CAFÉ: Dados para reflexão sobre o comércio mundial de café

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Com base em dados veiculados pela OIC, o Cecafé elaborou uma tabela onde são apresentados dados consolidados das exportações do conjunto de países produtores, 54 nações, exibindo informações interessantes sobre o comércio mundial de café. O material contém uma série de seis anos (período 2000 a 2005) que sugere reflexões. Pela limitação de espaço, a tabela foi resumida para abranger o primeiro e o último ano da série. Revela observar que as exportações mundiais oscilaram de 86,2 milhões a 90,7 milhões no período, evidenciando como não se registraram aumentos substanciais de estoques em países importadores, que o desaparecimento, ou seja, o consumo nesses países está muito próximo dos volumes exportados. Outro aspecto curioso está no fato de que não obstante um diferencial de preço considerável entre os cafés arábicas e robustas ao longo de todo o período, a participação dos arábicas no mercado mundial (computados não só os embarques de café verde mas também a quantidade usada no processo de industrialização) cresce de 63,5% em 2000 para 65,9% em 2005 (os dados parciais de 2006 são algo superiores, caracterizando assim uma possível tendência, ao que tudo indica, derivada da questão de qualidade). Além dessa razão, o perfil das exportações brasileiras da variedade contribuiu também para impulsionar tal expansão. O desempenho do café brasileiro no período é notável.

Em termos de market share, evoluímos de 20,2% para 30,3% do mercado mundial, de forma consistente, considerando-se as exportações de café sob todas as formas. As exportações cresceram ano a ano e só mostraram algum recuo em momentos de frustração de safras. No grupo das arábicas, o natural brasileiro, auxiliado pelo “cereja descascado” e o despolpado, computando apenas as exportações de café em grão verde, decolou do patamar de 28,3% desse mercado em 2000 para 41,1% em 2005, ganho, portanto, de 50% no grupo. No robusta, as nossas exportações de conillon –embora confrontadas com uma forte demanda interna das indústrias de torrefação e moagem e de solúvel, que vêm pagando preços superiores aos do mercado externo – mostram uma evolução positiva e garantem uma presença no mercado.


Outra realidade que chama a atenção é a predominância expressiva das exportações de café verde pelos países produtores: 94% das exportações correspondem a café verde no início da série e 93% no último ano. O ligeiro crescimento relativo do café industrializado – de 1,6% - está concentrado no café solúvel, onde o Brasil tem também um desempenho brilhante. Já o café torrado e moído, em termos globais, mantém uma participação modesta, 0,2% do mercado nos países importadores. Embora as vendas brasileiras tenham uma participação relativamente alta nesse total, em termos de volume as exportações de 2005 situam-se abaixo dos volumes exportados em 2003 (91 mil sacas, deduzidas as vendas de semi-torrado). O grande rodízio que se observa na lista de exportadores de T&M,poucas empresas com fluxo regular (duas exportadoras respondem, em 2005, por 85% das vendas externas), sugere que atingimos apenas nichos de mercado, no qual atuam compradores intermediários, que não garantem continuidade. Sem acesso aos canais de distribuição de massa – supermercados e os núcleos institucionais – que requerem parceiros investidores ou internacionalização das exportadoras, o cenário não é animador.


A análise global desses números oferece uma visão de nosso desempenho no mercado importador muito positiva. O café brasileiro, no geral, vem apresentando ganhos consistentes em todas as frentes de mercado. Os números de exportações de café em 2006, volume acima de 27 milhões de sacas e receita cambial recorde de US$ 3,2 bilhões, demonstram a vitalidade do setor.

Guilherme Braga Abreu Pires Filho, presidente do CCCRJ (Centro de Comércio de Café do Rio), diretor-geral do Cecafé

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