ANÁLISE: Importação recorde freia a produção local de insumos

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As empresas brasileiras estão aumentando as importações de insumos em um ritmo oito vezes mais rápido do que o crescimento da produção de seus fornecedores domésticos. Para os economistas, esse é um indício de substituição de insumos nacionais por importados - estratégia cada vez mais comum nas empresas para reduzir custos e se adequar à valorização do câmbio. No acumulado de 12 meses até outubro, a quantidade importada de bens intermediários cresceu 14%, segundo estudo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). A produção doméstica de bens intermediários aumentou apenas 1,7% na mesma comparação, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado prejudicou a produção industrial do país, que cresceu apenas 2,7% no período. 

Percentual - De acordo com cálculos da Quest Investimentos, o consumo aparente (produção mais importação, excluindo exportação) de bens intermediários cresceu 8,2% no terceiro trimestre de 2006 em relação a igual período de 2005, e a produção doméstica de bens intermediários subiu apenas 2,1%. "A distância entre os dois indicadores mostra a parcela conquistada pela importação", diz Paulo Pereira Miguel, economista da Quest.  A consultoria estima que os bens intermediários importados já respondem por 21% das matérias-primas e insumos utilizados pelas empresas brasileiras. O percentual é recorde na história do país. Apenas em 2000 a fatia dos bens intermediários importados havia atingido 20%. De lá para cá, estava oscilando entre 17% e 19%. 

Causas - Miguel avalia que não é apenas a valorização do real que provoca essa troca de fornecedores, mas principalmente a estabilidade do câmbio no atual patamar. Com o nível de reservas acumuladas pelo país, o robusto superávit da balança comercial e a queda da dívida externa líquida, o real deve se manter valorizado por um bom tempo. Levantamento elaborado pela consultoria MB Associados, com base nos dados da Funcex e do IBGE, indica que esse fenômeno ocorre em diversos setores de bens intermediários. A importação desses produtos está crescendo em ritmo forte. No acumulado de 12 meses até outubro, a quantidade importada de bens intermediários cresceu 12% no setor plástico, 21,7% em celulose, papel e gráfica, 23,2% em outros produtos metalúrgicos e 27,4% em material elétrico. 

Desempenho - Em contrapartida, a produção doméstica de itens que são matérias-primas para a produção industrial recuou significativamente. No acumulado de 12 meses até outubro, a produção industrial de preparados químicos diversos caiu 6,8%. A produção de embalagens de material plástico recuou 2% e de laminados de material plástico, 4,8%. A produção de tubos de ferro e aço com costura despencou 15,7% no acumulado de 12 meses até outubro. Em peças fundidas de ferro, a queda foi de 4,6% nesse período.  A importação de matérias-primas e insumos poderia estar crescendo ainda mais. Apesar da alta de 15%, as importações de bens intermediários registram um dos crescimentos menos vigorosos entre as categorias de uso. No acumulado de 12 meses até outubro, a quantidade importada de bens de capital subiu 25% e de bens de consumo duráveis saltou 76%. É o fraco desempenho da economia que inibe a importação e a produção doméstica de insumos. A economia brasileira, prejudicada pelo fraco desempenho da indústria, deve crescer menos de 3% este ano.   (Valor Econômico) 

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