CARNES II: Impasse em negociações com a Rússia
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O Brasil identificou mais dificuldades para elevar suas exportações à Rússia no contexto das discussões sobre a entrada daquele país na Organização Mundial do Comércio (OMC), em processo que foi retomado nesta segunda-feira (25/05) em Genebra.No caso do açúcar, Moscou fez uma negociação incompatível com as regras da OMC, com a aplicação de uma "banda de preços" que permitia elevações de sua tarifa de importação. A taxação sobre essa banda podia variar de US$ 140 a US$ 270 por tonelada. Agora, como está claro que o mecanismo é ilegal, a Rússia quer consolidar como compromisso na OMC a tarifa mais alta, de US$ 270/ tonelada.
Brasil - O Brasil, um dos principais exportadores mundiais, não aceita a taxação e está pressionando Moscou a baixá-la. Diante do endurecimento de posições, certas fontes na OMC questionam se os russos têm de fato interesse em entrar na entidade até o fim deste ano.
Carnes - Com relação a cotas para carnes, o principal negociador russo, Maxim Medvedkov, disse ao Valor que não há a menor hipótese de aumentar o volume de importação de carne suína brasileira para este ano, como vem pedindo o setor privado para recuperar o que perdeu para americanos e europeus. "Já está tudo resolvido para 2009, não vejo como atender o Brasil nesse aspecto", afirmou. Para 2010, os russos dizem que a preferência é manter cotas (restrição de volume), ao invés de só aplicar tarifas para proteger seus produtores.
Sistema de cartório - O chefe do Departamento Economico do Itamaraty, ministro Carlos Marcio Conzandey, cobra que, em caso de cota, que seja aberta a todos os países e não por país, como hoje, num sistema de cartório que garante exportação para produtores menos competitivos.
Pressões brasileiras - Medvedkov insistiu que não entende as pressões brasileiras, alegando que o país não preencheu sequer todos seus compromissos de exportação de carnes em 2004-2005. Lembrado de que a realidade é outra, deu de ombros e retrucou: "Nós, russos, temos a memória longa." Para Consandey, "nada está fechado enquanto tudo não estiver resolvido", sinalizando que um acordo final para a entrada da Rússia na OMC precisará acomodar demanda dos parceiros.
Estimativa - Enquanto resiste na OMC, a Rússia eleva a produção de suínos com subsídios e restrição à importação. Estima-se que a produção crescerá 4% em 2009. Analistas preveem que a produção alcançará 3,5 milhões de toneladas em 2012- 75% a mais do que a previsão de 2008.
Total - Os subsídios totais para a produção agrícola alcançaram 99,6 bilhoes de rublos (US$ 2,2 bilhões) em 2008, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). No momento, cerca de um terço de todas as grandes fazendas russas não são lucrativas, boa parte delas dedicada a pecuária. Pequenas fazendas não competitivas também já desapareceram do mercado.
Consumo - O consumo per capital de suínos deve cair este ano por causa da decisão do governo de limitar a importação do produto. O serviço veterinário russo tem um papel decisivo para frear importações. Desde junho de 2008, os russos barraram mais de cem estabelecimentos americanos e europeus de suínos por supostamente não preencher os padrões russos. Já a produção de carne bovina deve cair 3%, com rendimento negativo, baixa produtividade e ineficiência, levando à queda de 2% no rebanho.
Importação - A importação de carne vermelha foi de 1,6 milhão de toneladas em 2008, 12,3% a mais em volume comparado a 2007. Metade da carne bovina procedia do Brasil, seguido do Uruguai, Paraguai, Argentina e Austrália. A importação de suínos veio em 31% do Brasil, seguido dos Estados Unidos (20%), Canadá (13%) e Dinamarca (8,7%).
Preços - Os preços no varejo de carnes e frango aumentaram mais de 23% na Rússia em 2008, enquanto a alta media nos preços de alimentos ficou em 18%. O desenvolvimento na pecuária aumentou a demanda por proteínas, e as importações do complexo de soja explodiram. (Valor Econômico)