Câmbio, principal vilão da agricultura

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Em viagens por 7,7 mil quilômetros pelas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste, o jornal Valor Econômico identificou os problemas no campo; o mais grave é a queda na renda. O câmbio valorizado é principal vilão da crise da agricultura, segundo acredita o professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Alexandre Mendonça de Barros. Por dois anos consecutivos produtores rurais viveram a experiência de comprar insumos e fertilizantes por preços formados com base numa taxa de câmbio mais elevada, para meses mais tarde, comercializar suas safras com um real mais valorizado. Na safra 2004/05, o real se valorizou 14,3% entre o plantio e a colheita das lavouras. Em 2005/06, a valorização foi de 9,2%, segundo cálculo feito por Mendonça de Barros.

Aumento nos custos - Outros fundamentos da economia agrícola não seriam, por si só, responsáveis pelo elevado endividamento que se encontram os produtores rurais, acredita o professor da FGV. Os preços internacionais se encontram próximos da média histórica e em alguns casos, até acima dessa média. "É verdade que também os preços dos insumos estão acima da média". Mas isso não seria suficiente para comprometer a renda agrícola, já que houve ganhos de produtividade. Boa parte da produção brasileira ficou comprometida por problemas climáticos, especialmente na safra passada. Mas, para ele, a crise não seria tão profunda se os agricultores tivessem algum lucro com a comercialização das safras que estão sendo colhidas agora.

Produtividade - A situação é mais grave no Centro-Oeste, pois naquela região a redução na tecnologia contribuiu mais para a queda da produtividade. Sem capital para defensivos, muitas lavouras foram devastadas pela ferrugem, com sério comprometimento da produção. Pecuaristas começam a viver dificuldades, pela maior oferta de carne bovina e pelos efeitos da gripe aviária na produção de frango no Brasil. A repentina perda de mercado para o frango ocorre bem no momento da colheita de milho.

Pacto para moratória - Para o professor de Economia Agrária da Faculdade de Economia e Administração (FEA/USP), Guilherme da Silva Dias, o cenário é extremamente negativo. Apenas por meio de uma espécie da pacto coletivo, que inclua uma moratória das dívidas, estabelecida numa ampla negociação, os agricultores vão reunir recursos para manter o plantio. Segundo levantamento feito pelo professor da USP, desde 2003 o poder de compra dos produtores dos produtores caiu 18,4% e a relação de troca ficou 21,5% menor. Apenas a produtividade aumentou 3,7%.

Demandas - Mendonça de Barros acredita haver no horizonte sinais de que esse drama poderá se atenuar. Com o crescimento da economia internacional, a demanda por alimentos deve manter-se em alta. Além disso, os plantéis de aves nos países de destino da carne brasileira devem se ajustar e as vendas de frango do Brasil voltarão a crescer. Há ainda indicação de que o câmbio terá vai reagir no segundo semestre pelo efeito do avanço das importações, acredita Mendonça de Barros. (Valor Econômico)

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