AGRICULTURA: Paraná volta a ser maior produtor nacional de grãos

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Produtores paranaenses de soja já iniciaram a colheita da safra de verão que promete ser uma das maiores, contribuindo para que o Paraná retome a liderança na produção de grãos, perdida no ano passado para Mato Grosso. A previsão é de que sejam colhidos 29,32 milhões de toneladas, superando em 0,6% a safra de Mato Grosso, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O volume produzido no Estado representa 20,5% da projeção de produção nacional de grãos - 143 milhões de toneladas. No entanto, apesar da boa produtividade, nem tudo é motivo de comemoração. Os preços, cotados pelo mercado internacional, estão em queda e são alvo de preocupação. "Desde junho estão em queda livre e, por enquanto, não há o que inverta a tendência", disse Lucílio Alves, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Expectativa - Dados apresentados pelo economista Alexandre Mendonça de Barros, da MB Associados, a produtores reunidos no Show Rural, em Cascavel, no oeste do Paraná, apontam para uma produção mundial de soja de 253 milhões de toneladas, um aumento de 20% ante 2009. Principalmente em razão das previsões de recordes dos três principais produtores - Estados Unidos, com 91 milhões de toneladas, Brasil, com 65 milhões (nova projeção da Conab reajustou para 66,7 milhões), e Argentina, com 53 milhões (no ano passado teve quebra de 31%). Diante de um consumo de 235 milhões de toneladas, resultariam estoques de 60 milhões, visto que outros 43 milhões fazem parte da reserva inicial.

Dívidas - Produtora em São Miguel do Iguaçu, no oeste do Paraná, onde possui 242 hectares, Jania Kátia Grando destaca uma das dificuldades do agricultor: "O preço nunca é favorável na colheita". No entanto, é exatamente nesse período que começam a vencer as dívidas. Ela conseguiu vender menos de 10% da produção em janeiro, no mercado futuro, a R$ 38 a saca de 60 quilos. Dinheiro que receberá somente entre março e abril. Na sexta-feira, o preço ao produtor na região oeste do Estado estava em R$ 32,60, seguindo a tendência de queda. A média de janeiro ficou em R$ 37,30. Com o início da colheita, Jania entregará outra parte pelo preço de mercado. "Temos todos os custos de plantio ainda não supridos, além dos custos da colheita", justificou. Depois, fica torcendo para que melhore no segundo semestre. O que ainda a deixa animada é que a produtividade promete ser muito boa. Mesmo com todas as despesas e o preço baixo, Jania espera que a média de remuneração dos últimos anos seja mantida. "Ultimamente, a cada 2 reais investidos tem sobrado 1 real", destacou.

 

Campos Gerais - O produtor Eltje Jan Rabbers, de Piraí do Sul, na região dos Campos Gerais, não acredita nas projeções de supersafra. Para ele, anúncios como esse apenas ajudam a aumentar o preço na indústria e no mercado. "Nós vamos à loja de insumos e ao supermercado e o preço já está lá, mas para o produtor é o comprador que faz o preço", diz Rabbers. Segundo ele, se vender a saca a menos de R$ 40 não consegue pagar as contas. Seu custo de produção é de R$ 2 mil por hectare e a produtividade média é de 55 sacas. Em dezembro, ele optou por não vender no mercado futuro. Agora, pretende manter o máximo possível em armazéns. "Os credores vão ter que esperar." Levantamento do Cepea mostra que a queda no preço da soja ao produtor paranaense foi de cerca de 20% em 12 meses.

 

Decisão na alta - De acordo com Lucílio Alves, o agricultor tomou a decisão pelo plantio quando o preço estava em alta. "A níveis atuais, a margem fica complicada", destacou. "Não houve muito interesse de venda antecipada e aqueles que quiseram vender não encontraram respaldo no mercado dada a indefinição da safra do hemisfério Sul." Segundo ele, a sustentação do preço deve vir da China. No entanto, o banco central chinês tem aumentado o compulsório bancário constantemente, o que pode levar ao aperto no crédito. "Se eles voltarem (a comprar), pode ser que mude o cenário", ponderou Alves. Ele também lembrou que os Estados Unidos discutem o programa de etanol, que pode privilegiar o milho, em detrimento da soja. "Tem muita coisa para rolar até tomar a decisão de nossa safra, são cenários não muito claros ainda, e muito menos para o produtor."

 

Ocepar - "O que ele precisa é ter em mãos a planilha, um planejamento de custo pelo menos." Para o economista Robson Mafioletti, da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), o mercado chinês é a "salvação da lavoura". Cálculos apontam que o custo de produção da soja é de R$ 27 a saca de 60 quilos, mas os produtores têm conseguido boa produtividade, de até 60 sacas por hectare. Economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Gilda Bozza também alertou os produtores para controle de custos e estratégias de comercialização. Ela lembrou que o dólar desvalorizado é prejudicial. Além disso, algumas culturas, utilizadas no processo de rotação, como milho, trigo e feijão, têm custo elevado. "São maiores que o preço de mercado e o preço mínimo de garantia, o que compromete o negócio." No caso da soja, Gilda reforçou ainda que o produtor brasileiro disputa contra o subsídio e a melhor logística de transporte americana. "Quase 15% do preço do produto está na logística de transporte, que é perda de renda para o produtor", salientou.

 

Três safras - "A produção do Estado do Paraná só não é maior por causa da redução de mais de 20% da área plantada com milho, cuja produtividade é o dobro do rendimento da soja", disse o secretário de Estado da Agricultura, Valter Bianchini. Em ano normal, o Paraná colhe três safras. A secretaria e entidades representativas dos produtores estão pedindo ao governo federal instrumentos ágeis e compensadores para escoar remanescentes de milho, trigo e feijão com o objetivo de liberar os armazéns. Bianchini não acredita que o Paraná mantenha a liderança na produção de grãos por muito tempo. "Futuramente, o Mato Grosso assume essa posição", afirmou. "O Paraná não tem mais área, mas não vemos limite para o crescimento da produtividade, enquanto o Mato Grosso tem área e tem como aumentar a produtividade." Segundo ele, a prioridade paranaense é avançar, entre outros itens, na avicultura, na melhoria genética da pecuária e na fruticultura. "Vamos investir mais para agregar valor com agroindústrias", reforçou. (Jornal O Estado de S.P.)

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