CRISE NO CAMPO: Falta de medidas pode prejudicar economia

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Por João Paulo Koslovski (*)

A perda de renda da agricultura brasileira, especialmente a partir de 2003, começa a apresentar reflexos diretos em toda a economia. O baixo crescimento do Produto Interno Bruto em 2005 (2,3%) foi fruto do inexpressivo desempenho da agropecuária. A participação do agronegócio no total das exportações brasileiras caiu de 40,4% em 2004 para 36,9% em 2005, (-3,5 pontos percentuais). Mas ainda não sentimos toda a intensidade dos reflexos dessa crise.


O cenário tem sido perverso para o setor: valorização em 39% do real frente ao dólar entre janeiro de 2003 a fevereiro de 2006; queda de 33% dos preços dos principais produtos no mesmo período; condições climáticas adversas que comprometeram cerca de 20% da produção das últimas 2 safras com perdas de dez milhões de toneladas de produtos só no Paraná. A somatória desses fatores negativos foi a perda do poder de troca da agricultura em relação aos fatores de produção, que atingiu 33,4%, entre 2003 e 2005.


A falta de políticas públicas de apoio à comercialização da produção primária, insuficiência de crédito rural a juros compatíveis e a inexistência de um seguro de renda da atividade primária completam um quadro dramático vivenciado por milhares de agricultores brasileiros, muitos em situação de total falência.


Não resta a menor dúvida de que os reflexos negativos expressos nos percentuais de crescimento do PIB e do setor nas exportações se agravarão no médio prazo se o Governo não implementar políticas públicas de amparo ao agronegócio neste período de dificuldades. O desemprego na agricultura já começa a se apresentar como o grande drama para as cidades do interior.


Mas, apesar do esforço que tem sido feito pelas instituições representativas do setor, pela comissão da agricultura da Câmara Federal e do Senado, e das manifestações dos próprios agricultores em defesa de medidas para minimizar a crise, o governo federal, principalmente o Ministério da Fazenda, tem se mantido irredutível na adoção das propostas do setor.


O que não dá para entender é a razão da demora na adoção de medidas que são imprescindíveis neste momento. Será que o governo deseja reduzir o plantio, enxugar os empregos no campo, exportar menos e, assim, inviabilizar o agricultor?


É preciso lembrar que nenhum setor da economia brasileira deu, nestes últimos anos, semelhante contribuição ao Brasil como o agronegócio. O maior superávit na balança comercial foi propiciado pelo agronegócio nos últimos anos; até 2004 a agricultura também foi a grande indutora pelo crescimento do PIB. Até quando os setores da economia brasileira poderão contar com políticas públicas anunciadas, regulamentadas, mas jamais cumpridas?


O exemplo mais claro está no não cumprimento da política de garantia de preço mínimo pois, sistematicamente, o governo não tem recursos para cumprir com essa sua responsabilidade. O mesmo podemos falar do seguro rural, anunciado sistematicamente pelo governo quando do lançamento dos planos de safra, mas que na prática tem se constituído na maior frustração do agricultor.


Neste momento de dificuldades o setor deseja, urgentemente, um programa de renegociação das dívidas rurais de forma que não se acumulem dívidas que já venceram ou estão vencendo. Disponibilização de recursos para amparar a comercialização da safra em fase de colheita é condição imprescindível para que o agricultor possa receber pelo menos o preço mínimo, evitando vender sua produção a preços extremamente aviltados. Também é preciso definir a política de implementação das culturas de inverno, já em fase de plantio em algumas regiões do Paraná.


No longo prazo torna-se fundamental a análise e busca de soluções definitivas para o endividamento. É preciso também estabelecer novos mecanismos de captação de recursos para o setor, já que o volume de recursos alocados ao setor tem sido insuficiente e a custos cada vez mais caros. Discutir e implementar uma política de renda mínima efetiva ao agricultor, acabando com a constante instabilidade vivida pelo setor.


A falta de políticas públicas para a agricultura vai causar, em primeiro lugar, grandes prejuízos aos agricultores. Mas os reflexos serão sentidos, em seguida e com grande intensidade, em todos os setores da economia. Aí sim, o governo provará o gosto de sua desatenção para com o setor primário da economia, que é a base da multiplicação do emprego e da produção de riqueza aos demais setores.

(*) Presidente do Sistema Ocepar - Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná

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