ANÁLISE II: Brasil será mais afetado pela crise do que autoridades admitem, diz consultor
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O consultor internacional Jan Kregel, que já chefiou a Área de Desenvolvimento e Análise de Políticas no Departamento de Economia e Assuntos Sociais das Nações Unidas (ONU), disse nesta quinta-feira (5/03) que o Brasil sofrerá muito mais com a crise do que admitem as autoridades do país. Ele é um dos especialistas internacionais convidados pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) para o Seminário Internacional sobre Desenvolvimento, que vai até esta sexta-feira (6/03), em Brasília.
Prática dos governantes - Na avaliação de Kregel, a análise de que a crise atingirá menos o país é uma prática dos governantes brasileiros em épocas difíceis na economia. "Em todas as crises internacionais, a resposta inicial brasileira é sempre a mesma: ‘Isso não vai acontecer aqui'. Portanto, a primeira mensagem que quero passar é que o Brasil será atingido sim (pela crise financeira mundial) e muito mais do que muitas autoridades admitem", disse no começo de sua intervenção. Kregel advertiu ainda que a economia brasileira está num momento muito bom por conta das condições internacionais existentes antes do agravamento da crise e que essas condições, como altos preços das commodities e abundância de investimentos no mundo, não voltarão a ocorrer. Ele disse que o preço das commodities alimentares, por exemplo, eram decorrentes da especulação do mercado e que isso tende a sumir depois da crise.
Bancos brasileiros - O consultor afirmou que os bancos brasileiros não estavam contaminados com os papéis podres que as instituições financeiras dos Estados Unidos e da Europa aplicaram porque o Banco Central já lhes garantia uma grande rentabilidade com a taxa de juros elevada. "Se examinarmos o fato de que o Brasil não teve crise nas suas instituições financeiras, veremos que isso se deve ao fato de que elas não tiveram que expandir suas atividades para os investimentos estranhos como aconteceu com os bancos nos Estados Unidos. Isso se deve ao fato de que o Banco Central brasileiro já dava a eles um retorno financeiro que era muito mais atraente", argumentou Kregel. Na avaliação do consultor, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não será capaz de garantir o crédito necessário para financiar a expansão da atividade econômica brasileira.
Resistência contra estatização - O economista James Galbraith, professor da Universidade do Texas, fez uma análise da origem da crise financeira internacional e disse que os Estados Unidos ainda resistem a tomar as medidas corretas para resolver o problema das instituições financeiras. "Dar dinheiro aos bancos não vai mudar situação que eles estão enfrentando nem vai mudar suas práticas. A política monetária também não vai resolver. A alavancagem da política monetária dos Estados Unidos com taxa de juros zero não reavivou o crédito e não vai fazer isso enquanto essa crise durar", previu Galbraith. Segundo ele, o governo norte-americano ainda não aceita a necessidade de intervir nas grandes instituições financeiras como faz nos pequenos bancos.
Controle dos bancos - "As medidas que são necessárias para o sistema bancário são aquelas que o governo está resistindo a tomar. O estado tem que assumir o controle dos bancos, com uma auditoria clara, separando ativos bons e ruins e depois decidindo quais instituições vão sobreviver ou não. Esse é um processo que o governo norte-americano conhece, mas só adota com os pequenos bancos. Não conseguimos fazer isso na escala dos grandes bancos e enquanto não fizermos isso, o problema resistirá", analisou. (G1. com/Gazeta do Povo)