Agricultura perde R$ 5,9 bilhões com dólar fraco

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A manutenção do real valorizado em relação ao dólar está custando caro para a agricultura. Só nesta safra de 2005/06, as perdas devem atingir US$ 2,7 bilhões (R$ 5,9 bilhões) apenas para os produtores. Se considerados os demais segmentos que comercializam e industrializam os produtos agrícolas, o prejuízo sobe para US$ 14 bilhões (R$ 29,9 bilhões). Os dados foram repassados pelo analista José Pitoli, que há 25 anos participa desse setor ao Jornal do Comércio do Recife (PE). Muitos desses anos foram dedicados à administração de cooperativas e outros como sócio de uma empresa de compra, venda e exportação de grãos. Coincidência ou não, diz ele, essas pressões cambiais ocorrem com maior peso em anos de reeleição. O setor já havia sofrido um forte golpe em 1998, período da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Desta vez, ocorre no governo Lula, provável candidato à reeleição, afirma.

Clima - Pitoli diz que de tempos em tempos a agricultura "é vítima de efeitos climáticos como calor, frio, chuva ou seca em excesso". Há políticas econômicas, no entanto, "que passam despercebidas, mas têm uma capacidade devassadora imensa, principalmente quando os governos ficam na dependência do capitalismo sem pátria". Ele se refere ao excesso de dólares atraídos pelos juros elevados no Brasil.Para chegar a esses números, Pitoli levantou os custos de produção - incluindo combustíveis, herbicidas, fertilizantes etc. - e as perdas que os produtores terão nas vendas das commodities devido à baixa do dólar.A situação ficou ainda pior para os produtores porque muitos dos custos, como mão-de-obra, foram corrigidos em real, mas, na hora da venda das mercadorias, os produtores vão receber o correspondente em dólar, que perdeu valor. O dólar determina o valor das commodities no mercado internacional. Pitoli diz que esse aperto na renda dos produtores devido à desvalorização do dólar vem em um momento ainda mais delicado para a agricultura, que teve dois anos seguidos de forte estiagem no Sul do país.

Margem - A valorização do real vai provocar uma queda na margem bruta dos produtores. Com o dólar a apenas R$ 2,11 (cotação de 20 de fevereiro utilizada para o estudo), as receitas dos produtores de soja serão de R$ 1.136,00 por hectare. Esse valor dá uma margem bruta de apenas 18,8%, quando comparado com os custos de R$ 956,00 por hectare, mostra o estudo de Pitoli. O normal, segundo ele, é uma margem próxima de 35%. Anderson Galvão, especialista em soja na consultoria Céleres, concorda com Pitoli. Segundo ele, se o dólar recuar ainda mais, e chegar a R$ 2,00, a margem recuaria para a "delicada" situação de apenas 12%. Galvão diz que "a margem operacional bruta será muito apertada em todos os Estados, diante das condições previstas para a produtividade média e dos custos diretos dos produtores".

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