ÁGUAS DO AMANHÃ: Preservar a água é uma obrigação de todos
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Nesta terça-feira (22/03), comemorou-se o Dia Mundial da Água. Infelizmente, pouco há para ser festejado. Segundo as Nações Unidas, morre-se mais por causa da contaminação das águas - incluindo quase dois milhões de crianças menores de 5 anos - do que por todas as formas de violência juntas. Por outro lado, as torneiras estão secando. Até 2015, 55% das cidades brasileiras vão ter problemas de abastecimento, de acordo com estudo da Agência Nacional de Águas (ANA). Um exemplo é a bacia do Alto Iguaçu, na Grande Curitiba, onde o crescimento urbano sobre áreas de mananciais e a contaminação dos rios por esgotos têm diminuindo a oferta de água boa para o abastecimento público. Com isso, temos de buscá-la cada vez mais longe e a um custo maior. Como se não bastasse, a degradação ambiental potencializa doenças e agrava o risco de alagamentos, causando prejuízos econômicos e tirando vidas.
Papel do cidadão - Cobrar das autoridades é importante, mas não o suficiente. Também é papel do cidadão adotar ações cotidianas - individuais e coletivas - para reverter o quadro. Por isso, com a ajuda de especialistas, listamos cinco fatores que impactam diretamente na qualidade da água. São eles: ocupação do solo, coleta de esgoto, preservação das matas ciliares, destinação do lixo e desperdício de água. Entender essa correlação já é um primeiro passo.
Ocupação e uso do solo - Não ocupar várzeas, encostas de morros e margens de rios e córregos é a condição número um para evitar tragédias durante os períodos chuvosos. Infelizmente, na maioria das cidades - como Curitiba - essa regra nunca foi respeitada. Com um espaço territorial limitado, a ocupação urbana rumou para as áreas de mananciais e de preservação ambiental da RMC, colocando em risco a água que serve ao abastecimento. Além de obviamente não construir nesses pontos, o cidadão pode fiscalizar e denunciar quem infringe o zoneamento do município.
Impermeabilização - Outra medida importante diz respeito à impermeabilização excessiva do solo, que diminui a capacidade de absorção da água da chuva, sobrecarregando os sistemas de drenagem urbana - incluindo os rios, que assoreiam com o lixo e a terra carreados para seus leitos, transbordando. Deixar ao menos 25% do terreno do seu imóvel sem pavimentação ajuda a evitar alagamentos. Cobrar da prefeitura mais áreas verdes no seu bairro, também. Fonte: Oduvaldo Bessa Junior, geólogo (Ipardes).
Coleta de esgoto - Responsável por cerca de 80% da poluição da bacia do Rio Iguaçu, os esgotos domésticos lançados de maneira irregular são os grandes vilões nesse cenário. Segundo o IBGE, 54% dos domicílios paranaenses não têm coleta de esgoto. Em Curitiba, onde a rede da Sanepar cobre mais de 90% da cidade, ainda assim os rios fedem.
Displicência - A maior parte dessa poluição é causada pela displicência de muitos cidadãos, que não ligam o imóvel à rede coletora. Pior é fazer da privada uma lixeira. Até fraldas e panos são atirados no vaso sanitário, obstruindo a rede, causando refluxo e podendo até rompê-la. O mesmo acontece quando não há caixa de gordura nas casas. Esse material se solidifica nas tubulações, entupindo tudo. Outro erro: canalizar a água da chuva para a rede de esgoto. Além de sobrecarregar o sistema, diminui a eficiência das estações de tratamento. Por fim, reduzir a quantidade de produtos de limpeza, dando preferência aos biodegradáveis, também contribui para melhorar a eficiência do sistema. Fontes: Péricles Weber, diretor de Meio Ambiente (Sanepar) e Maria Rosí Melo Rodrigues, engenheira sanitarista (Tegeve Ambiental)
Preservação das matas ciliares - Potencializar desastres maiores em virtude das enchentes é o alerta que fazem os ambientalistas diante da possibilidade de reformulação do Código Florestal brasileiro, que reduziria de 30 para 15 metros a cobertura vegetal mínima nas margens dos rios. Dentro das cidades, na prática, essa cobertura, que tem a importante função de proteger o rio, preservar a fauna e a flora e regular a temperatura e a umidade em seu entorno, praticamente não existe. Canalizados, retificados e muitas vezes até enterrados sob a cidade, os cursos fluviais nessas condições acabam virando vetores de doenças como a leptospirose.
Desmatamento - Denunciar o desmatamento de áreas verdes - mesmo em terrenos particulares - e nas margens de rios é tarefa importante. Uma ação bacana é fazer um mutirão no seu bairro para recuperar a vegetação de um córrego, por exemplo. Neste caso, é importante buscar a orientação de uma ONG especializada e a autorização da prefeitura. Evite plantar espécies exóticas ou "invasoras". Fonte: Malu Ribeiro, especialista em gestão de recursos hídricos (Fundação SOS Mata Atlântica).
Desperdício de água - Vai construir ou reformar? Então aproveite para economizar - água! A título de exemplo, a troca de um simples vaso sanitário que gasta de 12 a 18 litros por descarga por um novo, com duplo acionamento, já reduz a demanda para três ou seis litros apenas. O consumo excessivo de água em privadas, torneiras e chuveiros ainda é elevado no país, mesmo se você é daqueles que fecha a torneira ao se barbear ou escovar os dentes. Outro drama são os vazamentos. Vistoriar os encanamentos de tempos em tempos é a solução.
Aproveitamento - Para melhorar a eficiência e evitar o desperdício de água potável, uma solução é aproveitar a água da chuva, seja para lavar o carro, as calçadas, o jardim ou mesmo para utilizar na descarga. Exagero? Pois a ONU considera que a disponibilidade hídrica ideal para uma região deve ser de 1.700 m3 por habitante/ano. Na RMC, a disponibilidade de água é de apenas 500 m3 por habitante/ano (situação de escassez hídrica). Fontes: Péricles Weber (Sanepar) e Paulo Costa (H2C consultoria).
Destinação do lixo - Em 2009, foram geradas no Brasil 57 milhões de toneladas de resíduos urbanos. Desse total, sete milhões não foram coletadas e acabaram em rios, bueiros e terrenos baldios. Basta chover para esse material entupir galerias e tubulações, provocando alagamentos. E mesmo boa parte do que é recolhido acaba em lixões e outros locais inadequados, contaminando o solo e os lençóis freáticos. Com a recente regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a responsabilidade do cidadão aumentou. A começar pela escolha dos produtos no supermercado. Já pensou, por exemplo, em dar preferência àqueles que geram menos lixo? Ou então aos que possuem um sistema de logística reversa, garantindo o retorno das embalagens à fábrica? Na hora de descartar os resíduos, é importante separar o lixo orgânico do reciclável, lembrando que baterias, pilhas, eletroeletrônicos, pneus e móveis velhos precisam ter destinação especial. A prefeitura ou os fabricantes desses produtos devem recolhê-los. (Gazeta do Povo)