COMÉRCIO BILATERAL: Reunião de ministros joga para empresários decisões sobre barreiras

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As negociações para remover as barreiras que impedem o comércio entre Brasil e Argentina serão direcionadas para a comissão de monitoramento do comércio bilateral e para os setores empresariais de ambos os países. A decisão foi tomada ontem pelos representantes dos governos brasileiro e argentino, após uma reunião na sede do Ministério das Relações Exteriores da Argentina, em Buenos Aires.

"Proveitosa" - Classificada como "proveitosa" e "frutífera" pelo secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, e pelo secretário de Relações Econômicas Internacionais da chancelaria argentina, Alfredo Chiaradia, a reunião terminou sem resoluções oficiais. Mas ambos os lados demonstraram disposição de ceder em suas reivindicações e baixar o nível de conflito alimentado pelos empresários, incomodados pela queda de mais de 45% do comércio entre os dois países nos últimos três meses.

Flexibilidade - Alfredo Chiaradia defendeu as barreiras às importações levantadas por seu país (que já atingem quase 15% das exportações brasileiras direcionadas ao vizinho), mas afirmou que a Argentina será "flexível". "Há interesse em buscar saída por parte dos empresários e do governo e sempre que existe a intenção de encontrar soluções para os problemas, há margem de retrocesso nas posições para chegar a um ponto de convergência." O ministro argentino não quis confirmar se essa "margem de retrocesso" significaria a suspensão das barreiras (licenciamento não-automático, processos antidumping e controle de preços) contra os produtos importados, levantadas recentemente.

Queixa - O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, negou que Brasil pretenda levar uma queixa contra as barreiras argentinas à Organização Mundial do Comércio (OMC). Já Pinheiro Guimarães reiterou a importância estratégica da Argentina e definiu a queda do comércio como resultado de uma "situação atípica", provocada pela crise financeira internacional.

Peso político - O governo brasileiro nitidamente procurou dar um peso mais político ao encontro, enviando para Buenos Aires uma delegação de cerca de dez funcionários, entre eles o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, além do vice-chanceler e outros sete funcionários do Itamaraty e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O papel do banco estatal brasileiro na reunião foi seguir com estudos para que o Brasil financie empresas exportadoras da Argentina. Mas não houve avanços nesse sentido nesta quinta-feira (12/03).

Troca de listas - Concretamente, houve uma troca de listas dos produtos considerados "sensíveis", que no entender dos governos e dos empresários precisam ser "protegidos" contra importados para não prejudicar a indústria local.A lista argentina continha 37 produtos dos setores eletrodomésticos, automotivo e autopeças, maquinaria agrícola, têxteis e confecções, metalurgia, materiais elétricos. São os produtos nos quais os argentinos apontam déficit na relação com o Brasil (importam mais que exportam ou, em alguns casos, nem exportam). A lista brasileira, por outro lado, era composta de farinha de trigo, leite em pó, milho, aerossóis, automóveis, têxteis, calçados, produtos metalúrgicos, vestuário, linha branca, couro e borracha, papel e celulose, móveis, ferramentas e metais. Ramalho disse que desses setores, alguns já se manifestaram favoráveis a negociar com empresários argentinos uma autolimitação de comércio por cotas: automóveis, têxteis, calçados, pneus, malas e artefatos de couro, papel e móveis.

Comissão de monitoramento - A comissão de monitoramento do comércio bilateral vai se reunir na próxima semana (dias 17 e 18, na cidade de São Paulo), previamente à visita oficial que a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, fará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcada para o dia 20 de março. Ambos vão se encontrar na capital paulista durante um encontro de empresários brasileiros e argentinos promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). (Valor Econômico)

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