CARNES I: Na crise, mercado interno de carne remunera melhor que exportações

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O varejo doméstico remunerou mais do que a exportação no segmento de carne bovina no primeiro semestre deste ano. A comparação entre os preços no período com iguais intervalos em anos anteriores indica que a margem das empresas na exportação foi afetada pela crise internacional, que derrubou a demanda e os preços.

Estudo - Um estudo feito por Leonardo Alencar, da Flow Corretora de Futuros, mostra que no primeiro semestre deste ano o preço na exportação ficou 1,4% abaixo do valor da carne negociada no varejo do país (ver gráfico ao lado). Os números consideram as cotações médias do produto, e os cálculos foram feitos em reais por arroba. O quadro pode variar dependendo do país de destino e dos cortes vendidos.

Primeiro semestre - No primeiro semestre de 2006, por exemplo, o preço da carne bovina no varejo doméstico estava em R$ 107,68 por arroba - na exportação alcançava R$ 135,66, um valor 26% superior. No primeiro semestre deste ano, ficou em R$ 167,22 na exportação e em R$ 169,53 no varejo doméstico. "Houve queda na demanda internacional e alguns importadores buscaram renegociar contratos por causa da crise global", observa Alencar, para explicar o comportamento das cotações.

Segundo semestre - No segundo semestre de 2008 - quando eclodiu a crise financeira - o comportamento tinha sido bem diferente, com os preços na exportação (em reais) 23,2% acima dos negociados no varejo doméstico. O motivo foi a valorização do dólar ante o real. Além de importadores fundamentais, como a Rússia, terem enfrentado restrições de crédito a partir de setembro, houve queda das compras de carne bovina do Brasil porque os países desovaram estoques no momento da crise.

Preços - O cenário de preços mais remuneradores para a carne bovina no mercado doméstico se deve principalmente ao desempenho das exportações, e tem menor relação com a demanda doméstica, ainda que esta siga estável. "O Brasil foi menos afetado pela crise [internacional] , e a percepção é de que a demanda se mantém estável no mercado interno", diz Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria.

Pressão - A pressão sobre as cotações internacionais poderia ser ainda maior do que a vista, mas a menor oferta de bois para abate no Brasil por causa do ajuste do ciclo de produção e a saída de frigoríficos em crise do mercado aliviou a queda.Alencar avalia que o mercado externo de carne deve voltar a remunerar mais que o doméstico. Não há muito espaço para altas no varejo, afirma, e o mercado internacional começa a dar sinais de recuperação, ainda que tímidos.

Cotações - Apesar de também ver sinais de melhora, Tito Rosa considera que "dificilmente" as cotações voltarão aos níveis registrados no ano passado. Em outubro, por exemplo, a cotação alcançou US$ 3.398 por tonelada - o maior valor desde 1999, segundo a Scot. Em junho, alcançou US$ 2.474 depois de ter batido US$ 2.167 em fevereiro. "Algumas economias começam a se recuperar". Tanto Alencar quanto Rosa observam, porém, que a retomada no exterior também vai depender de o Brasil conseguir ampliar vendas para mercados como o Chile e a União Europeia. (Valor Econômico)

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