CLIMA: Restrição a dado faz país ter \"buraco\" climático
- Artigos em destaque na home: Nenhum
O Brasil tem um gigantesco buraco em seu histórico de dados meteorológicos, o que prejudica o estudo da mudança climática no país. A conseqüência mais imediata disso é que o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), que se reúne hoje (02/04) em Bruxelas, terá neste ano pela quarta vez um relatório concluído com acesso precário a informações brasileiras, sobretudo da Amazônia e do Nordeste. O problema se deve, em sua maior parte, ao atraso do Brasil em publicar dados meteorológicos do século 20, que estão arquivados com acesso restrito no Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), em Brasília.
Projeções Cientistas ouvidos pela Folha dizem que o buraco de dados nas séries históricas sobre o clima nacional é comparável ao da África subsaariana e deixa o Brasil atrás do Uruguai e da Argentina nos estudos sobre impacto e adaptação ao aquecimento global. Hoje só é possível fazer projeções razoáveis sobre Sudeste e Sul do país porque algumas instituições regionais publicam seus dados, mesmo não tendo os mais antigos.
Crítica - "O buraco é um escândalo", diz o físico Gylvan Meira Filho, do IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP. Ele atribui a falta de acesso à série histórica do Inmet a "uma visão um pouco cartorial de repartição pública", que já foi superada em outras instituições do governo, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Para o climatologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Carlos Nobre, existe mesmo "uma política de não-disponibilização" dos dados no país. "A comunidade científica brasileira não tem acesso a todos os registros climáticos e meteorológicos que existem no Brasil coletados por órgãos públicos."
Brasil - O Brasil tem hoje cerca de 320 estações meteorológicas (muitas delas novas) e cada uma pode medir até nove parâmetros: temperatura mínima, máxima e média, direção e força do vento, umidade, pressão atmosférica, chuva e radiação solar. Levando isso em conta, o preço do histórico meteorológico do Brasil inteiro no século 20 sairia por algo da ordem de alguns milhões de reais. Quando um pesquisador solicita dados, uma isenção de taxa pode ser negociada, mas funcionários do instituto encaminham o caso direto à direção. (Folha de São Paulo)