COMBUSTÍVEL: Efeito etanol vai afetar interior, bolsa e mercado de trabalho

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O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, desembarca nesta quinta-feira (08/03) em São Paulo com a proposta de usar a tecnologia brasileira para expandir o mercado de etanol. Este pode ser o primeiro passo para a produção brasileira do combustível deslanchar - e os brasileiros ganham com isso em pelo menos três frentes: o boom da economia do interior do país - principalmente no interior do Mato Grosso do Sul e no Triângulo Mineiro -; na bolsa de valores, onde o investidor comum poderá aplicar seu dinheiro em ações de empresas do setor; e no desenvolvimento de carreiras como engenharia química e biologia, usadas como mão-de-obra na produção do combustível. O G1 ouviu especialistas de cada uma dessas áreas para mostrar os efeitos do avanço do etanol. Acompanhe:

Cidades emergentes -  A chegada de uma usina de álcool em uma cidade ou região pode transformar a vida da população local. De acordo com a Unica, entidade que reúne os produtores de álcool e açúcar, 89 novas usinas serão construídas até 2012 – um investimento perto de cerca de US$ 15 bilhões. Espalhadas principalmente em regiões do interior do Mato Grosso do Sul e no Triângulo Mineiro, essas usinas tendem a virar o centro da economia das cidades que as receberão – que, em geral, são pequenas e sobrevivem da pecuária ou da agricultura de grãos. “A criação de gado é pouco produtiva, a cana traz muito mais riqueza”, afirma Jorge Horii, professor do Departamento de Alimentos, Nutrição e Agroindústria da Esalq (USP). A transformação acontece porque uma usina atrai uma série de outras pequenas indústrias, como a de equipamentos e peças, que são usadas na produção do álcool. A partir daí, a reação é em cadeia: tem mais emprego, as vagas atraem gente de fora, o comércio cresce, a cidade se expande. “A montagem de uma usina acaba movimentando não só o município, mas toda a região”, diz Horii. Em Naviraí, sudoeste do Mato Grosso do Sul, onde já funciona uma usina, a prefeitura de prepara para a chegada de novas indústrias de máquinas e equipamentos, e para um aumento significativo do número de moradores. Isso porque nos próximos dois anos o município de 50 mil habitantes terá sua capacidade de produção de álcool multiplicada por seis - graças à chegada de três novas usinas na região. “Já estamos negociando a vinda de um fabricante paranaense de equipamentos e, com o Estado, a construção de estradas, escolas e hospitais para acomodar toda essa gente”, diz o prefeito, Zelmo de Brida (PL). Processo parecido já aconteceu com algumas cidades do Triângulo Mineiro, como Campo Florido. Com pouco mais de 5 mil habitantes, foi só depois da chegada de uma usina de álcool, há cinco anos, que a cidade ganhou agência bancária, casa lotérica e hotel. De lá para cá, houve um crescimento de quase 30% na população. No médio prazo, uma transformação parecida pode acontecer perto dali, nas cidades de Frutal e Itapagibe. Em 2006, começou a funcionar nos arredores das cidades uma usina, e outras duas devem ser inauguradas até 2008. São R$ 200 milhões em investimentos por usina. “Da farmácia à sorveteria, tudo fica mais movimentado nas cidades”, diz Maurílio Biagi Filho, empresário do Grupo Moema, controlador das usinas. 

Profissionais do álcool - Outro efeito da economia do álcool é o surgimento de cursos e disciplinas em universidades que formam profissionais especializados para trabalhar em usinas, na indústria que se forma ao seu redor e no campo. Segundo Carlos Henrique Ataíde, diretor da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, algumas disciplinas que focam o processo de produção de açúcar e álcool foram incluídas no currículo do curso e começaram a ser oferecidas em 2006. “A cana está chegando aqui e nós temos que nos preparar. Por uma questão de agilidade na alteração na grade curricular, por enquanto, essas disciplinas são oferecidas como optativas”, explica. Os especialistas ouvidos pelo G1 apontaram as profissões que têm mais chances de crescer com o avanço do etanol. O maior impacto será nas carreiras dos engenheiros de produção, mecânicos e químicos. Boa parte das empresas que empregam neste setor são fabricantes de máquinas e equipamentos necessários para o processo de produção do combustível. A Dedini, maior fabricante de equipamentos e tecnologia para usinas de açúcar e destilarias, prevê aumento na contratação de engenheiros mecânicos, elétricos e químicos caso haja aquecimento no mercado. Segundo o vice-presidente executivo, Sergio Leme, será dada preferência para quem tiver especialização na área de fabricação de equipamentos para a indústria sucroalcooleira. Anualmente, a empresa já vem aumentado seu quadro de funcionários em 15%. "Isso pode crescer para 20%, 25% [caso haja investimento no setor]", avalia Leme. A Dedini possui quatro mil funcionários entre diretos e indiretos. Desses, cerca de 400 são de nível superior.

Do canavial para o pregão - Mesmo quem não mora em uma dessas regiões e nem pretende seguir nenhuma das carreiras relacionadas à produção de álcool, ainda tem como lucrar com o etanol: investir em ações. Os papéis de usinas ainda são novidade na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), mas, com a atenção voltada para o álcool, são considerados um dos mais promissoras por analistas. "As perspectivas não são boas, são magníficas. O Brasil está muito adiantado nesta questão do álcool, dominamos a tecnologia e com certeza essa valorização vai se refletir no mercado acionário", diz o operador da corretora Geração Futuro, Décio Pecequilo. Quem já aplicou seu dinheiro não se arrependeu. Só as ações da Cosan, a primeira usina brasileira a entrar na Bovespa, em novembro de 2005, subiram 149%, segundo a corretora SLW. Em maio do ano passado, a valorização chegou ao pico de 275%. Para comparar: no mesmo mês, a Bovespa subiu bem menos: 38,7%. Apesar de novatas, as ações de usinas se mostraram, até agora, resistentes aos altos e baixos do mercado financeiro. Lançadas em fevereiro - o mês de maior turbulência da Bovespa em quatro anos -, os papéis da usina São Martinho, uma das maiores produtoras de álcool do país, saíram ilesas. Desde o dia 12 de fevereiro, subiram 34,95%. Neste período, o resultado da bolsa paulista foi negativo em 1,8%. Em breve, quem estiver interessado em entrar na montanha russa do mercado financeiro terá mais uma opção. A Infinity BioEnergy, que vai investir R$ 1,7 bilhão no mercado brasileiro de álcool, que já tem papéis na bolsa de Londres, pretende lançar ações na Bovespa no segundo semestre deste ano, segundo seu presidente, Sérgio Thompson-Flores. A Infinity administra usinas em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo e deve aumentar sua produção de etanol em 200% até 2010. As perspectivas para o futuro são boas, mas vale lembrar: é preciso ter sangue-frio e coração forte, pois as ações devem se valorizar no longo prazo. No dia-a-dia, elas costumam ter altas e baixas, o que pode ser emoção demais para os investidores menos arrojados. (G1 Notícias)

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