COMÉRCIO EXTERIOR: Queda mais forte nas importações leva a superávit de US$ 4,6 bi
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O resultado da balança comercial brasileira em junho refletiu a desaceleração da atividade e surpreendeu com o superávit de US$ 4,6 bilhões - o terceiro maior resultado mensal da história. Esse saldo deve-se à queda mais acentuada das importações em relação às exportações. Puxadas principalmente pelos básicos, o desempenho das vendas ao exterior em junho também surpreendeu os economistas, pois trouxe uma melhora nas vendas externas de bens manufaturados em relação ao mês de maio.
Junho - Em junho houve redução de 38% no valor médio diário das importações na comparação com o mesmo mês do ano passado, um ritmo de queda mais intenso que e retração de 28,9% acumulada no semestre. Em junho, foram mais intensas as quedas na importação de bens de capital, bens de consumo e combustíveis.
Queda - As exportações mantiveram, em junho, queda de 22,2% , decréscimo idêntico ao acumulado no primeiro semestre. A expectativa dos economistas, porém, é de que os superávits não se mantenham em nível tão elevado. Para eles, a tendência para o segundo semestre é o crescimento das importações e das exportações em relação aos primeiros seis meses do ano. O crescimento das importações, porém, deve se dar de forma um pouco mais acentuada do que as vendas ao exterior.
Contenção - O economista André Sacconato, da Tendências Consultoria, lembra que a queda acentuada das importações em maio e junho reflete a contenção da demanda interna, mas deve ser relativizada. "A comparação com 2008 parte de um patamar muito elevado." Ele diz que, em valores, as importações de janeiro a junho de 2009 se equiparam às do primeiro semestre de 2007. "E em 2007 tivemos crescimento significativo nas importações", lembra Sacconato. Ele explica que o desempenho de junho fez a consultoria revisar suas expectativas em relação à balança comercial. O superávit estimado para o ano de 2009 foi elevado de US$ 21,8 bilhões para US$ 24,9 bilhões.
Básicos - Em relação a maio deste ano, as exportações tiveram aumento de 15%, fortemente impulsionada pela exportação de básicos, principalmente soja e minério de ferro. Os manufaturados também contribuíram para o desempenho, com elevação de 10% no mesmo período. O resultado chama a atenção dos economistas, após três quedas consecutivas na mesma base de comparação. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, acredita que as exportações de manufaturados estão em fase de recuperação, pois os US$ 5,7 bilhões de junho foram 32,6% maiores que o resultado de janeiro, o pior mês da balança comercial. Na comparação com junho de 2008, houve queda de 31%.
Preços futuros - José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra que a soja é comercializada com base em preços futuros, cuja tendência é de queda. Por isso, houve uma grande concentração de embarques no último mês. Castro diz que o Brasil exportou em junho 19,3 milhões de toneladas, 40% a mais que os 13,7 milhões de toneladas embarcados no mesmo mês do ano passado. "Provavelmente é um dos maiores embarques de soja que o Brasil já teve."
China - Tanto no caso de soja como no de minério de ferro, a demanda vem da China, com forte processo de estocagem desses produtos, analisa Fernanda Feil, da Rosenberg & Associados. Isso, diz, tem tornado a pauta brasileira de exportação mais dependente dos básicos e semimanufaturados. No primeiro semestre do ano passado, esses dois grupos representaram 49% do total das vendas ao exterior, segundo os dados da Secex. No mesmo período de 2009, essa participação já cresceu para 54%.
Segundo semestre - Para o segundo semestre, economistas preveem que a China encerrará as compras para reposição de estoques e passará a fazer apenas manutenção. Por isso, o crescimento das exportações em relação a janeiro a junho de 2009 será pequeno. Castro, da AEB, lembra que o Brasil já exportou 80% do volume de soja projetado para o ano.
Importações - As importações deverão apresentar um crescimento mais forte, na comparação com o primeiro semestre do ano, acredita o vice-presidente da AEB. Para ele, as importações de matérias-primas e bens de consumo ainda não estão se destacando em função da taxa de câmbio, que reduz o valor das compras. Além disso, alguns produtos, acredita, como adubos e fertilizantes, apresentaram uma importação muito tímida no primeiro semestre e devem se recuperar na segunda metade do ano.
Soma - A soma das exportações e importações do país (corrente de comércio), teve queda de 25,3% no primeiro semestre, comparada com o mesmo período do ano passado. Uma retração que levou Barral, a dizer que "2008 vai deixar saudades para todo o mundo". No mes passado as exportações foram de US$ 14,4 bilhões e as importações, US$ 9,8 bilhões, somando US$ 24,3 bilhões.
Primeiro semestre - No primeiro semestre, pela primeira vez para este período, a corrente de comércio do Brasil com a China superou o intercâmbio com os Estados Unidos, alcançando US$ 17,2 bilhões (US$ 17,1 bilhões com os EUA). O superávit acumulado no primeiro semestre, de US$ 13,9 bilhões, decorreu de US$ 69,9 bilhões em exportações e US$ 55,9 bilhões em importações.
Preocupação - Um sinal preocupante - apesar da leve recuperação em maio - é a diminuição de 30,6% nas vendas externas de manufaturados, produtos que estão com apenas 43,3% de participação na pauta brasileira de exportações. De janeiro a junho do ano passado, os manufaturados representavam 48,5% do total das vendas externas do país. As vendas de intermediários nos primeiros seis meses foram 26,9% menores que as do mesmo período de 2008, enquanto nos produtos básicos a redução foi de apenas 7,4%.
Destinos - Com relação aos destinos das exportações brasileiras, o primeiro semestre ainda teve quedas expressivas com os Estados Unidos (43,3%), Argentina (42,1%), Mercosul (40,3%), Europa Oriental (40,2%), América Latina e Caribe (37,3%) e União Europeia (27,2%). Os únicos destinos com crescimento das vendas externas foram China (42,3%) e Ásia (15,8%).
Dados oficiais - Segundo os dados oficiais, as exportações para a China foram de US$ 10,4 bilhões, de janeiro a junho, com destaque para soja em grão (US$ 4,36 bilhões), minério de ferro (US$ 3,51 bilhões), celulose (US$ 511 milhões) e petróleo (US$ 318 milhões). Barral salientou que, nesses seis meses, a Ásia foi o polo mais dinâmico para as exportações brasileiras. Os principais destinos das exportações, de janeiro a junho, foram China (US$ 10,4 bilhões), Estados Unidos (US$ 7,2 bilhões) e Argentina (US$ 4,9 bilhões). (Valor Econômico)