CARNE BOVINA: Novas oportunidades para o Brasil na Europa

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O novo cenário europeu para o mercado de carne bovina abre uma janela de oportunidades para o Brasil. A partir de 2007 a oferta de carne bovina na Europa vai diminuir, por conta da significativa redução no tamanho do rebanho dos estados membros da União Européia. A demanda média será de 80 mil toneladas por ano para cada uma das cerca de 20 maiores empresas varejistas do bloco. “Para a bovinocultura brasileira, que hoje atende somente indústria, hotéis e restaurantes da Europa, significa oportunidades excepcionais de aumento das exportações também para o varejo”, afirma o economista francês radicado no Brasil, Jean-Yves Carfantan, considerado um dos maiores especialistas do país no mercado mundial de carnes.

Cenário - De acordo com Carfantan, hoje as grandes empresas varejistas respondem por mais de 65% da distribuição de carne bovina no mercado da União Européia. O mercado europeu consome, em média, cerca de oito milhões de toneladas de carne bovina por ano, o que equivale a 16 quilos per capita por pessoa. “Desde 2004, estas empresas modificaram a estratégia de comercialização de carne. Continuaram a garantir o respeito de normas exigentes de rastreabilidade e segurança sanitária, mas privilegiaram parcerias de fornecimento com indústrias européias capazes de fornecer grandes volumes de produtos”, conta. Segundo ele, no novo cenário que prevalece na Europa após a reforma da Política Agrícola Comum (PAC), adotada em 2003 e implementada desde 2005, essa lógica de economia de escala só poderá ser mantida se o varejo europeu conseguir reforçar as suas parcerias com fornecedores não-europeus de carne bovina. É justamente nesse contexto que surge a oportunidade para as exportações brasileiras.

Grupos varejistas - De acordo com Carfantan, os grupos varejistas estão interessados em montar parcerias com alianças formadas pro associações de pecuaristas e frigoríficos que têm condições de fornecer de 40 mil até 80 mil toneladas de carne por ano. Segundo ele, recentemente um grande grupo varejista europeu esteve no Brasil visitando um frigorífico localizado no estado de Goiás, estando disposto inclusive a investir na modernização das instalações da empresa, se necessário. “A bovinocultura brasileira não pode perder essa oportunidade de estabelecer parcerias com o varejo europeu. A iniciativa deve ser extremamente valiosa no sentido de abrir novos mercados e reforçar as exportações de carne”, destaca. “O trem está passando na frente da janela. Está na hora de aproveitar”, brinca. Um dos caminhos apontados pelo especialista é a cooperação. “A relação de forças é modificada quando deixa de ser um pecuarista, ou um frigorífico e passa a ser um grupo diante de uma grande empresa”, explica.

Qualidade - “Para o varejo europeu, o parceiro brasileiro ideal seria uma rede formada por um ‘clube’ de pecuaristas e frigoríficos visceralmente comprometido pelas exigências de qualidade e segurança sanitária completa. Carfantan também destaca que será uma aliança estratégica com o varejo europeu. “Nas negociações comerciais como OMC, União - Européia/Mercosul, o varejo se torna um aliado da pecuária brasileira na luta contra as barreiras protecionistas”, ressalta. Outro ganho da bovinocultura de corte brasileira, apontado por Carfantan, será a garantia de escoamento da produção minimizando os riscos e incertezas inerentes à própria pecuária, a obtenção de ganhos de eficiência, uma vez que o retorno recebido do mercado vai permitir orientar a sua produção, e ainda, a garantia de maior visibilidade do mercado global proporcionada pela relação com as principais empresas varejistas do mundo.

Gargalos - Segundo o especialista, as grandes empresas européias de varejo ainda hesitam em apostar numa parceria ambiciosa com fornecedores brasileiros porque sabem que a imagem da carne brasileira junto aos consumidores europeus não é sempre positiva. “Alguns supermercados ingleses ou italianos acabaram levando a sério as denunciações de ONGs radicais que acusam os exportadores brasileiros de carne de contribuir com o desflorestamento”, afirma. O que salva o país destes boicotes é o fato de no contexto atual o Brasil ser um dos poucos exportadores que pode fornecer carne de qualidade. “Se as principais entidades da pecuária brasileira montassem um dispositivo para identificar cadeias e parcerias pecuaristas-frigoríficos comprometidos com as exigências de preservação ambiental, tal dispositivo facilitaria a aproximação com o varejo europeu e contribuiria para reduzir a influência dessas ONGs radicais”, afirma Carfantan. Segundo ele, outro fator que leva os varejistas europeus a hesitar é a falta de confiança na capacidade da cadeia brasileira respeitar efetivamente todos os requisitos de segurança sanitária e qualidade exigidos pelos consumidores europeus. Porém, “as múltiplas experiências regionais que já existem no Brasil mostram que o país pode perfeitamente atender a demanda do mercado europeu. O que importa é transformar essas experiências limitadas em estratégia coletiva capaz de convencer os atores centrais do mercado europeu que são as empresas varejistas”, aposta. (Da Agência Meios)

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