreas (10%). Essa última parcela, que envolve lavouras de soja e milho, representa possibilidade de um salto no PIN. O programa tem ajudado a derrubar mitos como o de que a irrigação custa caro e só é viável para quem tira muito dinheiro da área irrigada. Produtores familiares achavam que não valia a pena investir nos equipamentos. E donos de áreas acima de 200 hectares duvidavam do retorno para o cultivo em escala.
Infraestrutura - A viabilidade do investimento para a agricultura familiar e para o cultivo de grãos aumentou com o barateamento da energia e dos equipamentos. O custo, que ficava acima de R$ 5 mil por hectare, agora parte de R$ 3 mil/ha, incluindo instalação de canos. Os equipamentos podem ser pagos em oito anos, com três de carência. Pelo PIN, o produtor é dispensado de pagar a extensão da rede de energia por até 200 metros. Se a distância entre a rede e o tanque de água for maior, paga R$ 50% do excedente.
Redução de custos - "Eu jamais poderia arcar com os custos normais. Fiz um levantamento e vi que ia gastar R$ 15 mil com os equipamentos e a instalação da energia, puxando só 160 metros de rede. Agora gastei uns R$ 4,3 mil, para pagar em oito anos", afirma Felipe Suota, de São José dos Pinhais, que cultiva verduras a 40 quilômetros de Curitiba. O investimento foi na instalação de energia elétrica e em equipamentos que complementaram um sistema de irrigação instalado em 1981. A maior diferença é que agora ficou mais barato o custo de operação.
Mudança de rotina - Os agricultores familiares, acostumados a pular cedo da cama, tiveram a jornada de trabalho ampliada pela irrigação noturna. A rotina nos sítios não se resume a uma única atividade diária. Enquanto uma pessoa tira leite, outra alimenta bois, porcos, galinhas, uma vez antes de entrar e outra depois de sair da lavoura. Agora, alguém precisa ficar na labuta até altas horas ou levantar de madrugada para aproveitar o desconto na energia elétrica consumida na irrigação. Os agricultores contam que o irrigador dorme cinco horas por noite, duas a menos do que estava acostumado.
Pouco utilizado - O produtor de alface Anísio Mickos, um dos primeiros a instalar a irrigação noturna em São José dos Pinhais, conta que usa pouco o sistema. "Levantar 3 horas da madrugada para ligar a irrigação é demais." Ele reconhece a economia proporcionada pela alternativa, mas não se rende a ela. "Se fosse só ligar e voltar dormir, tudo bem. Mas não dá para deixar o sistema sozinho", argumenta. Ele tem três hectares com irrigação noturna e conta que muitas vezes não gasta nada com a fatura mensal, por não haver consumo. (Gazeta do Povo)